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    Arquivo: Edição de 30-07-2010

    SECÇÃO: Tecnologias


    A Lei de Linus

    A Lei de Linus (Linus's Law) é uma lei epigramática formulada pelo hacker Eric S. Raymond. O enunciado dela é o seguinte: “Dados olhos suficientes, todos os erros são triviais” (Given enough eyeballs, all bugs are shallow).

    A frase possui relação com o modo de funcionamento da base do código aberto (open source) e da internet, em que com um grande número de colaboradores ("olhos"), qualquer problema num sistema pode ser detectado e corrigido. Na proporção em que os colaboradores aumentam, a facilidade com que as correcções são feitas também aumenta, ou seja, o número de colaboradores é directamente proporcional à facilidade de detecção e correcção do erro.

    Surgimento e uso

    – Eric S. Raymond

    O adágio foi publicado por Eric S. Raymond — um famoso hacker e ícone no movimento do código aberto e do software livre – no seu ensaio “A Catedral e o Bazar”, descrito no capítulo 10 ("O Contexto Social do Código Aberto"). O nome da lei é uma alusão ao finlandês Linus Torvalds, criador do sistema operativo Linux, de software livre.

    De certa forma, podemos dizer que tal lei possui semelhança com o ditado popular “O olho do dono engorda o boi”.

    Os conceitos expressos pela Lei de Linus são tão universais que a lei tem sido constantemente usada fora do contexto puramente informático. Um exemplo é a Wikipédia, que segue um modelo baseado na lei de Linus, já que, podendo ser editada por qualquer pessoa, muitos erros podem ser gerados, mas se houver um grande número de colaboradores para cuidar dos erros, eles podem ser facilmente contornados. Isso é bem conhecido pelos administradores (ou sysops) de cada Wikipédia, que cuidam da manutenção do projecto.

    Larry Sanger, co-fundador da Wikipédia, afirmou certa vez, sobre o facto de que qualquer pessoa pode criar e editar artigos na Wikipédia, que «dados olhos suficientes, todos os erros são triviais», numa alusão directa à lei de Linus.

    Tom Arriola, o desenvolvedor do Crime Scene (Cena do Crime), um site que dá aos seus milhares de membros a tarefa de resolver colectivamente mistérios de assassinatos fictícios, chamou de “efeito ocular” uma versão que postulou da Lei de Linus: «Quanto mais olhos vêem algo, mais provável é que alguém veja alguma coisa que ninguém viu antes» [1].

    A ética hacker

    – Linus Torvalds

    A noção do próprio Linus sobre a lei foi usada em conjunto com as definições filosóficas do hacker activo, registada no prólogo do livro “A Ética Hacker” [2].

    De acordo com essa definição, a actividade que pressiona os humanos pode ser dividida em três categorias. O avanço bem-sucedido de uma fase para outra determina o processo de evolução. Estas três categorias são, por ordem: a sobrevivência, a vida social e o entretenimento.

    A sobrevivência é a base da própria existência. É portanto um factor de motivação, mas num sistema sócio-económico bem desenvolvido, não passa por uma preocupação quotidiana.

    A vida social é um factor de motivação muito forte. Em muitos casos, é dada maior consideração aos laços sociais do que à própria pessoa. São tarefas semelhantes aos conceitos de “morrer pela sua família/pela religião/pelo país”.

    O entretenimento é a última das três categorias. Esse “entretenimento” não está relacionado com acções como jogar jogos electrónicos ou ver televisão, mas fazer algo interessante e estimulante, um estímulo positivo para a base das nossas acções. Linus Torvalds descreveu assim esta última fase: «É a ginástica mental necessária na tentativa de explicar o universo».

    Pode-se observar como estas três categorias aderem às cinco necessidades da conhecida Hierarquia de Necessidades de Maslow: fisiologia, segurança, amor/relacionamento, estima e realização pessoal, amplamente conhecidas no terreno da Administração.

    Concluindo, o hacker, portanto, precisará de fazer uso do computador para que sobreviva. O computador passa a ser o principal meio de obter relações sociais, mas acima de tudo, entretenimento. O desenvolvimento de um sistema open source é realizado mais por causa da paixão dos desenvolvedores no seu próprio projecto, e não por objectivos sobretudo comerciais.

    Críticas

    Alguns estudos contestaram a Lei de Linus, citando o número relativamente pequeno de contribuições feitas para projectos open source por pessoas “de fora”, isto é, pessoas que não pertencem a um pequeno grupo principal de colaboradores[3]. Isso é, em grande parte, o resultado do investimento necessário que os colaboradores precisam realizar para manter positivamente os ajustes na interface do utilizador e entender um pouco do código antes que possam efectivamente contribuir para o mesmo.

    Alguns projectos também não confiam em contribuições externas, temendo que eles possam criar defeitos difíceis de serem encontrados ou brechas na segurança, e assim esses projectos criam um inconveniente processo de revisão que pode prejudicar o desenvolvimento externo.

    Os defensores do código aberto argumentam, no entanto, que existem maneiras de minimizar estes problemas e de facilitar a integração de colaboradores externos. Seguindo práticas efectivas de engenharia de software, é possível produzir um código de fácil manutenção. Os exemplos podem incluir o uso de componentes modulares com acoplamento frouxo, ou um bom conjunto de testes para a verificação das contribuições externas, ou uma simples estratégia de desenvolvimento suportada por ferramentas como o autoconf.

    Também é considerada uma ajuda importante ter uma boa documentação, incluindo tanto uma visão geral quanto descrições detalhadas da interface, opcionalmente suportadas por ferramentas como o Javadoc e ferramentas de visualização de código. Porém nem todos os projectos open source implementam tais medidas.

    Outro argumento contra o código aberto é o de que falhas de segurança podem ser facilmente encontradas pelo exame do código fonte, destruindo efectivamente qualquer segurança por obscuridade (security through obscurity). Outros dizem que isso é um ponto forte: significa que não apenas utilizadores maliciosos, mas também desenvolvedores externos e utilizadores legítimos, podem encontrar tal falha de segurança mais facilmente e diagnosticar ataques mais rapidamente. Por serem expostos rapidamente e para mais pessoas, os problemas de segurança podem ser consertados antes que a aplicação esteja completamente desenvolvida e eles se tornem um problema mais sério.

    [1] Terdiman, Daniel (2005-02-14), “Brute Force for Brain Teasers”

    [2] Himanen, Pekka; Linus Torvalds, Manuel Castells (2001-01-30), “The Hacker Ethic”, Random House.

    [3] Obasanjo, Dare (2002), “The Myth of Open Source Security Revisited”.

    Wikipedia

     

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