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    Arquivo: Edição de 20-09-2007

    SECÇÃO: Editorial


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    Os jovens não têm idade

    Ao longo da minha vida aprendi muito com as pessoas de idade. O pouco que sei sobre a minha terra, as minhas raízes, foram quase sempre histórias contadas na primeira pessoa, saberes orais ou escritos, que passaram de geração em geração. Sempre as ouvi ou li com muita atenção e entusiasmo.

    O que se passa comigo repete-se na maior parte das famílias, mas julgo que ainda não conseguimos valorizar devidamente os saberes das pessoas com mais idade junto das crianças e adolescentes.

    Fotos LUÍS LAGE
    Fotos LUÍS LAGE
    A separação das famílias, a ausência dos avós e bisavós no acompanhamento das nossas crianças está a criar um vazio que leva ao esquecimento e ao isolamento dos mais velhos e à indiferença dos mais novos.

    Os velhos “sábios” fazem falta junto da nossa juventude.

    Há pessoas de tal maneira radiosas que conseguem transformar o mundo à sua volta, especialmente pela força interior que têm e pela forma como amam a vida.

    São verdadeiras forças da natureza, que iluminam e contagiam os que com eles convivem.

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    Tenho um amigo desses, um jovem com oitenta e tal anos, com uma frescura e delicadeza fora do comum.

    A sua idade é uma verdadeira riqueza, soube acumular muitos saberes e isso faz dele uma pessoa com muitas histórias para contar. Se associarmos a todo esse saber um charme muito especial e uma capacidade física invejável, é sem dúvida um companheiro ideal, para um bom passeio, uma boa conversa, um bom jantar.

    No passado dia 14 deste mês tive o privilégio de fazer com ele uma caminhada de algumas horas em plena Serra da Estrela, entre rochas, zimbros e urzes, de mariola em mariola, na busca de encontrar um novo percurso para a lagoa escura.

    Garanto-lhes que tenho muitos amigos, trinta anos mais novos, que não o conseguiam fazer.

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    Sempre atento e cauteloso, preocupado com todo o grupo, solicitando ajuda para os que poderiam ter mais dificuldades, gentil para com as senhoras a quem tratava por meninas, sempre um Senhor…

    Quando atingimos um ponto donde se avistava a lagoa, a sua alegria transbordou e foi comovente ouvi-lo, de braços abertos, numa atitude de felicidade plena:

    – Já posso morrer!

    Desceu até à lagoa, e qual o meu espanto, mergulhou com entusiasmado e pediu mesmo uns óculos para tentar ver-lhe o fundo.

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    – Será que há por aqui trutas?

    É esta vontade de viver, de fazer coisas, de lutar, que faz a diferença, e não o somatório de anos, sempre visto como um pesadelo.

    Médico de profissão, nunca se reformou. Tem mudado de tarefas ao longo da vida... privilegiando sempre aquelas que mais gosta.

    Por: Fernanda Lage

     

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