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    Arquivo: Edição de 15-06-2008

    SECÇÃO: Arte Nona


    A revista de menor circulação em Portugal e arredores

    O número anterior (o #4) tinha saído em 2005, apresentado como trimestral, a um preço de 1,90 euros. O último número (o #5) sai agora, apresentado como anual e a um preço de 1,75 euros. Trata-se de “A Peste” – «a revista de menor circulação em Portugal e arredores», como proclama orgulhosamente no seu cabeçalho, que agora ostenta ainda um novo e glorioso atributo – «a única revista que baixa o preço».

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    Revista satírica e de humor, “A Peste” não pode considerar-se, num sentido estrito, como uma revista de Banda Desenhada.

    Mas é facto que além da ilustração e da paródia que vão enxameando os seus textos, fica ainda um lugar muito apreciável para as sequências narrativas ilustradas que definem a Banda Desenhada.

    O objecto em si apresenta-se com uma auto-estima bem digna de registo. No #4, por exemplo, na capa podiam ler-se slogans de autopromoção como «A revista que traz a retoma» ou ainda «A revista completamente desprovida de sentido do ridículo», o que lhe quadra muito bem.

    No verso da capa, a autopromoção prosseguia: «Mais barata que cigarros, tem mais papel, mais tinta e é muito mais saudável! – Saudável? Só se for na terra, como estrume para as florinhas! Visado pelo Armando.».

    E no verso da contra-capa: «Uma revista útil! – Útil? Só se for para a máquina recicladora de papel! Visado pelo Armando.).

    Na contra-capa, uma caricatura de Jorge Sampaio, ostentando na lapela um pin óbvio: «Eu perco peso».

    O #5 mantém essa auto-afirmação muito viva: «Uma revista com um novo papel – (sem dúvida a Peste está mais próxima da sua vocação: embrulhar o peixe! Visado pelo Armando), ou ainda (verso da contra-capa): «Uma revista futurista (sem dúvida! Apropriada para extra-terrestres! Visado pelo Armando)».

    Agora que sabemos o que “A Peste” pensa de si, vejamos o que pensa ela de outras coisas, com base no exemplo destes seus dois últimos números.

    Lembremos muito oportunamente o cartoon intitulado Manuela Raider, da rubrica “Os Jogos Preferidos dos Portugueses” em que uma recente vencedora de competições é assim apreciada: «Ela é implacável nas avaliações! Ela é excessiva nas vendas! Ela é cruel e especialista na acrobacia financeira! Combate os monstros do défice e do desperdício! Por mais que os contribuintes tentem esconder o dinheiro na caverna mais inóspita é certo que ela vá cobrar o imposto!». A amizade de Bush com Barroso também é invocada, no cartoon Bush e o seu Amigo Amestrado. Os cartoons são de Filipe Goulão.

    Em Zoomorfia Moderna, o texto “Cuidado com o Lobbysomem” (de Rui Ferreira, ideia, e Luís Valério, ilustração), é também muito ilustrativo.

    Carlos Farinha assina vários cartoons tendo como alvo a administração Bush.

    Além de outros textos e cartoons de carácter invariavelmente satírico, destaque neste #4 para a BD “Terrorismo Secreto”, de Lúcio Ferro – ideia – e Filipe Frade (Ninja) – arte.

    A estória passa-se no tempo em que Timor-Leste se encontrava ainda sob ocupação indonésia e se decide enviar um espião português para contactar a resistência. Como o dinheiro não abunda, o namorado da irmão dum dos gajos da secreta parece servir, mesmo que nunca tenha saltado de pára-quedas como o vão fazer experimentar e que o seu equipamento se resuma a um estojo de primeiros socorros, uma fisga, um volume autografado do Saramago e a uma medalhinha de N.ª Sr.ª de Fátima. Contra todas as previsões, a estória prossegue no #5, já preso o herói pelos indonésios!

    Mais uma vez, diversas fotolegendas de humor de Eduardo d’Orey, o editor de “A Peste”, textos de humor, mas neste # 5 um pouco mais de BD – surgem aqui “Cigarro”, de Claudino Monteiro, uma peça de humor negro, e “Revisionismo – Desencontro de Culturas”, de Eduardo d’Orey (ideia) e Claudino Monteiro (arte), sobre a colonização do Brasil e o Bloco de Esquerda, em... 1759.

    Enfim... e outras coisas, de Teresa Pestana, Gon (com Eduardo d’Orey). Mais sérios são “Psicobiografia do Bocage” do Bocage, por Rui Ferreira, e “O que é a poesia moderna erudita?”, de José Sereno.

    Um cheirinho d’”A Peste” pode ser encontrado no blog www.myspace.com/apeste”.

    A sátira política está muito presente neste #5, em que, aliás a capa lhe é dedicada, quando os rivais dos partidos QQE (“Vota em nós!”, “Vota, nós promete!”, “Vota QQE”) e Partido aos Bocados se defrontam na rua disputando os eleitores. A vantagem parece ir para o Partido ao Bocados, que oferece batata à pala pala a quem quiser.

    O “Choque Tecnológico” também é aqui beliscado. Exemplos: «O produto que vai fazer furor nos países africanos! Bastajuntar uma saqueta de Água em pó a um litro de água para termos 1 litro do precioso líquido: a água! Não pense duas vezes! Use água em pó! Por Indústrias da Foz do Arelho».

    No meio deste desbragamento, a página 33 deste último #5, “Rasgapub” é séria por demais, contendo os links de sites como: http://www.adbusters.org, http://:www.casseursdepub.net/, http://www.antipub.net, http://publisexisme.samizdat.net ou http://www.cniid.org, e afixando princípios como estes: «(...) Sabemos que a publicidade é manipuladora e insidiosa, em alguns casos aviltante para a consciência moral das pessoas. Rejeitamos a exibição do corpo feminino e masculino para seduzir homens e mulheres ao consumo. Rejeitamos a publicidade a bebidas alcoólicas, que é produto sem precisão de publicidade para ter clientes. Rejeitamos o uso de técnicas científicas de psicologia do consumidor na produção publicitária para obter mais resultados (...)». E por aí fora.

    Por: LC

     

     

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