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    Arquivo: Edição de 15-04-2009

    SECÇÃO: Psicologia


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    A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL

    Os distúrbios da personalidade

    Este é um espaço de reflexão e diálogo sobre temas do domínio da Psicologia, que procurarei dinamizar com regularidade, trazendo para aqui os principais problemas do foro psicológico que afectam pessoas de todas as idades.

    Na qualidade de psicóloga estou disponível para os leitores de “A Voz de Ermesinde” me poderem colocar as questões que desejarem ver esclarecidas, através de carta para a redacção deste quinzenário ou para o seguinte “e-mail”: [email protected]

    Os distúrbios da personalidade caracterizam-se por padrões de percepção, relação e relacionamento relativamente fixos, inflexíveis e socialmente inadequados em uma variedade de situações. Cada indivíduo apresenta padrões característicos de percepção e de relação com outras pessoas e eventos (traços de personalidade), por outras palavras, todos os indivíduos tendem a enfrentar as situações stressantes com um estilo individual, mas repetitivo. Por exemplo, alguns indivíduos respondem sempre a uma situação problemática buscando a ajuda de outros. Outros assumem, quase sempre, que podem enfrentar os seus problemas sozinhos. Alguns indivíduos minimizam problemas e outros exageram-nos. Embora as pessoas tendam sempre a responder da mesma forma a uma situação difícil, a maioria é propensa a tentar um outro caminho, caso a primeira resposta seja ineficaz. Em contraste, os indivíduos com distúrbios da personalidade são tão rígidos que não conseguem adaptar-se à realidade, o que compromete a sua capacidade operacional.

    Os seus padrões inadequados de pensamento e comportamento tornam-se evidentes no início da vida adulta, muitas vezes antes, e tendem a durar toda a vida. Eles podem apresentar problemas nas suas relações sociais, interpessoais e no trabalho. Os indivíduos com distúrbios da personalidade normalmente não têm consciência de que os seus padrões de comportamento ou de pensamento sejam inadequados. Ao contrário, eles crêem que os seus padrões são normais e correctos. Frequentemente, os familiares ou os assistentes sociais encaminham-nos para um psiquiatra ou psicólogo porque o seu comportamento inadequado causa dificuldades para os outros. Contudo, os indivíduos com distúrbios da ansiedade causam problemas para si próprios, mas não para os outros. Quando os indivíduos com distúrbios da personalidade procuram ajuda voluntariamente (frequentemente, por causa de frustrações), eles tendem a acreditar que os seus problemas são causados pelos outros ou por uma situação particularmente difícil. Os distúrbios da personalidade incluem os seguintes tipos: paranóide, esquizóide, esquizotípico, histriónico, narcisista, anti-social, limítrofe, evitante, dependente, obsessivo-compulsivo e passivo-agressivo. O distúrbio dissociativo da identidade, anteriormente denominado distúrbio da personalidade múltipla, é completamente diferente. Futuramente falarei de cada um deles detalhadamente.

    As possíveis consequências dos distúrbios da personalidade são estes indivíduos apresentarem um alto risco de comportamentos que podem acarretar doenças físicas (p. ex., alcoolismo ou dependência de drogas), comportamento auto-destrutivo, comportamento sexual de risco, hipocondria e conflitos com os valores sociais. Para além disso, os indivíduos com distúrbios da personalidade são mais vulneráveis a distúrbios psiquiátricos devido ao stress. O tipo de distúrbio psiquiátrico (p. ex., ansiedade, depressão ou psicose) depende em parte do tipo de distúrbio da personalidade e apresenta menor propensão a seguir um tratamento prescrito. Mesmo quando este é seguido, as pessoas tendem a ser menos responsáveis quanto às medicações do que o normal. Como se isto não bastasse, os indivíduos com distúrbio da personalidade normalmente estabelecem uma má relação com os médicos, pois recusam-se a assumir a responsabilidade pelo seu comportamento ou sentem-se altamente desconfiados, dignos ou necessitados. O médico pode então tornar-se acusador, desconfiado e, em última instância, pode rejeitar o indivíduo.

    O diagnóstico de um distúrbio da personalidade baseia-se na expressão dos tipos de comportamento ou de pensamentos inadequados do indivíduo. Esses comportamentos tendem a manifestar-se porque o indivíduo resiste de maneira tenaz a mudá-los apesar de suas consequências inadequadas. Além disso, é provável que se perceba o uso inadequado dos mecanismos de defesa. Embora todos utilizem inconscientemente mecanismos de defesa, os indivíduos com distúrbios da personalidade usam-nos de forma inadequada ou imatura.

    Embora, os tratamentos variem de acordo com o tipo de distúrbio da personalidade, alguns princípios gerais podem ser aplicados a todos. Como a maioria dos indivíduos com distúrbio da personalidade não sente necessidade de tratamento, a motivação frequentemente é originária de uma outra pessoa. Não obstante, o indivíduo pode responder ao apoio que lhe é prestado, mas pode manter-se firme em relação aos padrões de pensamento e de comportamento próprios da sua inadequação Essa estratégia é mais eficaz quando existe a intervenção de outros pacientes ou do psicoterapeuta. O terapeuta destaca repetidamente as consequências indesejáveis dos padrões de pensamento e de comportamento do indivíduo, algumas vezes estabelece limites para o comportamento e confronta o indivíduo repetidamente com a realidade. O envolvimento familiar é muito útil e mesmo essencial, uma vez que a pressão do grupo pode ser eficaz.

    O tratamento em grupo e familiar, a vida em grupo em residências especializadas, participação em clubes sociais terapêuticos ou em grupos de auto-ajuda podem ser válidos no tratamento. Os indivíduos com um distúrbio da personalidade algumas vezes apresentam ansiedade e depressão, que esperam ver aliviadas com medicamentos. Entretanto, a ansiedade e a depressão decorrentes de um distúrbio da personalidade raramente são aliviados de modo satisfatório por medicamentos e esses sintomas podem ser evidências de que o indivíduo está  a realizar algum auto-exame saudável. Além disso, a terapia medicamentosa frequentemente é complicada pelo uso inadequado das medicações ou por tentativas de suicídio.

    Se o indivíduo apresenta um outro distúrbio psiquiátrico (p. ex., depressão, fobia ou distúrbio de pânico importantes), os medicamentos podem então ser adequados, embora eles provavelmente produzam apenas um alívio limitado. A alteração de uma personalidade leva muito tempo. Nenhum tratamento a curto prazo pode ter êxito na cura de um distúrbio da personalidade, mas certas mudanças podem ser obtidas mais rapidamente que outras. As atitudes irresponsáveis, o isolamento social, a ausência de auto-afirmação ou as explosões temperamentais podem responder à terapia de modificação do comportamento. Contudo, a psicoterapia prolongada (terapia falada) com o objectivo de ajudar o indivíduo a compreender as causas de sua ansiedade e a identificar o seu comportamento inadequado continua a ser a base da maioria dos tratamentos. Alguns distúrbios da personalidade, como dos tipos narcisista e obsessivo-compulsivo, podem ser mais bem tratados com o auxilio da psicanálise. Outros, como os tipos anti-social e o paranóide, raramente respondem a qualquer tipo de terapia.

    Por: Joana Dias

     

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