Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 29-02-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 31-10-2008

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    Na rota de Vikings, de criadores de impérios e de comércio do âmbar

    Quando se fala de países nórdicos, vêm-nos à memória os famosos guerreiros vikings originários das plagas do setentrião europeu. Envoltos numa aura lendária, provada está a sua existência e características guerreiras, a sua presença devastadora em muitas zonas banhadas pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo, embarcados nos seus navios distintivos de quaisquer outros: finos, baixos, de duas proas elegantes (drakkars – dragões), a remos e à vela, adequados à navegação, acompanhando as costas marítimas ou subindo rios como o Danúbio ou o Volga. Eram embarcações muito velozes e fáceis de manobrar o que lhes permitia fazerem incursões devastadoras com intenções de pilhagem, mas não de conquista, refugiando-se nas mais pequenas enseadas ou desaparecendo sem darem oportunidade aos seus inimigos. Guerreiros temidos, dedicavam-se também ao comércio com outros povos. Provavelmente terão viajado à Gronelândia, à Normandia, palavra que significava “homens do Norte”, à Grã-Bretanha, e a outros pontos da Europa, talvez mesmo ao continente americano. A investigação histórica vai descobrindo indícios da sua presença ainda que sem carácter de permanência. Consta, no entanto, que Canuto I, um chefe viking, foi rei de Inglaterra e que, no século X, estabeleceram um acordo comercial com o imperador de Constantinopla.

    Ao longo de milénios, a costa báltica tornou-se também conhecida, entre outros motivos, por ali existirem grandes concentrações duma substância conhecida como âmbar, resina fóssil de cor amarela, à vezes avermelhada ou castanha, segregada por coníferas que, há mais de 400 milhões de anos, povoaram aquela região. Tal como o ouro, a prata ou o marfim, o âmbar foi objecto de cobiça desde a mais remota antiguidade e ainda alimenta, nos dias presentes, um comércio específico concentrado nos países banhados pelo Mar Báltico.

    Foi tão grande a sua importância que as mitologias de muitos povos antigos como os gregos, os escandinavos e os chineses dela se apoderaram. Para os primeiros, o âmbar amarelo representava a cristalização das lágrimas derramadas pelas irmãs de Meléagro, um dos Argonautas, filho de Alteia e Oineu que, depois de grandes façanhas, acabou amaldiçoado pela própria mãe, foi perseguido pelas Erínias e morreu vítima de uma flecha de Apolo; na Escandinávia, concebiam um vale feito de âmbar destinado aos deuses que seria a materialização das lágrimas vertidas por Freia quando Odin partiu, errante, pelo mundo. Muitos outros povos antigos possuíram mitos semelhantes.

    Embora esta matéria continue a alimentar um intenso comércio com origem naquelas paragens, os olhos e a mentes dos estrangeiros são, hoje, atraídos pelo renome que alguns desses países alcançaram em todo o mundo devido ao seu elevado nível cultural e económico. Os chamados “países nórdicos” constituem modelos a seguir. O nosso primeiro-ministro não se coibiu de nos apontar o caminho, de olhos postos na Finlândia. A Suécia foi, desde a minha juventude, um país de grande estabilidade política e desenvolvimento industrial, garantindo aos seus cidadãos um nível de bem-estar sócio-económico exemplar e de notável estabilidade democrática, não obstante o regime monárquico que mantém. A Noruega e a Dinamarca têm sido igualmente exemplos para os restantes países do Velho Continente.

    Pelos motivos referidos ou por outros, quem não gostaria de conhecer Estocolmo, Helsínquia ou Copenhaga, porventura alongar a viagem à mítica Sampetersburgo, à histórica Gdansk onde nasceu o sindicato Solidariedade, liderado pelo operário electricista Lech Valesa, tão influente na derrocada do regime comunista europeu ou espreitar as capitais da Estónia, da Letónia ou da Lituânia? Para tanto, o melhor seria realizar um cruzeiro em que fosse possível incluir todas essas cidades, viajando num hotel flutuante de muito bom nível. Seria a única maneira de visitar, numa semana, as principais cidades de seis desses países.

    De avião deslocámo-nos até Barcelona e desta cidade a Helsínquia, capital da Finlândia, onde começou, de facto, o nosso cruzeiro. Do aeroporto até ao navio, onde procederíamos às diligências de embarque, fomos transportados em autocarros, percorrendo largas avenidas de uma cidade moderna, bem ordenada, sob a orientação de uma guia que nos foi dando indicações dos seus pontos de interesse mais relevantes. Nesse dia 26 de Julho os termómetros atingiam mais de 30 graus o que é de todo excepcional. A temperatura média, em Julho é de 18,9ºC. As esplanadas apresentavam-se repletas, havia uma circulação animada, jovens em tronco nu, a pele cor de caranguejo, esparramavam-se nos jardins e assemelhavam-se, em descontracção, aos seus congéneres do sul. O Mercado ao Ar Livre em pleno centro urbano confere a Helsínquia um tom alegre e colorido. Pena foi que o tivéssemos visto apenas de passagem a caminho da zona portuária. Terminado o “check-in” no navio, regressámos ao centro, porém o comércio já se encontrava encerrado desde as dezassete horas. Era sábado e, talvez por isso, cessara o bulício que, de passagem, tínhamos apreciado.

    Helsínquia foi fundada em 1550 por Gustavo Vasa rei da Suécia. A Finlândia esteve integrada no reino sueco, juntamente com a Noruega. Passou ao domínio da Rússia em 1809 e tornou-se independente apenas em 1917.

    Helsínquia é a sua capital desde 1812. O urbanismo é marcado pelo classicismo e pelo funcionalismo. Apesar de não possuir monumentos de eras remotas, compensa essa desvantagem (?) com a regularidade do traçado das suas artérias e a beleza que daí resulta. Tem a reputação de ser um lugar onde podem encontrar-se as ideias e os pontos de vista mais diversos e opostos num espírito construtivo. Aqui se realizaram os Jogos Olímpicos de 1952 que lhe valeram renome internacional e, desde então, ali tiveram lugar numerosos eventos políticos de diversas organizações internacionais. Foi também em Helsínquia que se realizou o Festival da Eurovisão em 2007. A Finlândia aderiu à União Europeia em 1995 tendo presidido à União em 1999 e 2006. Principal centro de um país com elevado nível cultural, Helsínquia proporciona a quem a visita um variadíssimo leque de actividades. Existem, na capital, 78 museus, 7 estabelecimentos universitários, 4 estabelecimentos de ensino profissional superior e um e variado programa de eventos, exposições, conferências, espectáculos de ópera, em qualquer época do ano. Magnificamente acolchoada por cerca de 100Km de costa e por mais de 300 ilhas é nomeada “filha do mar”e pupila do seu porto. Daqui partem constantemente navios turísticos para visitas a Suomenlinna, uma das maiores fortalezas marítimas do mundo, mandada construir por Gustavo Vasa para proteger Helsínquia dos apetites da Rússia, considerada pela UNESCO Património da Humanidade, e para as mais belas ilhas do arquipélago ou da sua costa.

    A gastronomia finlandesa é extensa mas deve muito à influência russa e dos restantes países nórdicos, caracterizada por abundância de peixe, sobretudo de arenque e de salmão. Por todos os motivos já referidos, a Finlândia é um belo destino de férias.

    Por: Nuno Afonso

     

    Outras Notícias

    · Magusto de S.Martinho

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].