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    Arquivo: Edição de 30-09-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    A proclamação da República no concelho de Valongo

    Está aí o 1º centenário do 5 de Outubro. Na edição de hoje vamos ver como foi proclamada a República na sede do concelho e em algumas das suas freguesias. O protagonismo de Ermesinde é notório e isso ficou a dever-se, em grande medida, às personalidades republicanas que aqui residiam.

    Antigo edíficio dos Paços do Concelho
    Antigo edíficio dos Paços do Concelho
    De acordo com a respectiva acta, a proclamação da República em Valongo fez-se no dia 10 de Outubro, na presença da antiga vereação, composta pelas seguintes pessoas: António Mendes Moreira (Presidente), João Marques Nogueira Pombo, Monsenhor Paulo António Antunes, José Joaquim Ribeiro Teles e Feliciano Ferreira da Rocha (vereadores efectivos), Manuel da Silva Baltazar Brites, Augusto Sobral Serafim Pereira dos Santos, António Caetano Alves Pereira e António de Castro Moutinho Neves (vereadores substitutos), o Dr. Joaquim da Maia Aguiar (Administrador do Concelho) e muitos outros cidadãos da vila e freguesias rurais do concelho (tendo assinado a acta 103 pessoas).

    Tomando a palavra o Presidente disse: «Tendo sido implantada pelo exército e pelo povo da Capital, a Republica Portuguesa e abolidas as instituições monárquicas, a este município compete também pronunciar-se sobre tão glorioso acontecimento de que se esperam resultados úteis e profícuos para o progresso e prosperidade da pátria.

    Que a implantação da República e a constituição do Governo provisório, são factos positivos e já oficialmente reconhecidos pelas cidades de Lisboa, Porto e quase todas as terras importantes do país.

    Que não pode Vallongo deixar de aderir também ao novo regime, que, estamos convencidos, é para bem de todos os portugueses e vem marcar uma nova e luminosa era de regeneração e de prosperidade para a pátria.

    Que em nome, deste município, congratula-se com o notável acontecimento há-de ficar registado em letras de ouro das páginas da história pátria e declara solenemente proclamada a Republica Portuguesa.

    Estas palavras foram acolhidas entusiasticamente por toda a assembleia de cidadãos e funcionários públicos que se achavam presentes, levantando-se vivas à pátria, à Republica Portuguesa, ao Governo provisório, ao exército, etc.».

    Pelo administrador Dr. Joaquim da Maia Aguiar foi «feita uma apologia calorosa e entusiástica do novo regime republicano que tinha de ser implantado e unamimente, digo, unanimemente proclamado, fazendo o confronto das instituições republicanas tendentes ao progresso, à prosperidade da gloriosa pátria portuguesa que se há-de ressurgir de novo e florescer como outrora, com as instituições monárquicas que ruíram pela imoralidade, corrupção e má administração dos negócios públicos. – Enalteceu as qualidades dos dirigentes da Republica Portuguesa e levantou vivas â Pátria, à Republica Portuguesa, ao concelho de Vallongo, etc. que foram calorosamente correspondidos».

    No dia seguinte, 11 de Outubro de 1910, é que reuniu pela 1.ª vez a Comissão Municipal Republicana de Valongo, nomeada pelo Governador Civil, depois de lhe terem sido indicados os nomes pelo administrador Dr. Joaquim da Maia Aguiar, que acumulou também a presidência dessa Comissão.   

    Assim, a 1.ª Comissão Municipal Republicana teve a seguinte constituição: Dr. Joaquim Maia Aguiar (Presidente da Comissão Municipal Republicana de Valongo e Administrador); Luís Augusto Marques Sousa (Vice-Presidente); Vicente Moutinho de Ascensão, Jacinto Fernandes de Oliveira e Augusto Dias Marques de Oliveira (Vogais).

    Dos cinco elementos, três são de Ermesinde: Presidente e Administrador, Vice-Presidente e primeiro vogal.

