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    Arquivo: Edição de 30-01-2011

    SECÇÃO: Destaque


    ELEIÇÕES PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA 2011

    Perda de mais de meio milhão de votos para 2006 não impede Cavaco Silva de ser reeleito muito distanciadamente logo à primeira volta

    Aníbal Cavaco Silva foi reeleito Presidente da República logo à primeira volta – tal como pretendia e contra os objectivos dos seus cinco adversários –, obtendo nas urnas 52,95% dos votos úteis (expurgada a abstenção e os votos brancos e nulos). A sua vitória é, porém, menos expressiva do se esperava de um Presidente submetido a sufrágio, correspondendo a apenas 49,67% dos votantes (isto é, se contássemos os brancos e nulos) e a 23,14% do eleitorado. E o seu prestígio sai também um pouco abalado.

    Manuel Alegre é o grande derrotado destas eleições, com quase menos 300 mil votos do que em 2006 e não conseguindo atingir sequer os 20% que então ultrapassara, ficando longe da soma aritmética PS + BE (e ainda + MRPP).

    Fernando Nobre, que concorreu sem apoios partidários conhecidos, obteve 14,10% dos votos, um resultado muito acima do que lhe atribuíam as primeiras sondagens.

    Francisco Lopes, embora menos votado do que Jerónimo de Sousa há cinco anos, manteve mais ou menos o eleitorado do PCP, embora perdendo 150 mil votos em relação ao voto no líder comunista nas anteriores eleições presidenciais.

    Grande surpresa foi a votação de José Manuel Coelho que, impedido de participar nos debates televisivos a dois, sem cartazes e sem panfletos, obteve ainda assim 4,5% dos votos considerados úteis, mas sobretudo 39,01% na Madeira, tendo derrotado Cavaco Silva nos concelhos de Funchal, Machico e Santa Cruz,o que é, sem dúvida, um aviso muito sério a Alberto João Jardim.

    Defensor Moura, completamente à parte numa campanha que fez solitariamente, ainda assim obteve 1,5%, com 20% no seu concelho de Viana do Castelo, onde só foi vencido por Cavaco Silva, e acabando aí por dobrar os votos de Alegre e Nobre.

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    Presidente em exercício, defensor dos valores mais conservadores e tradicionais da sociedade portuguesa, reconhecido como técnico abalizado em assuntos de natureza económica, tido como pessoa séria e capaz, apoiado pelo PSD e CDS (e ainda pelo MEP), beneficiário de um descontentamento alargado dirigido ao Governo, olhado com simpatia por ter “triunfado na vida” e ser oriundo de uma família da classe trabalhadora – o que é raro entre nós –, Cavaco Silva apresentava-se como um candidato imbatível, o que veio efectivamente a acontecer por números esmagadores sobre a candidatura mais forte entre as que se lhe opunham, a que apresentou Manuel Alegre.

    E, todavia, se a vitória de Cavaco é inquestionável face aos seus adversários, também é verdade que não deixa de ser questionável quanto ao conjunto da sociedade portuguesa, apenas tendo merecido 23,14% de apoio dos eleitores.

    Cavaco também não deve esquecer-se disso.

    Atente-se ainda no seu discurso de vitória, ferido, e inquisitorial. E no facto de não ter conseguido responder a acusações de favorecimento que são sérias, sobretudo se, em matéria de carácter, tiver que atirar a primeira pedra ao primeiro-ministro.

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    Quanto aos resultados do seu principal adversário, eles são a mais óbvia desilusão, Manuel Alegre nem sequer conseguiu alcançar a votação (mesmo em percentagem) obtida há cinco anos, quando PS, Bloco e até MRPP apoiaram um outro candidato contra ele, e todos diferentes (Mário Soares, Francisco Louçã e Garcia Pereira).

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    Se foi um êxito político conseguir congregar tal diversidade, realizando uma óbvia frente de esquerda contra Cavaco, o descrédito do Governo, da classe política em geral (que explica muito do voto em Fernando Nobre) e o facto de, reconhecidamente, Alegre não ter conseguido encontrar um fio de discurso coerente e interventivo face à realidade presente, tudo isso fez da sua tentativa uma caricatura da proposta de há cinco anos atrás.

    O protesto contra a classe política explica os muitos votos de Fernando Nobre, mas o final da sua campanha, sejamos claros, não o diferenciou em nada daquilo que dizia combater.

    Candidatura de partido, pouco há a dizer de Francisco Lopes, foi coerente com o projecto do PCP e aguentou o seu eleitorado.

    José Manuel Coelho, Tiririca ou Coluche à portuguesa, beneficiou desse descontentamento generalizado e, beneficiando de uma insólita, na nossa democracia, forma de fazer política, recorrendo ao humor e ao escárnio, acabou por fazer história.

    Por: LC

     

     

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