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    Arquivo: Edição de 15-03-2011

    SECÇÃO: Destaque


    DIA INTERNACIONAL DA MULHER

    Autarcas – uma entrevista... no feminino

    São a maioria do executivo da Junta de Freguesia da nossa cidade e acreditam que mais mulheres deveriam estar presentes nos destinos políticos. Numa entrevista informal, Diva Ribeiro, Esmeralda Carvalho, Sónia Silva e Teresa Sousa Raposo falaram sobre a política da perspectiva feminina, só entre mulheres.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    “A Voz de Ermesinde” (AVE) - Em que aspecto se reflecte a maioria feminina na Junta de Freguesia de Ermesinde (JFE)?

    Esmeralda Carvalho (EC) - Nota-se a sensibilidade feminina. As mulheres vão mais ao pormenor, aos detalhes. Os homens não. Vão numa linha mais recta, vão directos ao assunto, sem rodeios. Num problema, por exemplo, um buraco que haja para tapar, um homem manda fazer isso e não se preocupa mais, enquanto que a mulher não, tenta perceber o que causou aquele buraco, se já provocou acidentes…vão mais ao pormenor.

    Diva Ribeiro (DR) - As mulheres demonstram um lado mais humano, que tentam trazer para o trabalho. Somos mais emotivas, temos maior capacidade de entender as emoções, de nos emocionarmos com as histórias. E isto tem as suas vantagens e desvantagens, claro.

    AVE - Houve um esforço para este executivo ter uma maior presença feminina?

    Teresa Raposo (TR) - Houve um impacto quando viram um executivo feminino e um esforço dos partidos para terem mais mulheres nas listas.

    DR - Da parte do meu partido (PS), houve um esforço para estarem mais mulheres nas listas e que pudessem ser eleitas.

    Sónia Silva (SS) - Acho que não se trata duma questão de sexos mas duma complementaridade entre mais velhos e mais novos, que pensam de maneiras diferentes e tentam chegar a um acordo com isso.

    AVE - Quais as diferenças que notam comparativamente a executivos com maioria masculina?

    EC - Quando estava em executivos masculinos, eu era normalmente a que tinha menos tempo na política. Já neste executivo sou a mulher com maior tempo de actividade política. E notei sempre que os homens me ouviam mais por ser a única mulher. Quando pedia para terminarem uma intervenção, terminavam, bem como não excediam o tempo permitido, sendo mais objectivos.

    AVE - Qual foi, na vossa opinião, a evolução das mulheres na política?

    EC - A mulher tem peso e tem de estar representada. Há mulheres que estão nas listas mas na hora de assumir, nunca estão disponíveis. Tentamos introduzir mais mulheres nos órgãos de soberania, mas quando são chamadas dizem que não podem.

    Sónia Silva
    Sónia Silva
    TR - Nota-se uma diferença. Ainda há outro passo para dar. Demoramos uns 10 a 15 anos para ter esta representatividade feminina na política. Talvez não demoremos tantos anos para ter mais mulheres na chefia política.

    DR - Elas participam mas não assumem. Como já disseram, há muitas que só estão nas listas de nome, mas não assumem outros papéis, não são interventivas. Há necessidade de equilibrar a liderança.

    SS - As mulheres precisam de ter voz activa, de intervir, de dar a sua opinião, que é importante. Muitas pensam que não é, mas todas as opiniões são importantes.

    EC - Até porque os homens, pela minha experiência na política, respeitam mais as mulheres e ouvem-nas mais. Se for uma mulher a dizer que já acabou o tempo e para terminarem, eles respeitam mais do que um homem.

    TR - Mas isso é próprio dos homens, quererem responder quando outro homem os manda calar…

    EC - E também há outra coisa que inibe as mulheres. Há homens que não aceitam que a mulher saia para a política.

    AVE - O apoio masculino é importante nesse aspecto?

