Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 20-12-2008

    SECÇÃO: Destaque


    HÁ 50 ANOS…

    Mensagem de Natal do General Humberto Delgado

    Há 50 anos, no Natal de 1958, o General apesar de vencido no seu combate pela Democracia não esquece os portugueses seus apoiantes, a juventude, os seus compatriotas. A todos dedica uma belíssima mensagem impressa em bilhete-postal com o seu retrato em grande uniforme.

    As demonstrações de simpatia e apoio que recebi dos portugueses durante e depois da minha candidatura á Presidência da República, quaisquer que tenham sido ou venham a ser as contrariedades sofridas, estarão sempre no meu coração e na memória por todo o resto da vida.

    A Pátria rejuvenesceu, a confiança num futuro melhor guia agora os destinos de Portugal. No limiar do ano de 1959 desejo a todos os meus compatriotas a realização das suas aspirações, a pacificação e o restabelecimento dos seus direitos e garantias. Á juventude, que tanto me acompanhou, desejo todas as alegrias, êxito no seu trabalho e estudos, oportunidades para prosperar e constituir família.

    Que a sublime mensagem de fraternidade e liberdade trazida ao mundo por Jesus seja recordada em todos os lares na noite de Natal e compreendida no seu verdadeiro sentido.

    General Humberto Delgado»

    foto
    O General Humberto Delgado (1906-65) frequentou o Colégio Militar. Em 1926 participa no movimento militar que instaura a Ditadura. Foi apoiante do Estado Novo, considerado até um dos ultras do regime. Salazar confia em si e delega nele as conversações secretas com o governo inglês para instalação de bases nos Açores. Mais tarde representará Portugal na Nato. Nos E.U.A. especializa-se em Aeronáutica e vive a democracia ausente no seu país. Delgado é o responsável pela criação do Secretariado da Aviação civil e dos Transportes Aéreos Portugueses (TAP), em 1945. Com apenas 47 anos de idade sobe ao generalato. A sua carreira na Força Aérea é brilhante. O mais jovem general, é inegável, gostava de política. Foi procurador à Câmara Corporativa em 1951/52, mas o divórcio com o regime estava próximo… Preterido por Salazar para um cargo que ambicionava, Delgado converte-se aos ideais democráticos. Apoiado pela oposição candidata-se às eleições para a Presidência da República, em 1958. Na famosa conferência do café “Chave de Ouro” (Lisboa) responde a um jornalista da France Press, que lhe pergunta o que fará com Salazar se ganhar as eleições, com a famosíssima frase “obviamente demito-o”. Assim, ganha o epíteto de General Sem Medo. A campanha eleitoral, difícil e perigosa, tem momentos altos em muitas cidades portuguesas. No Porto, a 14 de Maio, na véspera do seu 52.º aniversário a prenda não podia ser mais emblemática. O Porto das liberdades recebeu-o em apoteose. De S. Bento à Praça Carlos Alberto foi levado em triunfo. Aqui, emocionado, lembrando-se, talvez, de D. Pedro IV, declara: “o meu coração fica no Porto”. 50 anos depois o Porto presta-lhe homenagem. Para além das cerimónias habituais, a Câmara Municipal dedica-lhe uma estátua da autoria de José Rodrigues, ali, em frente do Palácio Balsemão, onde há meio século fora recebido por uma multidão de apoiantes.

    O General tinha carisma, é um facto, mas também um programa político. Essencial seria acabar com a censura e a polícia política (PIDE) e promover o desenvolvimento económico e social do País. Não se cumpriria o programa. O candidato do regime, Almirante Américo Thomaz, no dia 8 de Junho de 1958, ganhou com 75% dos votos a “eleição”. O resultado fabricado não obstou a que o regime tremesse. Salazar não perdoou a Delgado o terramoto político. Eleições nunca mais. Feita a revisão da Constituição para manter a aparência de legalidade, de futuro os Presidentes da República seriam eleitos por um confortável Colégio Eleitoral. Quando em 25 de Abril de 1974 triunfou a Revolução dos Cravos ainda era Presidente o Almirante Thomaz… E Delgado? Em 1959 conheceu o caminho do exílio. Brasil, Argélia, França, Itália… Em Roma fundou a Frente Portuguesa de Libertação Nacional. O General não abdicara do seu desejo de derrubar a ditadura em Portugal. Em vão. Quando regressava ao seu País, no fatídico dia 13 de Fevereiro de 1965, perdia a vida, numa cilada sabe-se lá de quem, às mãos criminosas de um comando da Pide. 25 anos depois, em 1990, o General Sem Medo foi, a título póstumo, nomeado Marechal da Força Aérea e os seus restos mortais trasladados para o Panteão Nacional.

    Por: Rosa Giesta

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].