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    Arquivo: Edição de 15-01-2009

    SECÇÃO: Crónicas


    1 DE JANEIRO 2009 – DIA MUNDIAL DA PAZ

    Combater a pobreza – construir a paz

    Combater a pobreza, construir a paz" é o tema escolhido por Bento XVI para o 42º Dia Mundial da Paz 2009. Assinala a necessidade de que a família humana dê uma resposta urgente à grave questão da pobreza material, moral e espiritual. O Papa denuncia o escândalo da pobreza no mundo que não é somente uma simples fatalidade provocada por situações ambientais adversas ou por calamidades naturais. «As considerações de carácter exclusivamente técnico ou económico não devem prevalecer sobre os deveres de justiça e dos que padecem da fome?», disse na 33ª Assembleia da FAO, em 2005.

    São de Pierre Sané, Subdirector geral da UNESCO as palavras: «A pobreza não é fatal. É uma realidade social e económica. Os pobres não são pobres porque sejam fisiológica ou mentalmente inferiores aos que vivem em melhores condições, nem tão pouco porque tenham um sistema de valores diferente. Preocupam-se também com a felicidade, a família, os filhos, as condições de vida, a paz, a segurança. A sua pobreza é frequentemente uma consequência directa ou indirecta do fracassso da sociedade em fazer da justiça a base das relações sociais e económicas.» «Se se chegar a uma melhoria das relações, os recursos poupados em armamentos, poderão ser destinados para projectos de desenvolvimento das pessoas e dos povos mais pobres e necessitados: o esforço despendido em tal direcção é um serviço à paz no seio da família humana», afirma Bento XVI (mensagem, 6).

    A pobreza também é provocada pelo egoísmo do homem, que se traduz em falta de organização social, na rigidez de estruturas económicas que com demasiada frequência só procuram o lucro, em práticas que vão contra a vida e em sistemas ideológicos que reduzem a pessoa, privada da sua dignidade, a um mero instrumento.

    «O Pacto do Milénio sobre erradicação da pobreza no mundo no qual se depositaram tantas esperanças apresenta-se, hoje, como um objectivo comum mais distante. Há, porém, um aspecto positivo: a pobreza é cada vez mais assumida como uma violação dos direitos humanos fundamentais. Os governos e as sociedades civis e suas instituições têm de assumir a responsabilidade consequente e traduzi-la em acções concretas de prevenção da pobreza, remoção das suas causas e de minimização dos seus efeitos sobre a vida, a saúde, a educação, a habitação, o trabalho e demais direitos humanos fundamentais», é afirmação da Drª Manuela Silva, Presidente da Justiça e Paz.

    «Os pobres pedem o direito de participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade de trabalho, criando assim um mundo mais justo e mais próspero para todos», advertia João Paulo II (Centesimus annus, 28).

    As políticas públicas devem dar à erradicação da pobreza a devida centralidade, o que implica a fixação de objectivos e medidas concretas e a definição de critérios de avaliação de resultados e de responsabilidades pela sua consecução, ao nível mais elevado da governação. Sabemos que entre as causas da pobreza, figuram: o desemprego, a precariedade de trabalho e os baixos salários.

    E são manifestações severas da pobreza «as pandemias, como por exemplo, a malária, a tuberculose e a sida, pois, na medida em que atingem os sectores produtivos da população, influem enormemente no agravamento das condições gerais do país. (?) Sobretudo a sida, dramática causa da pobreza, é difícil combatê-la se não se enfrentarem as problemáticas morais associadas à difusão do vírus». (mensagem, 4)

    A falta de habitação, de trabalho, de segurança e de instrução reduzem a capacidade de sair da pobreza. A educação demonstrou ser um dos instrumentos mais importantes na luta contra a pobreza. E os bens deste mundo foram criados por Deus para serem utilizados sabiamente por todos e partilhados de uma forma justa e caritativa.

    «O OCIDENTE

    OLHA O RESTO DO MUNDO

    EM TERMOS DE TER

    OU NÃO TER»

    Aminata Traoré, ex-ministra da cultura do Malí e consultora da ONU, uma das mulheres africanas mais extraordinárias dos nossos dias, afirma: «O ocidente olha o resto do mundo em termos de ter ou não ter. Os seus valores e referências baseiam-se no consumo. Supõe-se que esta é a melhor maneira de viver. E julgam do mesmo modo os outros». Mas «a acumulação de bens não basta para proporcionar a felicidade humana. A disponibilidade de muitos benefícios reais , aportados pela ciência e pela técnica, nos últimos anos demonstra que se toda essa massa de recursos, não é posta à disposição do homem e dirigida ao verdadeiro bem do género humano, volta-se facilmente contra ele para deprimi-lo.» (Sollicitudo Rei Socialis , João Jaulo II).

    Na avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - conhecimento, longevidade e nível de vida – ignoram-se aspectos relacionados com a cultura e a forma de vida das pessoas e dos povos. Importa descobrir a diversidade de dimensões do autêntico desenvolvimento humano, que abarca os valores morais e culturais: a hospitalidade, o devir sossegado do tempo, a presença da religião na vida quotidiana, o valor perante as injustiças, a atitude perante a morte, a medicina tradicional, como enfrentam as carências materiais, a maneira de construir as casas, os contos infantis, jogos tradicionais, instrumentos musicais ou receitas de culinária.

