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    Arquivo: Edição de 30-07-2010

    SECÇÃO: Arte Nona


    A América emudeceu (Harvey Pekar, 1939 - 2010)

    Poeta do quotidiano, ele trouxe à Banda Desenhada uma vaga de frescura e modernidade, ao optar pela ruptura em relação aos modelos dos heróis estereotipados do mundo dos comics, contrariando num movimento de contra-corrente a poderosa mainstream, e podendo comparar-se a sua obra fracturante, na BD, àquilo que constitui, por exemplo, na Poesia, a obra dos poetas da Beat Generation Lawrence Ferlingheti, Alan Ginsberg, Jack Kerouac....

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    Falamos de Harvey Pekar, desaparecido recentemente, a 12 de Julho de 2010, com 70 anos. Encontrado morto no chão da sua casa, em Cleveland, pela companheira, as causas da morte poderão relacionar-se com o cancro contra o qual muito teve de lutar e que constituiu também tema da sua obra. Dissidente, embora, de modo algum a sua obra se orientou por uma perspectiva underground, muito embora tenha recorrido para desenhar episódios de “American Splendor”, como ironicamente chamou à sua saga em BD, a vários autores conhecidos pela sua perspectiva underground, o mais conhecido dos quais e com certeza, não inocentemente, o primeiro a isso convidado, ter sido o seu amigo Robert Crumb. Se afrontou o establishment – e achamos que sim – fê-lo com uma subtileza e uma delicadeza incomparáveis. Harvey Pekar tinha um tema preferido: Harvey Pekar. E todavia, nada de mais errado se virmos nisso motivos de egocentrismo ou de auto-estima excessiva. Pelo contrário, a obra de Pekar consiste precisamente em fazer do banal e quotidiano na sua própria vida e na dos que lhe estão perto, motivo de atenção (chacota ou simplesmente relato).

    HARVEY PEKAR

    REFERIDO

    EM “A VOZ DE ERMESINDE”

    Em 30 de Outubro, de 2007, nessa mesma rubrica, já lhe tínhamos dedicado um texto, “O esplendor da América”, cuja abertura rezava assim:

    «Harvey Pekar é um desajeitado a desenhar. Mas, simultaneamente, é o autor de uma das mais celebradas sagas da Banda Desenhada norte-americana e mundial. Ao invés de produzir mirabolantes histórias de super-heróis afadigados a salvar o mundo, Pekar dá-nos a conhecer as misérias de si próprio, no quotidiano mais realista e banal. Foi a isso mesmo que ele chamou “American Splendor”, uma ironia fina sobre o modo de vida do americano médio, chamemos-lhe assim. Não sabendo desenhar, Pekar pediu a vários desenhadores para darem vida às suas histórias. O primeiro foi um dos mais importantes artistas underground, Robert Crumb, e seguiram-se muitos mais, pela saga fora. O sucesso da obra de Pekar acabou mesmo por levá-lo ao Cinema e a ele, a mergulhar ainda mais fundo nas histórias da sua própria vida, como o álbum que dedicou à luta contra o seu próprio cancro. Mas também a falar, como neste “Another Day”, de que aqui vamos abordar, sobre temas tais como: por onde andará a gata, o problema no autoclismo, a chegada a casa tarde e a más horas da sua filha, etc., etc.. Mas Pekar fala também de política, como quando se insurge contra o centralismo do Estado».

    Esta referência ao centralismo de Estado, fê-la Pekar, numa das suas breves incursões pelos temas abertamente políticos em “American Splendor”, ao falar da sua Cleveland, no Estado de Ohio, e nas formas de gestão da vida pública. Mas em geral, é de facto, ao nível do quotidiano mais individual, tomado como pretexto, que a sua obra se desenvolve.

    Reconhecida como notável, “American Splendor” (que se desenvolveu desde 1976 até 2008, em 39 episódios, editados numa primeira fase pelo próprio Pekar, depois pela Dark Horse e, finalmente pela DC Comics) foi adaptada ao Teatro (1987, 1990, encenações respectivamente, de James C. Nicola e Vince Waldron) e ao Cinema (2003, por Shari Springer Berman/Robert Pulcini), em ambos os casos com razoável sucesso. O filme passou no Festival de Sundance e viu o argumento premiado pelos críticos norte-americanos.

    Entre os desenhadores que contribuíram para “American Splendor” contam-se, além de Robert Crumb, Alison Bechdel, Brian Bram, Chester Brown, Alan Moore, David Collier, Gary Dumm, Frank Stack, Drew Friedman, Dean Haspiel, Val Mayerik, Josh Neufeld, Spain Rodriguez, Joe Sacco, Gerry Shamray, Jim Woodring, Joe Zabel, Ed Piskor, and Greg Budgett, Ty Templeton, Richard Corben, Hunt Emerson, Eddie Campbell, Gilbert Hernandez, Ho Che Anderson e Rick Geary.

    Por: LC

     

     

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