Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 10-10-2010

    SECÇÃO: Destaque


    JORNADAS PARA A INCLUSÃO – FEIRA QUEM É QUEM

    Olhar os mais velhos com outros olhos

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    A tarde do segundo dia das Jornadas para a Inclusão foi dedicada aos seniores, palavra esta cujo presente assume contornos de análise e atenção redobradas, a julgar pela crescente disparidade entre cidadãos de tenra idade e aqueles que na gíria popular são apelidados de idosos, com a balança a pender nitidamente para estes últimos. Por outras palavras, a população está cada vez mais envelhecida e acorrentado a este facto encontra-se o aumento do risco de exclusão social. Caminhos para eclipsar a última parte deste cenário têm sido desbravados nos últimos tempos por inúmeras entidades, caso do Instituto Superior de Serviço Social do Porto (ISSSP) que se fez representar neste evento por Joana Guedes.

    Intitulado de “Quotidianos Seniores” o painel contou ainda com a presença de Carlos Faria, presidente da Associação Ágorarte, mas seria precisamente a docente de Gerontologia do ISSSP a primeira a usar da palavra. E fê-lo dando a conhecer um pouco do trabalho que esta entidade tem levado a cabo no sentido de combater a exclusão social no seio da chamada terceira idade, ou por termos mais exactos quais os caminhos que têm sido percorridos – ou que deverão sê-lo – com vista à inclusão social da população sénior.

    Seniores que se debatem com o isolamento social cada vez mais cedo na sua etapa de vida, em consequência do afastamento das suas vidas profissionais. Perante a reforma o dilema sobre o que fazer daqui em diante paira nos seus horizontes, nasce uma clara dificuldade em organizar um projecto de vida, conforme salientou Joana Guedes. Sublinharia ainda dentro deste contexto que nem todos os recém-reformados estão preparados para viver a sua velhice, nem eles nem a própria sociedade em que vivemos, a qual assenta as suas bases no trabalho. Arredado da vida activa laboral o indivíduo é marginalizado, a actual sociedade não dispõe de um lugar para si.

    É então nesta altura que surgem questões da seguinte índole: Como redefinir a minha identidade? Como ultrapassar a inutilidade social? Perguntas para as quais entidades como o ISSP têm procurado encontrar um naipe de respostas num cenário onde a velhice é uma etapa cada vez mais longa. Respostas cujas metodologias aplicadas passam essencialmente – e numa ideia muito geral em relação ao que foi detalhadamente dito pela docente – por doar ao indivíduo papéis activos na sociedade, envolvê-lo em projectos e desta forma “aproveitar” não só a sua experiência e sabedoria mas também dotá-lo de novos conhecimentos. E quando se fala em conhecimento não nos estamos a referir a certas imagens que por vezes visionámos em lares ou centros de dia onde os idosos são chamados a participar em jogos de cariz infantil ou então a desempenhar funções em trabalhos manuais habitualmente levados a cabo em infantários. Além deste exemplo – dado por Joana Guedes – ser uma ridicularização do indivíduo este tipo de postura por parte de inúmeras instituições assinala um claro desperdício do conteúdo que o sénior pode ainda dar à sociedade. Como diria o ex-secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, «quando morre um velho desaparece uma biblioteca», uma frase lançada por Carlos Faria – durante a sua intervenção – que reflecte a necessidade que a sociedade tem em dar voz aos seus cidadãos mais velhos.

    O presidente da Ágorarte começaria por lembrar aos presentes na sala principal do Fórum Cultural de Ermesinde que naquele 1 de Outubro se assinalava, curiosamente, o Dia Internacional do Idoso. Em seguida daria conta do orgulho e satisfação enorme que neste momento a Ágorarte sente em torno da “menina dos seus olhos”, o mesmo é dizer a sua recém-criada Universidade Sénior. Sublinhando a ideia de que Portugal é hoje um país que envelhece de dia para dia, Carlos Faria apoiar-se-ia em dados concretos para lembrar – entre outros factos – que a idade média do nosso país continua a avançar um ano em cada cinco, um cenário que faz com que em 2060 a proporção populacional seja de um jovem para três idosos! Este crescente desequilíbrio entre jovens e idosos faz com que seja então necessário repensar o papel do individuo sénior numa sociedade que deve existir para todas as idades, como aliás defendem as Nações Unidas. Combater a exclusão social é pois um dever de todo o cidadão, conforme sublinhou o dirigente da Ágorarte, e nesse aspecto as Universidades Seniores têm tido um papel deveras importante.

    Por: Miguel Barros

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].