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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 15-03-2010

    SECÇÃO: Arte Nona


    Hector Gérman Oesterheld - O Homem como Unidade de Medida

    O Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem – CNBDI - levou a cabo a realização de um encontro que teve lugar no passado dia 6 de Março, para assinalar o encerramento da exposição Hector Gérman Oesterheld, O Homem como Unidade de Medida, mostra que abordou a vida e obra de um dos maiores argumentistas de banda desenhada de sempre, desaparecido em 1978, em Buenos Aires, às mãos da ditadura militar argentina.

    Pretendeu-se nesse Encontro – que através de videoconferência contou com a participação dos comissários da exposição que se encontram nas cidades de Buenos Aires e Milão – abordar um conjunto de questões no âmbito da banda desenhada, designadamente, o argumento na BD, a relação entre escritores e desenhadores, a arte de narrar de HGO, a sua importância na historieta argentina e a influência que teve em sucessivas gerações de artistas em todo o mundo, mas não ficar apenas por aí.

    Tendo em conta também a vida de HGO, o seu empenhamento cívico e político, durante a ditadura nos anos 70, e o trágico desfecho do seu desaparecimento, o convite foi alargado à participação de outras pessoas e entidades como, por exemplo, a Casa da América Latina e a Amnistia Internacional, que enriqueceram o debate trazendo um conjunto de outros temas à discussão, no âmbito da história da Argentina e dos direitos humanos, que permitiram um melhor conhecimento das múltiplas dimensões da obra de Herman Germán Oesterheld.

    Sob moderação de Pedro Mota, intervieram no encontro Melina Gatto (Milão), Mariano Chinelli, Fernando Ariel Garcia, Hernán Ostuni e Martin Mortola Oesterheld, este último neto do grande cenarista (todos de Buenos Aires), David Soares, António Amaral, João Miguel Lameiras, Domingos Isabelinho, Nuno Franco e Pedro Moura, e ainda os autores José Ruy, José Garcês,Baptista Mendes e José Pires.

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    Biografia de Hector Gérman Oesterheld

    Nasceu a 23 de Julho de 1919 em Buenos Aires, de mãe de ascendência basca e pai de ascendência alemã. A leitura é a sua primeira paixão, e intercala a carreira universitária em geologia - pesquisas na Patagónia - com o estudo de outras ciências. A antropologia, a história e a agronomia rapidamente se misturam com os romances clássicos de aventuras e ficção científica - FC.

    Com 23 anos, publica no diário La Prensa o seu primeiro conto “Truila y Miltar”, uma fábula onde já se distinguem os traços característicos da sua obra. A partir daí começa a trabalhar nas Editoras Abril e Códex, em publicações infantis e de divulgação científica.

    No início dos anos 50, a Editora Abril, de Cesare Civita, convida-o a escrever guiões de BD. Sem experiência nesta área, aceita o desafio e surgem “Bull Rockett”, “Sargento Kirk” e “El Indio Suárez”, nas revistas Rayo Rojo e Misterix.

    Na lendária revista de FC Más Allá, publicou os contos “Cuidado con el Perro” e “Inocente Maquiavelo Reforzado”.

    Em 1956, Oesterheld, com o seu irmão Jorge, cria a Editora Frontera e publica romances como Sargento Kirk e Bull Rockett. Um ano mais tarde, lança-se no mercado da BD com guiões próprios e desenhos de Solano López, Arturo Del Castillo, Hugo Pratt, Alberto Breccia e Carlos Roume, entre outros, que dão vida a: Rolo, Ticonderoga, Randall, Ernie Pike, Patria Vieja e El Eternauta. O êxito é tão grande que um ano depois conseguem publicar: Frontera Extra e Hora Cero Extra e venderiam ainda as revistas infantis Mamita Me Cuenta e Papito Me Cuenta.

    Mas, a inexperiência empresarial dos Oesterheld leva à falência da empresa.

    Alguns títulos continuam em outras editoras, onde Héctor se mantém como guionista, e em alguns casos como director das revistas. São disso exemplo Coleción Batallas Inolvidables, o Libro de Hierro e a primeira compilação de El Eternauta em 1961.

    Oesterheld regressa a Misterix e Supermisterix, revistas da Editora Yago. Ali nascem Mort Cinder, Marcianeros e Watami, e dirige ainda El Eternauta e Geminis, ambas semi-científicas, idênticas à revista Más Allá. Nesta época renova-se a sua faceta literária, com os episódios romanceados de El Eternauta e contos como “El Árbol de la Buena Muerte”. Em 1965, é anunciado o romance de El Eternauta, que nunca chegou a concretizar-se.

    Publica, ainda, BD na Editora Dayca e também no Chile. Esta é uma das épocas mais prolixas. Oesterheld não recusa nenhum tema, pois tem de trabalhar para viver, e no final dos anos 60, o seu sucesso é grande. Em 1968, publica os contos Sondas, com Mujica Láinez, Pablo Capanna e Alfredo Grassi na antologia Los Argentinos en la Luna e uma outra selecção de contos, Ficção Científica - Novos Contos Argentinos.

    Motivado pelas dificuldades do país, assume uma militância política que influencia a sua obra e publica a Vida del Che e Evita e La Guerra de los Antartes, e a nova versão de El Eternauta desenhada por Alberto Breccia.

    Héctor continuou com os seus contos e BD nas revistas Gente, Top, El Tony, Fantasia, Skorpio, Pif Paf, Corto Maltés, Patoruzito Escolar, Billinken, e a sua obra militante era publicada nas revistas como El Descamisado, Evita Montonera e o diário Noticias. As últimas criações mais populares foram Roland El Corsario e Brigada Madeleine na Editora Columba e Nekrodamus e Loco Sexton em Edições Record.

    Em plena ditadura militar, meados de 1976, é reimpressa em fascículos a versão original de El Eternauta, e sai na revista Skorpio, a sua ansiada sequela. Escrita por Oesterheld na clandestinidade, e desenhada por Solano López, esta continuação é mais directa e controversa que a original. Os ideais do guionista reflectem-se na história, já não há lugar para metáforas subtis, Oesterheld não é o mesmo e Juan Salvo também não.

    Héctor foi sequestrado em 1977, no fim de Abril, em La Plata. O seu nome, o das suas filhas Estela, Diana e Marina, o dos dois genros e dos dois netos, fazem parte da lista de desaparecidos durante a última ditadura militar. O corpo de Beatriz, a terceira das suas quatro filhas, foi entregue à esposa do escritor, e dois outros netos foram recuperados com vida.

    Nos anos seguintes foram publicadas algumas histórias de BD de Héctor, sem que muitos leitores conhecessem o trágico destino do autor e da sua família.

    Héctor Germán Oesterheld é um dos maiores e mais prolíxos guionistas mundiais e um dos mais célebres da Argentina. As suas histórias humanas, calorosas e realistas, não só entretinham, como também ensinavam.

    Por: Mariano Chinelli (*)

    (*) Investigador e coleccionista. Organizou em 2007 a Exposição: 50/30: 50 anos com El Eternauta, 30 anos sin Oesterheld. Texto do catálogo da exposição.

     

     

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