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    Arquivo: Edição de 15-01-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Comemorando o centenário da República (1910-2010)

    Com a concordância da Redacção e da Direcção do jornal “A Voz de Ermesinde” proponho-me trazer às páginas deste periódico, durante o ano 2010, diversos eventos da história de Ermesinde relacionados com a Primeira República Portuguesa, como forma de comemorar o centenário da implantação do regime republicano, que também nesta terra, como no País, deixou marcas profundas que ainda hoje sobrevivem.

    Só tem sentido falar da República por oposição à Monarquia. E falando em Monarquia, é preciso lembrar que Portugal teve este regime quase durante oito séculos, mais concretamente entre 5 de Outubro de 1143 (Tratado de Zamora) e 5 de Outubro de 1910 (Revolução Republicana).

    Todos sabemos que hoje em dia, Monarquia e República não diferem assim tanto na prática política, uma vez que a Democracia é o regime que, em qualquer dos casos, se pratica, quer o país seja uma República ou continue a ter uma Monarquia. Na verdade, a maior diferença está no facto de o Chefe de Estado ser eleito na República e vitalício e hereditário na Monarquia

    Mas em 1910 - há precisamente cem anos atrás - a realidade não era essa. A Monarquia portuguesa era constitucional, mas estava profundamente desacreditada. Longe do povo, incapaz de resolver os principais problemas do País e do Império, as esperanças voltavam-se todas para a instauração da República.

    Os republicanos prometiam um "mundo novo", queriam instruir o povo e trazê-lo à participação política, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e fazer um Portugal mais próspero.

    O 5 de Outubro de 1910 foi um dia de renovada esperança para Portugal.“O povo aplaudiu a carbonária republicana. O novo regime ia sendo proclamado por todo o País. As elites urbanas e rurais aderiram efusivamente ao novo regime e quiseram republicanizar o povo. Numas localidades foi mais fácil, noutras a resistência monárquica manteve-se activa.

    Regra geral, o povo aceitou o regime republicano como sinal de mudança e de muita esperança. As contas públicas equilibraram-se, surgiu nova bandeira, novo hino, nova moeda. Apostou-se muito na instrução de rapazes e raparigas. Por todo o lado apareceram jornais de fervor republicano. O clero sofreu algumas humilhações evitáveis e perdeu património e importância social. O País mexeu nas suas estruturas mais profundas.

    Contudo, nem tudo foram "rosas"! Manteve-se sempre uma persistente oposição monárquica, houve divisão entre os republicanos e, pior que isso, surgiu a 1.ª Guerra Mundial em que Portugal participou, em África (para defender as suas colónias) e na Europa (Frente Ocidental, ao lado da nossa velha aliada, Inglaterra).“Esta participação foi verdadeiramente dramática para Portugal pelas suas consequências. Desequilíbrio financeiro, inflação galopante, desvalorização do escudo, caos social e uma  insustentável instabilidade política decretariam o fim mais que certo da Primeira República, com a implantação da Ditadura Militar (1926) que, pouco depois, evoluiria para o famoso "Estado Novo" (1933-1974).

    Um aspecto do Largo da Estação de Ermesinde, no princípio do século XX
    Um aspecto do Largo da Estação de Ermesinde, no princípio do século XX
    De tudo isto se falará muito neste novo ano de 2010, em que a implantação da República Portuguesa comemora o seu 1.º Centenário.

    No conjunto de artigos que traremos regularmente aos leitores de “A Voz de Ermesinde”, abordaremos, já na próxima edição, a Revolta Republicana do “31 de Janeiro” no Porto, e veremos qual foi a atitude da Junta Paroquial de S. Lourenço de Asmes, reunida extraordinariamente no dia 13 de Fevereiro de 1891.

    Não deixaremos de tratar também da mudança de nome da antiga freguesia de S. Lourenço de Asmes para a denominação actual (Ermesinde), da participação portuguesa (e em particular dos homens de Ermesinde) na 1.ª Guerra Mundial (sabendo nós como a participação portuguesa nesta Guerra está directamente relacionada com a queda e decadência da Primeira República) e o surgimento das Ditaduras em Portugal do século XX.

    Escreveremos, igualmente, sobre a primeira vez em que foram atribuídos nomes às ruas de Ermesinde (em plena Primeira República) e não podemos deixar de referir a questão religiosa nesta freguesia no período das 2.ª e 3.ª décadas do século passado.

    E, falando em matéria religiosa, terá de vir à baila a questão do património sagrado nesta paróquia. Veremos como o mais antigo templo da cidade esteve prestes a ser aproveitado para aí se instalar uma escola primária.

    Teremos também oportunidade de conhecer o nome de todos aqueles que tiveram a responsabilidade de gerir esta freguesia no período de 1910 a 1926, bem como ficarmos a par da polémica que envolveu o cemitério de Ermesinde, por causa da divisão do espaço de enterramento para católicos e não católicos.

    No período em estudo, Ermesinde conheceu bastante progresso e desenvolvimento, quer ao nível do estabelecimento de novas unidades industriais, quer ao nível da electrificação, quer ainda no que respeita às acessibilidades e comunicações. O carro eléctrico passou a ligar a Praça da Liberdade à Matriz de Ermesinde, os correios e os telefones passaram a ter intenso movimento com a nova urbe que ia nascendo.

    Foi neste período que surgiu o 1.º periódico ermesindense e o seu primeiro estudo monográfico da autoria de Humberto Beça.

    Também o Colégio de Ermesinde, quase um “ex-libris” desta terra, apareceu no período da Primeira República e, por isso, será igualmente objecto da nossa atenção. E não poderíamos terminar este conjunto de artigos, em jeito de comemoração do Centenário da República em Ermesinde, sem evocarmos personalidades ilustres que viveram em Ermesinde neste período e que deixaram a indelével marca da sua acção e do seu querer em prol da terra e do seu povo.

    Amadeu Sousa Vilar (1.º Presidente da Comissão Paroquial Republicana de Ermesinde), Dr. António Correia da Costa e Almeida (dono da Quinta de Ermesinde), Augusto César de Mendonça (primeiro Presidente da Junta da Freguesia eleita no período da Primeira República), Dr. Joaquim Maia Aguiar (um dos fundadores do Centro Republicano de Ermesinde) e José Joaquim Ribeiro Teles (dono do Convento e Quinta da Formiga e um dos fundadores do Colégio de Ermesinde) são apenas alguns nomes que hoje aqui avançamos.

    Penso que estarão lançados todos os “condimentos” necessários para que o leitor se interesse por conhecer melhor este período de esperança num futuro melhor, com mais liberdade, igualdade e fraternidade em que os homens mais interventivos (de Ermesinde) de há cem anos acreditaram plenamente.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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