“Melting pot” nos 30 anos da “Heavy Metal”
Não é impunemente, nem todos os anos, que uma revista – e neste caso uma revista de Banda Desenhada –atinge a bela idade de 30 anos. Pois é o caso da Heavy Metal Magazine, uma revista norte-americana, sediada em Nova Iorque (que curiosamente, é pelo menos nos dias que correm impressa no vizinho Canadá) e que acaba, no Outono de 2007, de dobrar essa fasquia.
Publicação “barroca”, dedicada a um conceito de BD que procura explorar universos fantásticos, no sentido da heroic phantasy, e da ficção científica, foi criada por Kevin Eastman, que continua a ser a figura por detrás do projecto, embora acompanhado por Howard Jurofsky (vice-presidente e director executivo), Pat Hayward (responsável pelo serviços de assinaturas) e Debra Yanover (editora), que Eastman saúda e a quem agradece, neste aniversário.
Pois para comemorar estes 30 anos de vida, nada melhor que uma história, “Melting Pot”, precisamente da autoria de Kevin Eastman (quanto ao cenário), estando a parte gráfica a cargo de Rob Prior.
Já não é a primeira vez que Eastman tentou levar por diante o projecto de edição desta história. De facto, já antes, com Eric Talbot e Simon Bisley, em 1995, tinha havido uma versão prévia, aliás publicada pela Kitchen Sink Press. E com Simon, constituído a base do filme de animação “Heavy Metal 2000”. Mas só agora o argumentista considera finalmente o trabalho realizado.
Cores de fogo, imagens dantescas e apocalípticas, eis o que não falta em muitos dos números da “Heavy Metal”, com as suas histórias turbulentas. “Melting Pot” não foge à regra.
É, mais uma vez uma história de ficção científica.
É mais uma vez uma história de guerra.
(Não é forçoso que assim o seja, na ”Heavy Metal”. Recorde-se o comentário que aqui fizemos, no n.º 600 de “A Voz de Ermweinde (01 de Agosto de 2007) a propósito da publicação na revista de “Mardi Gras”, de Eric Liberge (uma história originalmente editada na Dupuis).
Mas voltemos a “Melting Pot”. Aqui, num planeta exterior ao universo civilizado, existe uma sociedade dividida por dois grandes poderes (estatais, poder-se-ia dizer, embora o desenho destas sociedades mais faça aproximá-las de cópias grotescas e agigantadas de sociedades tribais). Num deles impera o reino da força e da arbitrariedade pura.
No outro, o reino inquisitorial de uma sociedade deísta, fria, implacável e disciplinada. Espartana.
O primeiro é o reino do exagero, dos sentidos, do físico.
O segundo o reino do estabelecido, dos mitos, do proibido.
Entretanto uma praga terrível – uma doença sexualmente transmissível, como a sida, atinge esse primeiro mundo, arrastando na sua queda, o próprio tirano, às mãos de uma sábia prostituta de luxo, em busca de vinganças.
O tirano – Lord Tyler –, antes de morrer, quer vender cara a sua derrota e leva, ainda mais, a destruição a todo o lugar por onde passa.
Sentido como uma ameaça, o mundo adverso – a cidade sagrada de Tarim, onde reina a religião do deus vivo, faz mobilizar os seus guerreiros para combater o destemido, indomável e invencível Tyler, o sem piedade. O final é uma carnificina, um banho de sangue atroz que faz mergulhar o planeta na devastação
Rob Prior escolheu, em detrimento do detalhe da figura, privilegiar a atmosfera asfixiante e densa.
As figuras assumem proporções gigantescas e míticas, com musculaturas exageradas e formas vigorosas.
Muitos planos de conjunto, sequências de vinhetas “animadas”, enquadramentos com larga profusão de picados e contrapicados, cores quentes, tornam palpável essa atmosfera irrespirável.
A história é introduzida por uma espécie por uma espécie de aproximação cautelosa, desde a aterragem desastrosa de uma personagem humana. Sem continuidade.
Por:
LC
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