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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 15-03-2011

    SECÇÃO: Arte Nona


    Em tempos de revolução ou de pérolas a porcos?

    «Greco-americano de segunda geração, Stephan Pastis nasceu e cresceu em San Marino, Califórnia. Tem um bacharelato em Ciência Política, pela Universidade da Califórnia, Berkeley, e uma licenciatura em Direito da Universidade da Califórnia, Los Angeles (...). Exerceu Direito durante nove anos na zona de San Francisco antes de se tornar cartoonista (...)», assim o apresenta a badana dos volumes de “Pérolas a Porcos”, compilação dos seus cartoons, que tem vindo a ser publicada em Portugal pela Editorial Bizâncio, desde 2004 até à actualidade (2010): “Pérolas a Porcos – Adoro Bacon” (1), “Pérolas a Porcos – Nem Tanto nem Tão Porco” (2), “Pérolas a Porcos – De Noite Todos os Porcos são Parcos” (3), “Pérolas a Porcos – A Ratvolução não Passará na Televisão”, “Pérolas a Porcos – Uma Zebra por Dia, Nem Sabes o Bem que te Fazia” (5), "Pérolas a Porcos - Os Sopratos" (6), "Pérolas a Porcos - Muito, Muito Machos" (7), e "Pérolas a Porcos - Pérolas de Sábado à Noite” (8).

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    Eleita a melhor tira cómica em 2003 e em 2006 pela National Cartoonist Society, “Pérolas a Porcos” é publicada em mais de 550 jornais em todo o mundo....

    A edição portuguesa da Bizâncio, a preto e branco, não permite reconstituir a saga com total acuidade, pois as tiras coloridas da edição de domingo não podem os leitores portugueses apreciá-las tais como o são ou próximas do original, mas há que dizê-lo, esta edição, revista por Sandra Pereira, conta com uma boa, mas muito boa tradução da responsabilidade de Jorge Lima, que permite conservar toda a carga de humor e de subversão que acompanha esta tira.

    Stephan Pastis cria aqui uma muito estilizada galeria de personagens animais, o porco, o rato, a zebra, o bode, o crocodilo e poucos mais.

    Curiosamente, estas personagens, se bem que construídas com uma personalidade distintiva própria, de humanos animalizados, têm como nome não mais do que a sua designação de espécie zoológica, sem qualquer outro nome a defini-lo.

    Embora apareçam outros porcos (Farina, Pigita), a personagem central é simplesmente Porco.

    Nestas personagens identificam-se o senso comum e bonomia e generosidade do Porco, o apagado herói da série, personagem positiva mas quase neutra, o seu companheiro – parece partilharem a mesma casa, como amigos (e mais nenhuma reção para além da amizade, entendamo-nos!), o Rato, egoísta, interesseiro, sem piedade, produto acabado da sociedade de consumo desumanizada (mas ainda assim são amigos ou pelo menos camaradas), a Zebra, o protótipo da ingenuidade acabada), e também esse personagem colectivo do Crocodilo ou família de Crocodilos, que tudo vai fazendo para poder devorar a Zebra à mais pequena oportunidade.

    Mas queríamos também chamar a atenção para uma personagem relativamente oculta mas que, ainda assim, é uma das mais impoertantes da série. Referimo-nos à própria tira “Pérolas a Porcos”, sobre a qual Stephan Pastis se debruça muitas vezes, num jogo pirandelliano de uma inexcedível graça.

    Outras tiras, de outros autores, também não escapam, com as desculpas do criador de “Pérolas a Porcos”, que ora lhes rouba um ou outro personagem, ora as cita.

    O próprio Stephan Pastis não fica de fora, pois é também transformado em personagem da série, de vez em quando.

    E cria-se assim um jogo entre fantasia e realidade, sabiamente administrado .

    Além disso, o universo das personagens criadas por Pastis tem o interesse adicional de ser o nosso próprio universo quotidiano e moderno, reflexo já das modernas tensões políticas internacionais e do nosso modo de vida consumista, competitivo e pouco solidário. O Rato exprime isto na perfeição.

    Não admira pois o sucesso da tira e a contínua atenção e galardões que suscita sobre si.

    Em época de revolução, o Rato que se cuide!

    Por: LC

     

     

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