Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 30-06-2009

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    Ninho

    O primeiro pensamento sobre o tema nasceu ao observar um ninho de melro extravagante. Moderno? Será!?

    A palavra é conotada com o Lar, cuja vivência pessoal ficou gravada a ferros. A socialização e a cidadania aí tiveram as raízes – alimentaram, para sempre, o corpo e o espírito.

    A ideia desta crónica resultou de ter observado dois ninhos, na quinta da Fonte Nova (Soutelo do Douro), com tecnologia de ponta, bem distinta de outros tempos.

    Como é possível existirem os de melros com plásticos e algodão ao dependuro?!

    Apesar de mal-asados, feitos ao trouxe-mouxe, aí uma ave, pacatamente, chocava os ovos, sem se perturbar com os passantes, sinal de que se sentia em segurança. Seria dos plásticos protectores?

    Quando menino, seguia a construção dos ninhos, bastava o Fernando dizer:

    – Está ali um! Anda a fazer…

    Tanto nas traseiras do armazém da quinta ou na ramada, que cobria o poço da horta, em Provesense, assistia às fases de construção do ninho de melro: primeiro, à disposição de gravetos grosseiros, depois fragmentos mais finos, seguindo-se o forrar interior em lama. Após a colocação de palhas fininhas, o interior era revestido com pêlos de animais (cavalos burros, bois?), para receber os três ou quatro ovos de um azul maravilhoso! A nudez dos passarinhos era bem protegida!

    Hoje será melhor?

    Apesar da paixão de ter descoberto tantos ninhos nos matagais, que rodeavam as veigas da Tenaria (Roalde) ou da quinta do Alto Douro, sou pela nova construção! A evolução é um facto – novos meios, novos hábitos.

    O Antunes, ainda com pedalada para o baile da Dona Ester, continua a afirmar:

    – O que é moderno é bom!

    Se os tempos passados foram bem difíceis, as “modernices”, mesmo com erros, suplantam os sacrifícios antigos. Desenvolvimento ecológico é preciso. “Navegar é preciso”, como escreveu o grande Fernando Pessoa.

    O bico e as patas das aves conseguiram ir ao encontro das novas estruturas dos seus abrigos, resultado: melhor harmonia com o meio ambiente e mais socialização. (Os melros estão mais urbanos).

    Enquanto os ninhos eram construídos, por exemplo, nos castanheiros, agora vi um numa viga de ferro de uma arrecadação, em frente às cubas de vinho, e outro num cipreste, quase a tocar a varanda da casa. As pessoas não perturbam as aves, mesmo quando alimentam os filhotes.

    Se considerarmos o trabalho do Taj Mahal (India sec. XVII), como grande maravilha humana, que dizer da arte de um ninho, feito com um bico?! A oponibilidade do polegar, surgida nos hominídeos, rivalizou com o bico das aves!

    Voltei a ler o poema de Miguel Torga, “Eu sei um ninho”. O húmus telúrico e a natureza viva estão bem presentes.

    Na passagem por S. Martinho de Anta, irei subir à Serra da Senhora da Azinheira, onde o Sr. Prior dava catequese, nos dias festivos, e espiolhar os frondosos castanheiros, ao redor da capela, para ver mais ninhos…

    Por: Gil Monteiro

     

    Outras Notícias

    · Os maus rapazes

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].