SECÇÃO: Especial

XVIII FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO

Todos os deuses contra

Foto URSULA ZANGGER

Fracasso sobretudo para os livreiros – os principais interessados –, que viram as suas vendas por um canudo, fracasso para o programa cultural da feira, que começou atribulada, enfim um fracasso menor para o programa de animação adjacente (os eventos que geralmente têm lugar no auditório ao ar livre).

Mas vamos por partes: Torna-se evidente que a situação de preocupação com o agravamento das condições de vida da gente mais pobre e remediada (não consta que as grandes fortunas estejam em desagregação) leva as pessoas a terem os maiores cuidados na hora de gastar o seu dinheiro. De facto, olhando a esplanada do café do parque urbano, na mesma época do ano, verifica-se agora uma muito menor afluência, não são pois só os livros que agora não se compram, isso parece claro.

Além deste sentimento geral de preocupação, que até poderia ser positivo, pois cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, verifica-se contudo também um abatimento geral, um alheamento, que se traduz num número muito menor de pessoas na rua, num número muito menor de pessoas a folhearem os livros, ainda que (sem gracejo) com o firme propósito de não os comprarem. Talvez por precaução, não vá o interesse despertar e fazer descarrilar o orçamento doméstico.

É certo que este início do mês de julho apareceu pouco estival e muito pouco dado à folia. Mas o vaguear do clima não será o mais importante deste cenário.

Quanto ao programa de eventos culturais, apresentações de livros e debates, a feira também não teve o melhor início.

O “Apontamento de Circunstância” de Krystal, Grupo Essência d’Oriente, da noite da estreia, pareceu pouco menos que gratuito, embora talvez pudesse ter sido pensado para acompanhar a declamação de excertos da “Ilíada” que Patrícia Lino deveria ter feito, mas que, em vez dela viria a ser entregue, como solução de substituição, a uma voz masculina, sem dúvida esforçada em fazer o seu melhor, mas que sem evitar um ou outro pequeno deslize, não pôde evitar uma interpretação frágil do precioso texto épico.

Prevista para o dia de abertura estava também a presença de Júlio Magalhães, um pivot da TV com livros publicados, o que por si garante sempre uma boa audiência. Nem isso foi suficiente para trazer à feira muito público. E Júlio Magalhães, por um motivo ou outro também não pôde aparecer.

A desolação mais completa e simbólica desta XVIII edição da Feira do Livro do Concelho de Valongo veio no segundo dia em que Luís Proença, autor de “Futebol: começar bem para chegar ao topo” se defrontou com um auditório completamente vazio.

“A Voz de Ermesinde”, responsável pela organização do evento seguinte, também não estará isenta de reparos, já que nem o pintor José Emídio, nem a escritora Maria José Meireles, anunciados para o evento, estiveram presentes. Diga-se, contudo que, até à hora em que escrevemos, e fora de qualquer preferência mesquinha em causa própria, este foi o EVENTO da Feira, com uma conferência de alto nível proferida por Maria Emília Traça sobre as Lendas e uma posterior oficina de pintura de Luísa Gonçalves, fascinante a explicar a obra exposta de José Emídio sobre o tema (exposição exilada no andar superior do Fórum), as suas técnicas e a escolha dos designers na hora de proceder à edição do livro e à sua ilustração.

Por: LC