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    Arquivo: Edição de 10-12-2010

    SECÇÃO: Arte Nona


    Banda Desenhada – porquê “Nona Arte”?

    Usamos a designação “nona arte” para a Banda Desenhada, mas muita gente não saberá porquê. Deve-se tudo ao Manifesto das Sete Artes, do italiano Ricciotto Canudo, publicado em 1923.

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    Manifesto das Sete Artes

    O termo sétima arte para designar o Cinema foi dado por Ricciotto Canudo (1) no “Manifesto das Sete Artes”, em 1911 (publicado apenas em 1923). Essa referência é apenas indicativa, cada uma das artes é caracterizada pelos elementos básicos que formatam a sua linguagem e classificadas da seguinte forma:

    • 1ª Arte - Música (som);

    • 2ª Arte - Dança/Coreografia (movimento);

    • 3ª Arte - Pintura (cor);

    • 4ª Arte - Escultura (volume);

    • 5ª Arte - Teatro (representação);

    • 6ª Arte - Literatura (palavra);

    • 7ª Arte - Cinema (integra os elementos das artes anteriores mais a 8ª [ver abaixo] e no Cinema de Animação a 9ª).

    Há uma certa dúvida [sobre] se a ordem colocada estaria correcta, porém um maior número de pessoas concorda com a ordem encontrada, apenas [se] criando uma grande dúvida na posição do teatro e da literatura.

    Outras formas expressivas também consideradas artes foram posteriormente adicionadas ao manifesto:

    • 8ª Arte - Fotografia (imagem);

    • 9ª Arte - Banda Desenhada (cor, palavra, imagem);

    • 10ª Arte - Jogos de Computador e de Vídeo (alguns jogos integram elementos de todas as artes anteriores somadas à 11ª [ver a seguir], porém no mínimo integra as 1ª, 3ª, 4ª, 6ª, 9ª arte somadas à 11ª desde a Terceira Geração dos Videojogos);

    • 11ª Arte - Arte Digital (integra artes gráficas computorizadas 2D, 3D e programação).

    Banda Desenhada, BD, história aos quadradinhos ou história em quadradinhos, quadrinhos, gibi, HQ, comics, tebeos, historietas, fumetti, mangá, manhwa, etc... é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objectivo de narrar histórias dos mais variados géneros e estilos. [Estas] são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros, ou em tiras publicadas em revistas e jornais. Também é conhecida por arte sequencial, definição atribuida por Will Eisner (ver em “Dicionário Universal da Banda Desenhada - Pequeno Léxico Disléxico”, de Leonardo De Sá).

    A Banda Desenhada é portanto, chamada "Nona Arte", dando sequência à classificação de Ricciotto Canudo. O termo "arte sequencial" (traduzido do original sequential art), criado pelo autor norte-americano Will Eisner com o fim de definir «o arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia», é comummente utilizado para definir a linguagem usada nesta forma de representação. Uma fotonovela e um [trabalho] infográfico jornalístico também podem ser considerados formas de arte sequencial.

    A Banda Desenhada é conhecida por comics nos Estados Unidos, bande dessinée em França, fumetti na Itália, tebeos em Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba, mangás no Japão, manhwas na Coréia do Sul, manhuas na China e por outras várias designações pelo mundo fora.

    A minha intenção, com o post sobre o porquê de se chamar à Banda Desenhada a “nona arte”, era meramente elucidativo. No entanto, nos comentários que fez (...), o Álvaro, ao contestar a “classificação das artes” [no blog Kuentro], leva a coisa para outro plano. Mas ele não entende o contexto do “Manifesto das Sete Artes”, para isso bastava ler o texto de Ricciotto Canudo (que era crítico de cinema), para perceber que tudo aquilo tinha apenas a intenção de definir o cinema como a “sétima arte”, por isso nem sequer lá colocou a Fotografia (sem ela não haveria Cinema e até a própria Banda Desenhada é anterior à Fotografia) e fez desaparecer da classificação a Arquitectura. Se seguisse a lógica que começou a definir esta “classificação das artes”, em meados do século XIX, o Cinema seria a 9ª ou 10ª arte e não a detentora do “mágico” número 7. Claro que estas classificações não tinham qualquer intenção crítica, nem grande lógica. Canudo queria apenas que o Cinema fosse elevado ao estatuto de arte e não de mera indústria, como era (e ainda é) considerado.“Mas esta “fúria” classificativa das artes, no séc. XIX, tem a ver com a emergência do estatuto de artista, que sempre foi muito diluído ao longo dos tempos. Basta perceber que na Grécia antiga, as artes plásticas tinham, basicamente, duas funções: decorar a Arquitectura e pedir ou agradecer aos deuses. A Pintura e a Escultura eram executadas por artesãos, não por “artistas”. E a palavra “artesão” significava técnica, habilidade, uma espécie de conhecimento técnico e estava associado ao trabalho, à profissão. E a mesma palavra era utilizada para o trabalho na Olaria e na Joalharia. Além disso, muitas esculturas tinham finalidades meramente religiosas. Não eram vistas como obras de arte. Os relevos eram utilizados para decorar templos e altares com o objectivo de narrar mitos. O mesmo valia para as ânforas (jarras ou vasos), que poderiam trazer nas suas pinturas cenas mitológicas ou do quotidiano.

    Para os gregos antigos, a Música e a Poesia eram classificados noutra categoria de actividades, com uma definição mais próxima do que consideramos hoje em dia como arte. Tratava-se de actividades que não resultavam apenas de uma habilidade aprendida, mas de talento pessoal. “Aliás, tudo isto está muito melhor explicado no “Dicionário Universal da Banda Desenhada - Pequeno Léxico Disléxico”, de Leonardo De Sá, embora eu não concorde com algumas coisas que ele escreve na entrada sobre “Nona Arte”, nomeadamente no que os gregos antigos “pensavam” sobre estas coisas…“Mas por outro lado, o Álvaro está enganado quanto à definição do Erotismo como forma de arte. É preciso explicar, para não armar confusão, que o Erotismo/Pornografia é um tema transversal a todas as formas de arte e não é, ele próprio, uma forma de arte. “Quanto ao Design, aconselho o Álvaro a dizer aos discípulos de Bruno Munari que o Design é uma forma de arte e verá a roda que leva…

    (1) Ricciotto Canudo, [Gioia del Colle (Itália), 1877 – Paris, 10 de novembro de 1923] foi um teórico e crítico de cinema pertencente ao futurismo italiano. Estudou no “Instituto Tecnico Superiore de Bari”, onde se licenciou em Física e depois Línguas Orientais e Estudos Bíblicos, na Universidade de Florença.

    Por: Jorge Machado-Dias(*)

    (*) Publicado no blog Kuentro (http://kuentro.blogspot.com/).

     

     

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