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    Arquivo: Edição de 15-03-2008

    SECÇÃO: Arte Nona


    O rasto de Washington

    Integrado na colecção lançada pelo “Público” em colaboração com as Edições Asa, a que aludimos no número passado de “A Voz de Ermesinde”, merece-nos hoje alguma atenção a obra de Enrico Marini e Stephen Desberg “A Estrela do Deserto”.

    Conceptualmente, trata-se de uma estória que tem lugar em pleno cenário western, nela figurando toda a habitual cenografia do género – os cavalos, a diligência, o saloon, as pistolas, o início da epopeia do caminho-de-ferro (que aqui, aliás tem um papel muito para além do residual), etc. –, mas que, na verdade, é um falso western, aproximando-se muito mais, pela tensão narrativa, do género thriller.

    Um poderoso homem político do Governo de Washington regressa a casa, na província, onde tem os seus momentos de repouso das lides governamentais e de outras (por exemplo, entre as muitas ocasionais que se pressentem, tem como amante a sua secretária – um típico exercício de poder dos homens bem sucedidos).

    Mas numa certa altura, o seu descanso transforma-se num autêntico pesadelo, quando vai dar com a sua esposa e filha assassinadas e marcadas com o desenho de uma estrela.

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    “A Estrela do Deserto”, do ponto de vista narrativo, é uma obra absolutamente exemplar, ou não fosse ela da autoria de Stephen Desberg, um prodigioso e multifacetado argumentista de Banda Desenhada.

    Desberg, nascido em Bruxelas em 1954, é o autor de muitos e diversos argumentos, tais como os de “Tif et Tondu”, o seu argumento de estreia (com desenho de Will, com quem mais tarde fará “Le Jardin des Désirs”, La Vingt-Setième Lettre” e L’Appel de L’Enfer”), “Mic Mac Adam”, “Billy the Cat”, “Arkel”, “Jimmy Toussel”, “Gaspard de la Nuit” (fantástico, com desenhos de Johan de Moor, com o qual também assina “Lait Entier” e a muito gozada série de humor “La Vache Pi”, a grande espia bovina), “Le Sang Noir”, “Le Lion Ailé”, “Le Crépuscule des Anges”, “Les Immortels”, “Tosca” e “Mayan”. Com Enrico Marini, para além de “A Estrela do Deserto que agora referimos, assinou também “O Escorpião”.

    O ritmo de “A Estrela do Deserto”, que combina sabiamente a narrativa na primeira pessoa do protagonista da obra, com o mistério e o suspense, “resolve-se” num volte-face espantoso que faz de Matthew Montgomery – esse protagonista – o alvo de uma vingança em vez de vítima de um crime e de perseguidor implacável de um traficante de carne branca que é, ao mesmo tempo, um aventureiro sem escrúpulos com um plano sagaz de enriquecimento e – só Desberg é capaz destas ironias alfinetadas – um amante apaixonado da natureza intocada.

    Alvo de uma vingança por um crime cometido pelo poderoso político contra as populações índias.

    O desenho de Enrico Marini (nascido em 1969), e que entre outras obras menos conhecidas é o autor dos desenhos de “Rapaces” (um argumento de Jean Dufaux), serve muito bem o argumento de Desberg, sendo indubitavelmente um muito talentoso desenhador.

    Curiosa a escolha de algumas personalidades públicas para servirem de modelo a algumas das personagens da obra, a começar pelo próprio Matthew Montgomery, cujas semelhanças com o actor Sean Connery não passam despercebidas. Caso ainda mais notório é o Guídry («mais que um colega e um pouco menos que um amigo» de Matthew nas próprias palavras deste que, como já se disse, narra na primeira pessoa muitas das peripécias da estória). Ora o rosto desta personagem é inconfundivelemente o do tenor recentemente desaparecido Luciano Pavarotti.

    No fim da estória, Matthew une-se a Wakita, a irmã da índia por quem a vingança terá sido cometida, como se o destino também se vingasse do óbvio modelo do habitual correr dos dias.

    Por: LC

     

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