Por vezes a nossa memória é curta
Em tempos de crise económica é natural que ao revermos o passado nos venham à memória apenas alguns aspectos que nos parecem positivos e esquecemos todo o contexto em que os factos se desenvolveram. Falar em estabilidade económica sem analisar a sua origem pode ser enganoso e neste momento é fácil aceitar resultados financeiros desenraizados do atraso cultural e da injustiça social em que esses resultados foram alcançados.
O aparente progresso económico dos últimos 50 anos do século XX em Portugal não pode ser encarado sem ter em conta as colónias, a exploração de mão-de-obra barata, a vida de pobreza em que uma grande maioria da população vivia, um nível de vida de sobrevivência com gastos reduzidos ao pouco que a terra dava ou a um mísero ordenado com que a maioria das famílias se tinham que sustentar.
Que expectativa de vida podia ter um povo em que o analfabetismo era corrente e muitos poucos tinham acesso a um ensino secundário ou superior?
Portugal viveu um período de estabilidade financeira à custa de um grande atraso cultural e social.
Por outro lado não foi a democracia que provocou a crise mas um sistema consumista, um capitalismo desregrado e perverso que induziu a gastos supérfluos, dirigido por indivíduos medíocres que apostavam num lucro aparentemente fácil. Mas o consumismo foi mais além, baseado num pensamento que acreditava que a felicidade se adquiria pelo acumular de bens materiais e que estes estavam disponíveis para todos independentemente das posses das pessoas, das regiões e dos países. Nada disto era verdade, mas fizeram-nos crer que era possível à custa de empréstimos e dívidas sobre dívidas.
Hoje custa descer de patamar, mas não devemos ter saudades de um passado muito próximo e de má memória. Muita coisa mudou no nosso país, hoje a escolaridade é obrigatória, temos uma segurança social e há um entendimento da solidariedade que nos ajuda e obriga a um respeito pela Humanidade e pela preservação do Ambiente como um direito universal.
Por:
Fernanda Lage
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