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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 10-09-2007

    SECÇÃO: Opinião


    Uma entrevista que não esqueço

    Em face da recente tomada de posição do Primeiro-Ministro, José Sócrates, sobre o futuro tratado europeu, e do modo como o Presidente da República abordou o tema, ainda durante a sua visita às comunidades portuguesas nos Estados Unidos, ocorreu-me uma histórica sua entrevista, quando era Primeiro-Ministro, a três jornalistas portugueses do tempo. Um desses jornalistas era Artur Albarran.

    A dado passo da entrevista, um dos entrevistadores perguntou a Cavaco Silva se, no caso do nosso poder político assim o desejar, Portugal poderia abandonar a União Europeia. De um modo firme, o primeiro-Ministro respondeu que isso era naturalmente assim: Portugal poderia sempre sair, desde que o desejasse.

    Confesso que, tendo ficado algo duvidoso, mas não podendo confirmar a resposta de um modo garantido, deitei-me a acreditar na resposta convicta de Cavaco Silva.

    Os anos passaram e Romano Proddi chegou ao lugar que é hoje o de Durão Barroso. E um dia foi-lhe perguntado, precisamente, o que o tal jornalista colocara a Cavaco Silva, de imediato respondento o então Presidente da Comissão Europeia: não, quem entra não pode voltar a sair!

    Tinha, claro está, de propender mais para esta posição, no natural pressuposto de que, sobre um tal tema, seria altamente provável que Romano Proddi soubesse mais do que Cavaco Silva. E por assim me fiquei.

    Ora, há dias, pude ler, num dos nossos jornais nacionais, que um dos pontos que terão ficado exarados no texto do novo tratado, e que nunca figurara em nenhum dos anteriores, é a possibilidade de um Estado pode deixar a União Europeia se assim o desejar. Ou seja, Cavaco Silva, ao menos por omissão dos anteriores tratados, não terá tido razão na sua resposta naquela entrevista.

    De molde que de pronto me ocorreu: e terá razão quando agora diz que a discussão sobre o modo de ratificação do tratado só deverá ter lugar depois da elaboração do mesmo? Bom, penso que não, tal como se dá com o chefe da diplomacia holandesa, que comunicou já que entende que, no seu país, não se justifica novo referendo, porque, diz ele, o texto que vai agora ser aprovado já não contempla os aspectos que estiveram na base da recusa dos holandeses. Uma falácia, facilmente desmontável, porque quem julgou o anterior tratado é que tem de asseverar se o actual está como diz o ministro holandês.

    O problema é que entre nós o Primeiro-Ministro já assumiu o compromisso solene de realizar um referendo onde os portugueses se possam pronunciar sobre se aceitam ou não o novo tratado. Um tratado que mais não é que o anterior, com as essenciais modificações cosméticas, mas extremamente perigoso, porque comporta perdas reais da nossa soberania.

    Conhecem-se já as linhas balizadoras do novo tratado, o que não se tem ainda é o texto onde essas balizas estejam já materializadas. E é por isso que José Sócrates se pode já hoje pronunciar sobre se se mantém o compromisso solenemente por si prometido aos portugueses, ou se também aqui, falta de novo. Ou seja, também, não esteve nada bem o Presidente Cavaco Silva.

    Por. Hélio Bernardo Lopes

     

     

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