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    Arquivo: Edição de 20-12-2007

    SECÇÃO: Crónicas


    Dois meses depois

    Passaram, finalmente, dois meses sobre a minha mais recente estadia em Almeida, mais uma vez com a finalidade de completar outros velhos trabalhos meus de Matemática, que esperavam, há anos, pelo seu fim! E isto apesar de três dos meus anteriores, enviados a certa instituição pública de ensino superior, nunca lá terem chegado, vão passados, precisamente, dois meses... O tempo português dos nossos dias... Efeitos de um fantástico cagaço com doze anos de vida! No mínimo!! Mas vamos ao que interessa.

    Muito decorreu, pois, nestes dois meses. Desde logo a chegada de Luís Filipe Menezes ao lugar que foi de Marques Mendes. Resultados? Bom, tudo na mesma. Em matéria de sondagens, claro. Porque a evidente verdade é que dali nada de diferente, a não ser para pior, há para dar.

    A dado passo da minha estadia em Almeida, eis que Fernando Pinto Monteiro, ele mesmo um almeidense, nos trouxe aquela famosa novidade que o não era: havia uns ruídos no seu telemóvel, que admitia estar sob escuta! Ora, hoje há escutas de todo o tipo e feitio, mormente, as feitas por particulares, como depois se pôde ver com aquela intervenção da ASAE, que num ápice descobriu e recolheu o que todos sempre souberam, mas se comercializava normalmente!

    Custa, porém, entender a tomada de posição de Fernando Pinto Monteiro sobre o excesso de escutas em Portugal, por ser hoje o tempo em que a diversidade de meios de comunicação é a perder de vista! É por tais meios que hoje se desenvolve o crime organizado vertiginoso destes dias!! Portanto, escutas a mais?!! Quando o combate ao crime organizado está à beira de ir por água abaixo?!!!

    Um pouco mais adiante, nova entrevista deste magistrado. Desta feita, sobre a inacreditável situação de dependência em que os magistrados ficariam à luz do novo diploma sobre vínculos, carreiras e remunerações. E cá estaremos para ver no que virá a dar o pedido de apreciação prévia da constitucionalidade do diploma pelo Presidente da República, porque nada garante que a autonomia do Ministério Público não venha realmente a desaparecer... A ver vamos.

    Um pouco depois, mais uma entrevista: a do meu antigo colega docente da Escola Superior de Polícia, hoje juiz desembargador a desempenhar o cargo que foi superiormente desempenhado por Rodrigues Maximiano.

    Há muito que mostrava estranheza por tamanho silêncio do Inspector-Geral da Administração Interna, mas valeu a pena esperar, porque na sua entrevista nos veio dizer a realidade inconveniente...

    Uma barulheira dos diabos! Pudera!! Ele é óptimo, o problema está em tocar na ferida...

    Uns dias depois, uma palestra em que foram oradores José Souto Moura, Cândida Almeida e Fátima Mata-Mouros. E foi com um enormíssimo gosto que escutei da segunda aquelas palavras de lucidez: pois se ao nível da Polícia Judiciária e das restantes polícias o problema da incontrolabilidade das escutas é já como se vê, como se pode imaginar que o serviço secreto as possa realizar, se a sua acção está abrangida pela lei do segredo de Estado?!! A evidência! Que de resto resulta dos qualificadíssimos livros que publicou e que pude ler, “Sob Escuta” e “Direito à Inocência”.

    Mas hoje mesmo, neste domingo em que escrevo este texto, eis mais uma entrevista sobre temas de Justiça. Desta vez, de Maria José Morgado ao “Diário de Notícias”. Pois, qual não foi o meu espanto quando dela pude ler a defesa da possibilidade do serviço secreto poder realizar escutas telefónicas!! Fiquei siderado com o modo simplista como tratou uma tal questão, parecendo desconhecer quanto tem vindo a lume por entre nós nesta matéria, e o que está hoje documentadíssimo sobre a acção dos serviços secretos um pouco por todo o Mundo. Será que Maria José Morgado tem conhecimentos históricos neste domínio?

    Por fim, o meu regresso a Lisboa, no Intercidades Guarda-Santa Apolónia. Eis que me surgiu um apontado cantor lírico, mas que não sabia os nomes dos compositores de óperas! Ao falar-lhe do Mefistófeles e do seu compositor, Arrigo Boito, respondeu-me em nome do Rigoleto!! Um verdadeiro cantor lírico!!!

    No banco imediato, mais à frente, um jovem fino, que procurava a todo o custo gravar as minhas palavras. Seria também compositor lírico? Foi pena que Pinto Monteiro ali não estivesse, porque eu ter-lhe-ia mostrado o que é uma escuta ambiente, colhida a partir de um telemóvel num dos bolsos de um dos passageiros... Uma cagufa dos diabos!!

    Dois meses que permitiram um acréscimo profundo do meu conhecimento sobre o apodrecido estado a que se chegou. Uma pândega! Uma fantástica pândega!! E lírica!!!

    Por: Hélio Bernardo Lopes

     

     

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