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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 10-09-2007

    SECÇÃO: Arte Nona


    Amigos à moda do Porto

    Debruçamo-nos hoje sobre uma proposta de BD com contornos muito interessantes, pelo que representa do ponto de vista da edição autónoma e de uma certa autenticidade e mesmo provocação – no sentido mais angélico do termo – “O Projecto de Fecundar a Lua”, de Janus e Marco Mendes.

    Embora a autoria fique aqui apresentada como se fosse a meias, fica claro que é sobretudo uma obra do segundo que, a modos de notas autobiográficas, de caminho e em jeito de homenagem, nos apresenta Janus, outro quadrinista – singular – do Porto, autor cuja obra permaneceu muito tempo no limbo do esquecimento ou editado apenas em fanzines de parca distribuição.

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    A primeira provocação de Marco Mendes surge ainda antes do início da primeira prancha, e é a própria capa do fanzine, sem qualquer desenho, e onde apenas, rasurado aqui e ali, aparece um texto manuscrito que retrata simplesmente um diálogo entre os dois autores.

    «– Preciso de tranquilidade. A minha vida está a perder sentido. Eu ofereço a minha versão da realidade, ela está aí. Nas animações, na BD, enfim... é o meu trabalho. Mas no fundo não há diálogo.

    – Há diálogo, Janus. Acredita. Senão não estaríamos aqui. Agora... o que eu quero saber é se queres entrar nisto a sério. Ter uma publicação bimensal bem distribuída pelo Porto, com qualidade.

    – Vale a pena fazê-lo, Marco Mendes?

    – Não me obrigues a recitar Fernando Pessoa...».

    Diálogo é então aquilo que precisamente existe, de sobejo neste Projecto.

    O risco que é logo assumido de chofre na capa da obra, prossegue depois, visivelmente, com “Domingo”, de Janus, uma peça mais do que sobre a monotonia do fim-de-semana, sobre a solidão, que se faz mais notória quando não há ninguém por perto. A peça resume-se a uma sucessão de vinhetas, tipo natureza morta, que representam outros tantos instantâneos sucessivos da passagem por um interminável desfilar de cafés do Porto, entre as “onze menos dez” e as “seis e dez” de domingo.

    Depois é a vez de Marco Mendes, com “Diário Rasgado”. O interessante na obra é o carácter intimista (de “diário”, precisamente), em que o autor se expõe e ao seu mundo, como numa espécie de vitrina. Neste Diário há lugar para a personagem de Janus, ele próprio, ali retratado de forma quase hiper-realista, e não falamos só dos aspectos gráficos.

    Outro aspecto interessante da obra é a sucessão de técnicas gráficas que Marco Mendes vai experimentando, mantendo sempre, contudo, o registo de rascunho, ou esboço, numa espécie de alegoria para os estados de espírito “provisórios” que todos vamos vivenciando, mais ou menos, com destaque para a auto-análise do amigo e parceiro de projecto Janus.

    E por falar em amigo e parceiro de projecto, este aqui referido também inclui um poster de Miguel Carneiro, cúmplice de Marco Mendes em muitas actividades ligadas à promoção da BD, como por exemplo “A Mula” (http://www.osgajosdamula.blogspot.com).

    Por: LC

     

     

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