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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 20-09-2007

    SECÇÃO: Crónicas


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    Amanhã em Atenas

    Ao desembarcarmos em Atenas, a 23 de Julho, bem se poderia dizer que os deuses nos tinham abandonado, recolhendo-se aos seus aposentos no alto do Olimpo, enquanto os pobres mortais eram confinados à sauna em que se tinha convertido a capital grega. Deixáramos um país ainda meteorologicamente indefinido, que alternava dias frios e horas de febre, nuvens densas ou sol ridente, a provocar indecisão quanto à necessidade de nos fazermos acompanhar de chapéu, guarda-chuva, agasalho ou, simplesmente, esquecer tudo isso e confiar no calendário como se fora a verdade revelada.

    Agora sentíamo-nos abafar, transpirávamos fortemente, a ponto de encharcarmos a roupa leve que trazíamos vestida e de quase nos arrastarmos, valendo--nos a força de vontade na ânsia de rever os lugares emblemáticos da cidade. Do aeroporto, fôramos transportados ao navio atracado no porto do Pireu e, uma vez cumpridas as formalidades do embarque, dispúnhamos de tempo livre para descobrir este magnífico porto, um dos principais da Europa, e a cidade com o mesmo nome, uma das maiores da Grécia. Infelizmente, pouco mais pudemos ver além do porto mas, ainda assim, tivemos a oportunidade de apreciar o intenso movimento de toda a zona envolvente e de nos refrescarmos, tranquilamente instalados numa das múltiplas esplanadas da beira-mar

    Fruto das vicissitudes históricas, ao período de esplendor da Cidade-Estado à qual estava ligado por uma extensa muralha, mandada construir em 480 A.C. por Temístocles, sucedeu a destruição ordenada pelo general romano Sulla no ano de 86 a.C. que, durante muitos séculos, manteve esta localidade outrora famosa numa simples aldeia de pescadores. O ressurgimento só aconteceu a partir de 1834 com a construção de edifícios neo-clássicos e de fábricas modernas. Hoje, é uma cidade cosmopolita, de grande importância económica, vital para a indústria turística do país. A maioria dos navios de cruzeiro que sulcam o Mediterrâneo parte daqui ou aqui termina o circuito. E as viagens sucedem-se de Março a Outubro e às vezes ainda para além destes limites.

    Foto ARQUIVO
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    Em relação a viagens anteriores, a deste ano apresentou-se-nos com maior simpatia. O isolamento a que o nosso idioma era votado sofreu alteração de monta: entre os cerca de seiscentos tripulantes, mais de dez por cento eram brasileiros ou portugueses e dos mil e oitocentos passageiros a quota lusa cresceu significativamente, havia gente do Norte como nós, do Centro e da área geográfica de Lisboa, casais com os respectivos filhos e outros familiares. Como os brasileiros, por natureza, são alegres e comunicativos quase todos os demais tripulantes sabiam cumprimentar ou agradecer em Português. O comandante era luso das bandas de Leiria, assim como o chefe da secção de bares, restaurantes e afins, também algumas recepcionistas, e quem nos serviu à mesa foi um conterrâneo da Guarda que respondia pelo portuguesíssimo nome de José Gonçalves, auxiliado pelo mexicano Pedro. Mas se os tripulantes lusitanos eram atenciosos por dever de ofício, os passageiros cá da terra furtavam-se ao diálogo com os seus patrícios, ao contrário dos espanhóis que nos tratavam com cortesia e até com afabilidade, bem merecendo o apodo de nuestros hermanos. Ao longo da semana, em várias oportunidades, fomos objecto de atenções que não eram frequentes nos cruzeiros passados, tendo nós retribuído com igual lhaneza de atitudes. Afinal, o velho preconceito histórico parece não fazer qualquer sentido.

    O jantar constitui, nestas viagens, o momento fulcral de cada jornada no que diz respeito à convivência entre a população embarcada. Se, pelo dia fora, quase todos saem para visitar os lugares que constam do roteiro ou se entregam a actividades de lazer e repouso, a refeição da noite reúne, em dois turnos, todos os companheiros de viagem. Na primeira noite jantámos na companhia de um casal extremamente simpático. Eram argentinos, ambos advogados, e realizavam uma espécie de Volta ao Mundo. Este cruzeiro constituía somente um episódio do seu périplo. Tivemos uma agradável conversa sobre os respectivos países, a sua história e o seu relacionamento através dos tempos. Falámos de nós, das filhas deles e dos netos, trocámos cartões, prometemos corresponder-nos após o regresso. Na noite imediata e nas restantes ficámos separados, mas encontrávamo-nos de quando em vez para trocarmos impressões acerca dos lugares visitados. Tal como nós, privilegiavam a parte cultural do programa e revelaram enorme satisfação pelas maravilhas que lhes foi dado apreciar. Houve sítios, naturalmente, que lhes despertaram um interesse maior tais como Dubrovnic e, claro, Veneza.

    Em próximas crónicas falarei desses locais, das suas particularidades, das sensações que cada um deles nos despertou, e contarei algumas histórias curiosas que são, afinal, o tempero e a justificação destes relatos.

    Por: Nuno Afonso

     

     

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