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    Arquivo: Edição de 30-01-2010

    SECÇÃO: Arte Nona


    Rui Lacas: Asteroid Fighters – Super-heróis à portuguesa

    Publicado pelas edições ASA em 2009, o primeirro tomo de “Asteroid Fighters” revela-nos uma estória que se insere na tradição dos comics de super-heróis norete-americanos.

    Mais uma vez a ideia parte de uma situação histórica apocalíptica para o planeta, em que após terríveis cataclismos, se edifica uma nova ordem que beneficia de guardiães dotados de poderes super-especiais.

    Uma deriva relativamente ao guião mais comum é que estes poderes super-especiais resultam não tanto de um acidente ou de uma programação externa ou de super-competências derivadas de aptidões particulares, mas do desenvolvimento planeado e continuado a favor de uma elite de super-soldados capazes de proteger o planeta.

    É no grafismo, atiramos nós, que se encontrarão os maiores trunfos de “Asteroid Fighters”. Rui Lacas demonstra aqui uma grande capacidade de produzir situações e personangens muito expressivas, mostrando-se completamente à vontade quer nos ambientes de fantasia tecno-futurista, quer nos quotidianos mais aparentados com o “presente” que conhecemos.

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    “Asteroid Fighters” tem início com o colapsar da civilização terrestre, tal como a conhecemos, e a emergência, em função da necessidade de interajuda, do primeiro governo global, a União Global: «Novas ideias foram debatidas, as dívidas perdoadas e todos eram iguais. O importante já não eram os países, mas sim a Terra, o Ambiente, a ameaça de um novo asteróide».

    Mas desta perspectiva igualitária e utópica, Lacas prossegue esboçando a perspectiva anti--utópica que fundamenta e justifica “Asteroid Fighters”, a criação de um monstro de que omautor não parece sentir a enormidade: «A Ciência tinha também um novo propósito: defender a Terra de ameaças exteriores! Rapidamente descobriu um melhor uso para a tecnologia nuclear.../ A vida na Terra já havia sido ameaçada... Não nos podíamos dar ao luxo de ser atingidos outra vez. Muitos se ofereceram como voluntários, e um novo Exército Global foi formado. Os recrutas eram submetidos a treinos extremos... Os limites eram testados... e quebrados! / Foram os primeiros de um novo regimento, onde só os melhores tinham lugar... / foram os primeiros Asteroid Fighters». São pois estes os bons da fita da série agora apresentada por Rui Lacas em “Asteroid Fighters – O Início”.

    Se as questões civilizacionais e reflexivas sobre a construção da sociedade comum aqui aparecem mais ou menos esboçadas, o resto do livro é um puro exercício de “combates de boxe”.

    Se é evidente que o tom geral de “Asteroid Fighters” obriga a que este não seja levado muito a sério, esboçando-se sempre uma atmosfera complexa entre o delirante, o histriónico e o épico, também não deixa de ser notória, por exemplo, a incipiente proposta de mal apresentada aqui pelos super-vilões.

    O plano destes parece ser, pura e simplesmente, a destruição do planeta, usando para tal o disparo de uma série de asteróides artificiais criados por eles. Mas, ao mesmo tempo, presume-se, sucumbindo também aos ataques, como terroristas suicidas sem qualquer objectivo de nova ordem ou de redenção por uma eventual submissão ao divino ou ao que quer que fosse, apenas a destruição pura e simples, um programa que não tem sequer que ver com qualquer perspectiva nihilista.

    Apreciado o guião, voltemo-nos então para o grafismo. E aqui já não nos atreveríamos a ser tão críticos, antes pelo contrário.

    Rui Lacas desenvolve aqui um estilo de narração muito expressivo, animado e eficaz.

    Isso começa logo a notar-se pelo trabalho de organização das pranchas, que é muito inventivo e funcional, no sentido em que serve às mil maravilhas o enredo que pretende ilustrar.

    A criação de tipos humanos é feliz, as paisagens e arquitecturas surgem com bastante força e efeito de verosimelhança, os pormenores de natureza cinética estão muito bem expressos e equilibrados, nada a apontar também no capítulo da coloração, que é perfeita para o fim que se tem em vista.

    Enfim, para dizer a verdade, ficámos com a ideia de que Rui Lacas dispersa erradamente o seu talento, dispersando-se por áreas em que revela fragilidades várias, em vez de se concentrar naquilo que demonstra aqui inequivocamente, sabe fazer muito bem: a arte gráfica, área em que aqui sim, demonstra toda a sua competência criativa e narrativa, muito engenho e segurança.

    Também é provável que ao propor uma história um pouco ao sabor da mainstream dos comics de grande consumo, o autor visasse fazer-se notar em busca de uma possibilidade de carreira. Mas se o conseguir, tal só ficará a dever-se mesmo aos seus dotes enquanto muito bom desenhador.

    Por: LC

     

     

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