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    Arquivo: Edição de 29-02-2008

    SECÇÃO: Cultura


    Matriz de Ermesinde elevada a catedral

    Foto ARQUIVO MANUEL VALDREZ
    Foto ARQUIVO MANUEL VALDREZ
    Mais uma vez, a cidade de Ermesinde vai oferecer à sua população um evento digno de qualquer grande capital. E, mais uma vez, a sua majestosa Matriz vai ser palco condigno dessa manifestação cultural – Concerto da Páscoa - que, desde há uma década, vem alimentando o gosto artístico dos nossos melómanos.

    Sob o alto patrocínio do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Valongo, da Presidência do Dr. Fernando de Melo, pouco a pouco vai surgindo no concelho uma consciência de que é preciso fazer deslocar para o domínio dos sentimentos estéticos o centro de gravidade das necessidades das populações, que não são apenas materiais, ou do domínio da razão pura, mas também do reino das emoções e sentimentos do Belo.

    Em consciência, tenho mesmo que dizer que se torna imperioso fugir à mesquinhez que vai entretecendo as rotinas do homem, e procurar refúgio e salvaguarda na Cultura e na Arte, na música, nomeadamente, que nos encaminha para regiões de sentimentos mais avançados. É que uma emoção estética – aquele “frisson” único que tantas vezes nos faz tremular a voz e o corpo – representa o que de mais nobre e sublime brota da natureza humana, e o homem avisado, dela possuído, vislumbra a outra face do Cosmos, a reflectir a Beleza Infinita de Deus.

    E que melhor cenário poderia ter esta grandiosa obra, já pela sua natureza, já pela substância dos valores em perfil, que um Templo grandioso como a nossa Igreja Matriz? Obrigado, Dr. Cón. João Peixoto, Dig.mo Pároco de Ermesinde, por, mais uma vez, ter deferido o pedido da CM. de Valongo, numa sábia contextualização das recomendações do Concílio Vaticano II. É um trabalho conjunto, Igreja e Sociedade, a favor do Homem Todo e de todos os homens. Exemplar.

    DA OBRA

    O Concerto da Páscoa acontecerá em 15 de Março, sábado, véspera do Domingo de Ramos, pelas 21,30 horas. 0 programa será a execução do célebre “Ein Deutsches Requiem” - Um Requiem Alemão, Op.45, de Johannes Brahms (l833-l897), para Coro, Orquestra e Solistas.

    O já nosso conhecido Coro da Sé Catedral do Porto (Maestro Eugénio Amorim) será acompanhado pelo EOP - Ensemble Orquestral do Porto do Porto e os solistas carla Caramujo (soprano) e Jorge Vaz de Carvalho (barítono). A direcção do concerto será do maestro Marc Tardue.

    Esta obra, que empolga em todo o mundo os públicos mais exigentes, já teve duas versões diferentes, anteriores. A segunda, de seis andamentos, estreou-se justamente há l40 anos (10/04 de 1868), 6ª Feira Santa, na Catedral de Bremen. No mês seguinte, Maio, o compositor acrescentou-lhe mais um andamento – o actual 5º – dedicado a sua Mãe, tendo a versão completa, de 7 andamentos, sido estreada em Fevereiro de l869, em Leipzig.

    Embora na construção desta obra se adivinhem vigas e pilares clássicos (por exemplo, a “fuga” do andamento n.º 6, das maiores da história da música), o seu conteúdo é, de todo, romântico e de intenso e denso dramatismo.

    Brahms, luterano, compõe sobre textos traduzidos por Lutero, em vernáculo alemão, do Antigo e Novo Testamento, rompendo com o tradicional texto romano da “Vulgata Latina” das Missas de Requiem. Assim, em lugar do Introito, Kyrie, Sequentia (o Dies irae, Dies ille), etc, Brahms inspira-se nos textos bíblicos que nos falam da vida e da morte do homem como a sementeira e a colheita: - «Bem-aventurados os que sofrem porque serão consolados. Os que semeiam com lágrimas colhem com alegria, trazendo os molhos de espigas» – assim começa a obra.

    ONDE

    SE VISLUMBRA

    O BELO

    Desta exegese diferente, mais luminosa, da vida e da morte do homem, surge um Requiem diferente, romântico, onde perpassa a inspiração genial de Brahms, que vai do pianíssimo inicial até ao pianíssimo final, com as mais irradiantes dinâmicas pelo meio.

    A experiência estética desta obra, cantada em alemão, poderá em muito ser ajudada pela leitura do texto em português (no programa). E perceber como Brahms interpreta musicalmente estes textos é entender porque é que ele, juntamente com Beethoven, são considerados os “filósofos da música”, na expressão de Henry Thomas.

    Votos de boa audição para todos, longe das televisões que passam ao lado do que de mais nobre brota da criatividade do homem, para nos trazerem apenas o que sobra de toda a alienação da “comédia” humana.

    Deixem-se arrebatar, de olhos cerrados e ouvidos atentos, num encontro imediato com o Belo, pela pulsão romântica do compositor sobre a metafísica do homem, neste Universo onde lhe foi dado atravessar os salões do Tempo. Com a certeza de que, «na hora da “colheita”, serão bem-aventurados os que vierem a morrer no Senhor». Assim termina a obra.

    Por: Abílio Cunha

     

     

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