Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 29-02-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 31-05-2009

    SECÇÃO: Cultura


    XIII FEIRA DE ARTES POPULARES DO CONCELHO DE VALONGO

    Do papel à madeira – um sonho alquímico?

    A Feira de Artes Populares do Concelho de Valongo, este ano já na sua décima-terceira edição, decorreu de 6 a 10 de Maio no espaço habitual, junto ao apeadeiro do Susão.

    Feira de artes tradicionais, artesanato urbano e gastronomia, abrilhantada com algumas iniciativas de animação musical e animação para as crianças, o certame sofre da falta de uma maior exigência ou organização, colocando lado a lado, aparentemente sem orientação, pequenos produtores e vendedores de um moderno (e em geral não muito interessante) “bricabraque” e os guardiães de um saber antigo, que ficam ali no meio, pouco valorizados e pouco promovidos.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    Os expositores vinham quer de paragens mais distantes como a Lousã, Viana do Castelo, Braga, Castelo Branco, etc., ou dos concelhos mais próximos, como Valongo, Gondomar ou o Porto. Também no capítulo da animação musical, a feira deixa a desejar, e não será tanto pelo seu programa.

    Por exemplo, no dia em que o Grupo de Fados da Faculdade de Engenharia da Faculdade do Porto ensaiava o seu espectáculo – o grupo, na formação actual, tem três anos e recomenda-se (ouvimos uma muito boa interpretação de Luís Góis, servida por uma belíssima voz), ao mesmo tempo sobrepunha-se a música de fundo, com uma não menos bela gaita-de-foles de inspiração celta a confundir todos os presentes. Bom, mas isto é só para demonstrar a deficiente organização.

    Vamos então ao que interessa e, na impossibilidade de fazermos uma referência mais extensa escolhemos três exemplos de propostas presentes nesta mostra.

    LENÇOS DE AMOR

    foto

    A primeira para um stand de exposição de Ponte de Lima onde o espaço era partilhado por vários artesãos, de várias artes e ofícios.

    O destaque aqui vai para a mostra dos lenços de amor, uma notável tradição popular do bordado alto-minhoto. Um dos exemplares à vista do público expunha bem claros a ingenuidade e o engenho populares, com estes versos demonstram:

    Culhi crábos culhi rózas

    i biuletas tamem

    neste dia ispessial

    ufrêssute meu bem

    amor lial.

    TECIDOS DE CHAFÉ

    foto

    Outro destaque para o stand de Cláudia Vilas Boas, tecelã da região de Viana do Castelo, mais rigorosamente Chafé.

    Cláudia trabalha nas feira que visita com um tear (pequenino), para tal construído propositadamente pelo seu marido.

    Aprendeu o ofício há cerca de 16 anos, agora vai a meio dos trinta e vai percorrendo as feiras que pode – já esteve este ano, por exemplo, em Arcos de Valdevez e na Feira do Bacalhau e a ida às feiras acaba sempre por compensar. A tecelagem constituiu o seu primeiro emprego e conta, muito comunicativa, como abraçou esta actividade e se estabeleceu, mais tarde, por conta própria, em 2007.

    Cláudia Vilas Boas cria as próprias peças, toalhas, tapetes, passadeiras, jogos de quarto, naperões.

    DO PAPEL À MADEIRA

    foto

    Finalmente, o último destaque vai para o artesão José da Silva Lucas, que realiza um pouco do sonho alquímico ao transformar papel em cestaria. Natural de Oliveira do Douro, vive em Serpins, na Lousã e o seu artesanato usa como matéria-prima papel de jornal.

    As folhas de papel devidamente cortadas, entrançadas, banhadas com um verniz de madeira de seu segredo, e depois do tempo de seca necessário, transformam-se, com a aparência de peças de vime, em objectos tão diversos como cestos, garrafões, panelas, candeeiros, fruteiras, etc..

    Tudo começou como um hobby, a partir de um problema de saúde muito grave, que teve de defrontar, mas o seu engenho na transformação de desperdício em coisas úteis já vem de longe, como quando, ainda novo, fazia cintos a partir de maços de tabaco vazios. José da Silva Lucas, quando falámos com ele, trabalhava no stand com a sua mulher, que o ajuda nas suas realizações.

    E pronto! Sinceramente esperamos que se dê a volta a este certame que, apesar de já na décima-terceira edição, podia, mesmo assim, ser bem mais interessante e participado, mesmo nos tempos de crise por aí a correr.

    Por: LC

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].