    EC - Sim. Há homens que não aceitam isso, não aceitam que a mulher saia de casa para participar na vida política. Não aceitam que uma mulher tenha reuniões até à meia noite ou uma da manhã. Preferem ser eles a participar e elas a ficarem em casa.

    DR - A aceitação dos parceiros é importante. É necessário que entendam que uma mulher tem os mesmos direitos que eles de participar na vida cívica, com o que isso implica. Tem a ver com a conquista dos nossos direitos, da nossa igualdade.

    TR - E se ambos tiverem algo importante, é quase sempre a mulher que abdica da reunião e da sua participação para ficar com os filhos, por exemplo.

    DR - As mulheres ainda têm a gestão familiar muito a seu cargo, o que complica o acesso aos órgãos de chefia. E é preciso uma polivalência que as mulheres têm e os homens não. Os homens concentram-se só numa actividade mas as mulheres já conseguem fazer mais que uma coisa ao mesmo tempo.

    TR - É preciso ter autodisciplina para conseguir gerir a vida profissional, a actividade política, a vida familiar…

    Esmeralda Carvalho
    Esmeralda Carvalho
    AVE - A polivalência é, então, crucial?

    TR - É, porque se não fôssemos polivalentes não conseguiríamos gerir uma vida dupla, em que temos uma actividade profissional e uma actividade política.

    DR - Implica sempre uma boa gestão de tempo, porque temos uma actividade profissional na qual nos empenhamos e queremos progredir, mas também temos uma actividade política onde pretendemos ser activas.

    TR - E há outra coisa: uma mulher tenta fazer tudo sem prescindir de nada. Enquanto um homem se tiver de passar uma semana em que não vê os filhos porque quando chega já estão deitados, diz que tem de ser e aguenta. Mas uma mulher não. Não só porque os filhos estão mais ligados à mãe, mas porque uma mulher tenta sempre fazer algo para os ver, nem que seja ir levá-los ou ir buscá-los à escola.

    AVE - E qual é a situação da mulher na política em Ermesinde?

    DR - Começa a haver uma maior participação feminina, mas ainda há muito a fazer. As jovens assumem uma posição crítica, mas sem querer resolver nada, sem dar sugestões. As mais velhas têm, muitas vezes, uma mentalidade que não permite, porque acham que é uma coisa de homens ou que se o marido vai elas não precisam de ir.

    SS - Temos de saber puxar pelas mulheres para serem mais interventivas. Até porque acredito que muitas mulheres é que reparam nos problemas e dizem aos maridos. Depois eles vão para as assembleias e dizem aquilo como se fosse ideia deles.

    Teresa Raposo
    Teresa Raposo
    AVE- Acham que há muita gente que prefere, simplesmente, a crítica fácil?

    EC - Claro. Não somos todos iguais em lado nenhum e a política não é excepção. Não se deve criticar só porque sim e dizer que os políticos são todos iguais. O jogo do empurra para mim não chega. Passarem as responsabilidades para os políticos, para estarmos atentos e resolvermos tudo, só que não conseguimos ver os problemas que estão longe e aí os cidadãos devem intervir. Devem dizer-nos os problemas e sugerir soluções, porque todas as opiniões são importantes, não empurrar os problemas para os outros.

    DR - É o exemplo que temos, muitas vezes, da Assembleia da República, em que empurram os problemas em vez de resolver.

    AVE - Como é para o presidente estar rodeado de mulheres?

    EC - O presidente é bastante aberto e colabora connosco duma maneira agradável. É um homem novo, que tem outra maneira de ver as coisas e pede opinião antes de fazer.

    SS - Nós sugerimos-lhe, mas não o confrontamos, não impomos. E somos sempre consultadas como membros do executivo.

    DR - Eu estou na oposição, mas pretendemos fazer uma oposição construtiva. Não rejeito as ideias do presidente porque ele tem uma cor política diferente da minha. Tentamos ver outras opiniões e aceitar que se calhar aquela ideia em que nunca tinha pensado é boa e que podemos usá-la. Não é por a ideia não ser minha que a vou rejeitar ou criticar. Tem de se pensar no que é melhor para a cidade e não no que é melhor para mim.