    Em Ermesinde a República foi proclamada no dia 27 de Outubro e teve de ser o monárquico Monsenhor Paulo António Antunes (também vereador da Câmara de Valongo até ao dia 10 de Outubro) a dar posse da Junta de Paróquia à nova Administração Republicana que era constituída pelos seguintes cidadãos: Amadeu Ferreira Sousa Vilar (que também era o Regedor), José Rebelo Pinto dos Santos, José Maria Ferreira de Matos e Vítor José de Araújo e Sá. Segundo a acta da Junta da Freguesia, de 27 de Outubro de 1910 (fl. 19), na ocasião Paulo Antunes afirmou que se congratulava com a nomeação da referida Comissão, a quem muito considerava e que pela sua parte acompanhava o novo regime republicano.

    Em Alfena, quando foi proclamada a República, o Pároco e Presidente da Junta de Paróquia era Manuel Martins de Castro Ferreira (natural de S. Pedro da Cova), coadjuvado por Manuel Vieira de Leite. O 1.º Presidente da Comissão Municipal Republicana foi Manuel André Moreira Júnior (desde 4 de Novembro de 1910; em 9 de Abril de 1911 sucedeu-lhe Carlos dos Santos Almeida).

    Na freguesia de Valongo foi o Abade Guilherme Gonçalves Branco, Presidente da Junta, que no dia 28 de Outubro, com João de Sousa Fernandes Luz, secretário da mesma, conferiu posse à nova Comissão Republicana de que faziam parte: José Francisco Pereira (Presidente), Vicente Duarte Dias, José Moreira Marques, Manuel Romeiro Alves do Vale e Adolfo de Sousa Paupério (vogais efectivos), nomeados pelo Governador Civil do Porto e confirmado pelo Administrador e Presidente da Autoridade Civil do concelho Dr. Joaquim Maia Aguiar que também esteve presente bem como o Regedor interino da vila, Belmiro Martins Castro.

    Na freguesia de Sobrado, foi recebido, no dia 28 de Outubro de 1910, um ofício do Administrador do Concelho, a comunicar os nomes dos elementos da Comissão Municipal Republicana que seriam empossados no Domingo seguinte, dia 30 de Outubro, na casa de sessões da Junta. Em 24 de Março de 1911 o Administrador do concelho comunicou à Comissão deste freguesia (e, certamente, a todas as outras do concelho) que as verbas até agora dirigidas ao culto seriam destinadas de hora avante para a instalação de Bibliotecas Populares.

    Na freguesia de Campo a transferência de poderes também se deu no dia 30 de Outubro de 1910. Compareceram os cidadãos: Dr. Joaquim Maia Aguiar, Administrador e Presidente da Autoridade Civil do Concelho; José de Sousa Magalhães, Abade Presidente da Junta de Paróquia cessante; Amaro Martins da Rocha, José Jorge da Costa, António Dias da Silva, José de Sousa Dias e Francisco Aires Baptista, como membros nomeados para Comissão Paroquial Republicana da freguesia.

    Curiosa é a postura, bem republicana do pároco da freguesia, que no acto de posse, fez a seguinte intervenção: «que não causasse repugnancia a membro algum o ser nomeado para uma commissão republicana, porquanto a Republica é a mais bella e a mais perfeita de todas as formas de Governo, e a que mais nivela os direitos do homem. Que com a Republica o chefe da nação não precisava de nascer em berços doirados, mas sim de se destacar entre os seus concidadãos pela nobreza dos seus actos por forma a chamar para elles a attenção do povo; que podia ser o infimo dos cidadãos pelo berço, e vir a ser o primeiro notabilisando-se pelos seus actos. Que a Republica podia ser um passo agigantado para a grandeza do nosso paiz. Que os Estados da America são todos republicanos e o seu progresso é bem sensivel. Que depois que no Brazil se implantou a Republica, elle tem feito a admiração de todos os povos cultos. Que era certo que o governo da Republica ha de ser feito por homens, e que em todos os homens ha defeitos, porque perfeito é Deus; mas que na Republica todos nós temos mais facilidade de escolher os menos defeituosos. Por isso que nos não preocupemos com o nome e que façamos porque Portugal, á sombra da bandeira da Republica, progrida e progrida muito».

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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