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    Arquivo: Edição de 10-12-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Augusto Mendonça e Padre Avelino

    Pode parecer estranho que nesta rubrica evocativa do Centenário da República juntemos um republicano a um sacerdote. No entanto, após a leitura do presente artigo a surpresa inicial esvai-se completamente pois trata-se de uma conciliação quase perfeita entre religião e república o que permite concluir que quando a separação de campos é respeitada por ambas as partes a paz social é perfeitamente possível.

    Fábrica da Cerâmica de Ermesinde. Augusto César Mendonça foi um dos fundadores e o 1º sócio-gerente
    Fábrica da Cerâmica de Ermesinde. Augusto César Mendonça foi um dos fundadores e o 1º sócio-gerente
    Augusto César de Mendonça foi uma pessoa particularmente dinâmica que serviu Ermesinde e o Concelho de Valongo, de forma empenhada e séria, nas primeiras décadas do século XX.

    Prestigiado republicano, foi o 1º Presidente da Junta da Freguesia eleita no período da Primeira República. Tomou posse em dois de Janeiro de 1914, juntamente com os restantes membros do seu Executivo: António Ferreira da Silva Júnior (Vice-Presidente), José Ferreira do Vale, Augusto António da Silva e António Marques Ascensão (Vogais). O Secretário da Junta era então Joaquim Gomes da Costa.

    Exerceu estas funções apenas durante cerca de nove meses, porque em Setembro de 1914, Augusto César de Mendonça foi nomeado e empossado como principal autoridade do município, ocupando o importante cargo de Administrador do Concelho, passando a Presidente da Junta, António Ferreira da Silva Júnior, que era Vice-Presidente, e entrou em funções o Vogal substituto, Henrique Moreira Bessa.

    As suas qualidades de bom gestor revelaram-se bem no desempenho daqueles importantes cargos políticos, que exerceu com grande competência e dedicação, como era seu timbre.

    Mas o seu maior prestígio em Ermesinde vem sobretudo da sua ligação inevitável à Fábrica de Cerâmica de Ermesinde. Esta fábrica foi fundada em 1910, por dois homens de louvável iniciativa, um dos quais foi precisamente Augusto César de Mendonça que, dotado de excelentes capacidades de empreendedorismo, se tornou o gerente técnico da Empresa.

    No dizer de Humberto Beça, os capitalistas que financiaram o empreendimento industrial que marcou Ermesinde durante mais de setenta anos, só arrancaram com a empresa porque tinham o homem certo para administrar a Fábrica – Augusto César de Mendonça.

    O Padre Avelino Moutinho Moreira de Assunção serviu a Paróquia de Ermesinde ao longo de 42 anos. Foi o 2.º sacerdote que mais tempo permaneceu à frente da Paróquia (o 1.º tinha sido o Padre Manuel José Moutinho de Ascensão, certamente seu familiar ascendente, que esteve na Paróquia de S. Lourenço de Asmes, entre 1845 e 1898, data em que faleceu).

    O Padre Avelino assumiu a Paróquia de Ermesinde num período particularmente difícil para a Igreja, sobretudo pelas suas incómodas relações com o Estado - estava-se em 1914, com 3 anos de República, e Ermesinde tinha tido uma Associação Cultual, presidida por republicanos históricos, que, de certa forma, administravam o culto. Igreja e alfaias religiosas estavam, então, à responsabilidade da administração civil.

    As actas da Junta de Paróquia não deixam perceber que tenha existido entre os corpos administrativos da freguesia e o pároco qualquer tipo de conflito (o único momento em que o relacionamento se azedou com os elementos da Junta foi em 1940, aquando, da construção e inauguração do “Padrão dos Centenários”), pelo que é de supor que o Padre Avelino de Assunção se tivesse abstido de qualquer envolvimento político. Assim, dedicando-se apenas à religião e ao bem-fazer, teve a confiança dos republicanos.

    De resto, a acta da Junta de Freguesia de Ermesinde, de 5 de Fevereiro de 1918, prova um excelente relacionamento entre o Pároco e a Comissão Administrativa, nomeada pela administração sidonista, ao entregar ao Padre Avelino, a Direcção da Creche, criada logo a seguir à implantação da República por Amadeu Vilar e que a Junta de Freguesia tinha agora muitas dificuldades em manter. Ao Padre Avelino, com a condição de residir no edifício onde funcionava a Creche (que tinha sido a antiga residência paroquial), foi entregue a sua reorganização, que poderia fazer como bem entendesse, sem em troca receber qualquer remuneração e com a obrigação de guardar o arquivo da Junta, que se reunia no mesmo edifício.

    Começou bem o Padre Avelino e a sua longa permanência em Ermesinde permitiu-lhe uma profícua e relevante actividade, pelo que não é de estranhar, que, aquando da sua morte, ocorrida em 26 de Outubro de 1956, os seus paroquianos tenham sentido uma profunda saudade por quem tanto tempo os acompanhou na vida religiosa.

    Este virtuoso sacerdote nasceu em Silva Escura, no dia 22 de Abril de 1884, onde está sepultado no Cemitério local, tendo sido o seu funeral acompanhado por centenas de ermesindenses que, assim, lhe prestavam a sua última homenagem.

    O Padre Avelino Moutinho Moreira de Assunção, que, durante mais de quatro décadas, paroquiou com grande zelo e competência a freguesia de Ermesinde, gastou a sua vida em prol dos mais desfavorecidos, especialmente dos pobres e doentes e dos seus paroquianos, a quem serviu com extrema dedicação.

    Por isso, a Junta da Freguesia de Ermesinde reunida no dia 17 de Agosto de 1958, deliberou dar o seu nome a uma das Ruas de Ermesinde das proximidades da Igreja. A intervenção do Presidente da Junta, nesse sentido, foi a seguinte:

    «O P.e Avelino Moutinho Moreira de Assunção foi abade desta freguesia desde 12 de Novembro de 1914 até 26 de Outubro de 1956, data em que faleceu. Materialmente não nos deixou obras que sensivelmente assinalem a sua acção durante as quatro décadas que aqui viveu; mas espiritualmente foi vasto o seu trabalho. Encontrou, religiosamente, a freguesia desorganizada, devido à perseguição que nêstes tempos era feita à Igreja. Mas o seu esforço, a sua boa vontade, fizeram com que revivesse a fé cristã entre os seus paroquianos e fundasse em Ermesinde os vários organismos católicos que ainda hoje aqui existem. O Padre Avelino d’Assunção actuou de tal maneira que soube conquistar a simpatia dos elementos dos diversos sectores políticos que por êle mantinham sempre uma consideração apreciável, o que lhe permitiu, por isso, um apostolado de muita simpatia». Os restantes vogais aprovaram que se oficiasse à Câmara Municipal de Valongo, para que à artéria que converge com a Rua de S. Lourenço no Largo da Igreja e vai até à Rua Miguel Bombarda, no lugar da Ermida, fosse dado o nome de Padre Avelino de Assunção.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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