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    Arquivo: Edição de 30-01-2011

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    Factos desvendados na ESE apuram veracidade da vida e obra de Guerra Junqueiro

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    Factos contraditórios e tidos como verídicos sobre a vida e obra de Guerra Junqueiro foram conhecidos na tarde de 24 de Janeiro passado numa iniciativa cultural ministrada pela Escola Secundária de Ermesinde (ESE). Realizado no auditório deste estabelecimento de ensino, o evento inseriu-se na rubrica “Autor do Mês” que a ESE, numa articulação entre os grupos disciplinares e a sua biblioteca escolar, tem vindo a promover junto da sua comunidade estudantil.

    E para falar do poeta, nascido em 1850, na pacata localidade transmontana de Freixo de Espada à Cinta, ninguém mais apropriado do que o historiador e investigador Henrique Manuel S. Pereira, da Universidade Católica do Porto, a figura – a nível nacional – que melhor conhece a vida e obra de Junqueiro, segundo Júlia Correia, a professora da ESE responsável por este projecto.

    Uma conferência que serviu, entre outros aspectos, para que fosse reposta alguma verdade em torno da figura de Junqueiro, um notável homem das Letras que graças à frontalidade e ironia da sua escrita foi coleccionando ódios de estimação que ainda duram até aos dias de hoje.

    Ainda antes de Henrique Manuel S. Pereira dar início à sua conferência, um grupo de alunos – do 12º Ano – da ESE deu asas à criatividade para, no meio de uma “escuridão povoada de lanternas”, declamar “Oração à Luz”, um dos poemas mais populares de Guerra Junqueiro. Uma encenação que mereceu calorosos aplausos da bem composta plateia e rasgados elogios do orador convidado.

    Com uma invejável capacidade de comunicação – o que desde o primeiro instante prendeu a atenção dos inicialmente mais irrequietos alunos – o orador cedo tratou de desmentir alguns dos factos que giram em torno da figura de Junqueiro, como por exemplo o que diz respeito a este querer passar os derradeiros dias de sua vida em Lisboa para, desta forma, ficar mais perto do Mosteiro dos Jerónimos como forma de garantir um lugar no Panteão Nacional (que na época da morte de Guerra Junqueiro, em 1923, estava localizado nos Jerónimos), numa ideia de que o poeta se julgava superior e merecedor de ficar sepultado entre os ilustres do nosso país.

    Pois bem, na voz do historiador, a ida de Junqueiro para a capital surge numa altura em que este já se encontrava gravamente doente e assim pretender apenas passar os últimos dias de vida junto de sua filha, sendo que, aliás, a vontade do poeta seria a de ficar sepultado no Porto, cidade onde viveu durante vários anos. O que é certo é que, apesar da contestação de muitos – na altura, e ainda hoje – os restos mortais de Guerra Junqueiro repousam mesmo no Panteão Nacional.

    De facto, não deixa de ser curioso o porquê de tantos ódios de estimação em redor desta figura da literatura nacional ainda hoje persistirem, explicação que segundo o orador reside na figura frontal, deveras crítica e irónica que sempre caracterizou Junqueiro.

    Uma das suas obras mais polémicas, “A Velhice do Padre Eterno” (1885), é de uma dureza brutal para com a Igreja, um livro demolidor para com o clero, o que o levou a ser vivamente repudiado por esta classe, que o consideraria desde então como um anti-clerical, um jacobino. Uma imagem que se foi alastrando com o passar dos tempos, contudo sem razão de ser, «uma vez que Guerra Junqueiro sempre foi um homem de fé, um homem que sempre dizia o que pensava quando achava que algo estava errado, um homem com um sentido de ironia muito fino», sublinharia Henrique Manuel S. Pereira numa alusão clara de que, apesar de católico, Guerra Junqueiro não pactuava com algumas “políticas” que o clero ia levando a cabo naquela época.

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    Mas não só a Igreja se incompatibilizou com o polémico poeta, a classe política também ergueu ódios de estimação em seu redor, não lhe perdoando o facto de ele ser umas das vozes mais activas na propagação da República. Neste aspecto, e pelo facto de ser um republicano convicto, um novo e particular mal-entendido, ou boato, surgiu sobre a figura do poeta, o qual seria associado ao regicídio de 1908, o qual vitimou a família real portuguesa, muito por culpa da publicação do livro “Mataram o Rei”. «Esta foi mais uma mentira com o intuito de deitar abaixo Guerra Junqueiro, uma vez que este livro foi publicado muito antes do assassinato do Rei D. Carlos», corrigiu o orador.

    Contudo, nem só inimigos o poeta coleccionou durante e depois da sua existência, alguns admiradores e entusiastas da sua obra deram a cara, como se costuma dizer, entre eles outro grande ícone da literatura portuguesa, Fernando Pessoa, para quem “A Pátria” (outra obra emblemática de Junqueiro) foi o grande livro da História de Portugal, superando “Os Lusíadas” de Camões! «Exagero de Pessoa? Talvez sim, talvez não», deixou no ar a dúvida Henrique Manuel S. Pereira pouco antes de dar por concluída esta conferência.

    Por último, é de sublinhar que logo no dia seguinte a esta conferência o polivalente da Escola Secundária de Ermesinde e acolheu uma exposição intitulada “Guerra Junqueiro, de Freixo para o Mundo”, cedida pela Câmara Municipal da terra natal do grande escritor português.

    Por: Miguel Barros

     

     

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