    Diva Ribeiro
    Diva Ribeiro
    AVE - Em que áreas acham que as mulheres deveriam intervir mais?

    EC - Na área social e do ambiente, pela nossa sensibilidade e por, mesmo em casa, tentarmos ensinar mais às crianças esses valores.

    TR - Eu acrescentava a educação…

    DR - Eu concordo com o que disseram, não há muito mais a acrescentar. Mas sobretudo, deveríamos trabalhar em algo de que gostemos e que sintamos o apelo para aquilo.

    TR - Estes pelouros (Acção Social e Educação), na Câmara Municipal de Valongo, estão entregues a uma mulher, à Drª Trindade (do Vale).

    SS - E mesmo na área financeira, os homens bloqueiam. A sensibilidade feminina é essencial à gestão financeira. Se houver um orçamento de dez mil euros para obras, uma mulher é capaz de gastar cinco mil com essas obras e o resto noutras coisas, como a acção social.

    AVE - Qual foi o vosso objectivo pessoal quando vieram para a política?

    DR - Eu não vim com um objectivo pessoal para a política, vim pelas questões sociais. Dantes fazia voluntariado exactamente pelas mesmas questões. Não vejo a política como carreira, não tenho ambições políticas e até estar no executivo foi uma surpresa.

    SS - Eu vim para a política por convite da esposa do presidente da Junta de Freguesia. E também não vim para aqui com ambições políticas.

    AVE - E que dificuldades sentiram quando entraram na política?

    DR - Não é fácil falar em público. Para uma mulher ainda, mais porque temos a sensação de termos ainda mais atenções que um homem. Temos dificuldades de afirmação, de dizer o que pensamos porque temos muito mais dificuldade em lidar com as críticas.

    EC - As mulheres são muito mais críticas. E temos uma coisa que é terrível: enquanto os homens são companheiros e se ajudam uns aos outros, as mulheres não. Criticam-se umas às outras e acho que isso tem que mudar em nós. Uma mulher, numa situação destas, tem de estar segura daquilo que diz, exactamente por lidarmos pior com as críticas.

    SS - As mulheres devem convencer-se que não vale a pena ficar em casa a criticar. É uma responsabilidade poder fazer algo pela cidade e que compensa, mesmo que às vezes tenhamos de abdicar de algo.

    AVE - O que motivou essa entrada?

    DR- Integrei-me num partido para estar perto de quem decide e resolver as questões sociais, que me interessam, e poder expressar a minha opinião.

    foto
    EC - Eu sou já aqui uma raposa política: entrei na política por amor à camisola e porque achei que tinha de estar presente. Eu colaboro para melhorar a cidade e não por uma perspectiva pessoal. Tenho uma visão como a da Diva (Ribeiro), no sentido de poder ajudar e ser porta-voz. O nosso poder cívico é poder intervir e colaborar e fico feliz por isso.

    TR - No meu caso, vim para a política por uma questão familiar e de tradição. Estou nisto desde que sou gente e não me passa pela cabeça não ter vida política activa. Já não sei fazer doutra maneira porque vivi rodeada de políticos. Foi por isso e não por ter algum objectivo particular na política.

    AVE- E uma mensagem final?

    DR - Temos poucas mulheres no público, precisamos de mais.

    SS - E eu continuo a achar que há muitas mulheres que dizem o que está mal aos maridos e eles depois é que ficam com os louros.

    DR - Uma mulher não deve estar atrás dum grande homem, mas sim ao lado. Tanto que teremos um chá com a governadora civil do Porto como oradora, para atrair mais mulheres para a política.

    TR - Até porque falar de mulheres para mulheres é mais fácil.

    EC - Eu, para terminar, só quero dizer que ainda hei-de ver uma mulher como presidente da Câmara de Valongo… aliás, espero ver um executivo camarário feminino.

    Por: Sara Amaral

     

     

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