    «O HOMEM

    VALE MAIS PELO QUE É

    DO QUE PELO QUE TEM»

    O Concílio Vaticano II afirmou que «O homem vale mais pelo que é do que pelo que tem». (GS 35) A produção deve estar ao serviço do homem integral, tendo em conta as suas necessidades materiais e as suas exigências intelectuais, morais, espirituais e religiosas; de todo o grupo de homens. (GS 64)

    A crise provocada pelo aumento do preço dos alimentos poderá significar uma «perda de sete anos» na luta contra a pobreza, disse Robert B. Zooellick, do Banco Mundial. A situação mundial é preocupante e enquanto muitos governos pensam em aumentar os arsenais bélicos, há muitas pessoas cuja prioridade é encher os estômagos. A galopante crise económica afectará os sectores mais pobres da população. A justiça e a solidariedade são os caminhos que levarão à descoberta de novas fontes de poder económico nos países mais pobres, perante uma economia selvagem. O Papa afirma: «Uma das estradas mestras para construir a paz é uma globalização que tenha em vista os interesses da grande família humana. Mas, para guiar a globalização é preciso uma forte solidariedade global entre países ricos e países pobres». (mensagem, 8)

    «A crise alimentar actual põe em perigo a satisfação das necessidades de base. (?) A má nutrição pode também provocar graves danos psicofísicos nas populações privando muitas pessoas das energias de que necessitam para sair, sem especiais ajudas, da sua situação de pobreza». (mensagem, 7)

    «A globalização elimina determinadas barreiras, aproxima os povos, mas a proximidade geográfica e temporal não cria, de per si, as condições para uma verdadeira comunhão e uma paz autêntica. A marginalização dos pobres da terra só pode encontrar válidos instrumentos de resgate na globalização, se cada homem se sentir pessoalmente atingido pelas injustiças existentes no mundo e pelas violações dos direitos humanos ligadas com elas». (mensagem, n. 8)

    «A Igreja, que é sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano (LG, 1), continuará a dar a sua contribuição para que sejam superadas as injustiças e incompreensões e se chegue a construir um mundo mais pacífico e solidário», (mensagem, 8).

    Reuniram-se em Roma, em Junho 2008, 270 organizações religiosas e não governamentais de todo o mundo e convidaram a comunidade internacional a olhar para os valores espirituais. «À luz das mudanças climáticas, da preocupação sobre a futura disponibilidade de energia, de um aumento sem precedentes do preço dos cereais, os "sinais dos tempos" indicam a necessidade da comunidade internacional agir com urgência», refere a declaração.

    «QUANDO A POBREZA

    ATINGE UMA FAMÍLIA,

    AS CRIANÇAS SÃO AS

    SUAS VÍTIMAS MAIS

    VULNERÁVEIS»

    A declaração - subscrita por centenas de Institutos da Igreja Católica - aponta o dedo a «um sistema de comércio mundial injusto, problemas ambientais e sociais causados por mudanças de clima, práticas de agricultura insustentáveis, políticas de biocombustíveis, especulação, desperdício». Bento XVI refere: «Objecto de atenção nos programas de luta contra a pobreza e que mostra sua intrínseca dimensão moral, é a pobreza das crianças. Quando a pobreza atinge uma família, as crianças são as suas vítimas mais vulneráveis: actualmente quase metade dos que vivem em pobreza absoluta é constituída por crianças», sendo necessário atender «aos cuidados maternos, ao serviço educativo, acesso às vacinas, aos cuidados médicos e à água potável, à defesa do ambiente e sobretudo ao empenho da família e da estabilidade das relações no seio da mesma». (mensagem, 5)

    A AEFJN (Rede África-Europa Fé e Justiça) está a desenvolver uma campanha que visa alertar para os riscos da aposta nos biocombustíveis sobre as populações mais pobres, frisando que a nova política energética europeia pode colocar em causa «o direito à alimentação dos países mais pobres». Os religiosos denunciam que «algumas empresas europeias aproveitam a falta de conhecimento dos agricultores africanos para os comprometerem com contratos que podem ir até aos 30 anos, retirando-lhes o controlo da produção e dos preços de comercialização».

    Bento XVI começou a mensagem dizendo que «a pobreza se encontra frequentemente entre os factores que favorecem ou agravam os conflitos, mesmo os conflitos armados. Estes últimos, por sua vez, alimentam trágicas situações de pobreza, (?) populações inteiras vivem hoje em condições de extrema pobreza. A disparidade entre ricos e pobres tornou-se mais evidente, mesmo nas nações economicamente mais desenvolvidas». (mensagem, 1).

    Combater a pobreza implica uma análise autêntica da globalização, chegando à conclusão de que somos «chamados a constituir uma única família, na qual todos - indivíduos, povos e nações - regulem o seu comportamento segundo os princípios de fraternidade e responsabilidade». (mensagem,1).

    Recorda que «nas sociedades ricas e avançadas, há fenómenos de marginalização, pobreza relacional, moral e espiritual (?) Quando o homem não é visto na integridade da sua vocação e não se respeitam as exigências duma verdadeira "ecologia humana", (CA, 38) desencadeiam-se também as dinâmicas perversas da pobreza». (Mensagem, 2).

    Bento XVI lembra «o amor preferencial pelos pobres, que sempre foi princípio da Igreja, e que esta segue atentamente os fenómenos actuais da globalização e a sua incidência sobre as pobrezas humanas, sendo seus princípios esclarecer os vínculos entre pobreza e globalização e orientar a acção para a construção da paz». (mensagem, 15)

    «COMBATER

    A POBREZA

    É CONSTRUIR A PAZ»

    Finalmente deixa um convite: «a comunidade cristã não deixará de assegurar o seu apoio à família humana inteira nos seus impulsos de solidariedade criativa, tendentes não só a partilhar o supérfluo, mas sobretudo a alterar os estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades» (CA, 58). Termina com o indiscutivelmente verdadeiro axioma «combater a pobreza é construir a paz». (mensagem, 15)

    Por: Armando Soares

     

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