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    Arquivo: Edição de 30-07-2007

    SECÇÃO: Destaque


    XIV FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO

    Paladino do Porto

    Em jeito de cavaleiro medieval em defesa da sua dama, Júlio Couto esteve em Ermesinde para falar do objecto da sua paixão, o Porto. Economista de profissão, «filho de mãe costureira e avó peixeira», Júlio Couto tornou-se uma das figuras de divulgador mais conhecidas da cidade onde nasceu, numa ilha, há muitos anos já.

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    Nasceu em Ramalde, numa ilha que ainda existe porque os seus moradores ainda lá querem ficar, gratas a uma solidariedade entre vizinhos que não existe «nas ilhas em vertical».

    Paladino da cidade, que vive e respira até à medula, Júlio Couto defendeu em Ermesinde o linguajar tripeiro, contou a estória do nascimento do prato das tripas, associou as vitórias desportivas do F. C. Porto à democracia conquistada com o 25 de Abril, lembrou a resistência heróica da cidade, confirmada muitas e muitas vezes, contra o poder dos nobres, contra os castelhanos, contra os miguelistas, contra os monárquicos, contra os fascistas...

    Cidade de pergaminhos democráticos, o Porto sempre se ergueu contra a tirania, corajoso e «invicto».

    Júlio Couto desfia episódios, da sua infância – como o do enterro do velhote que vitimado por um ataque cardíaco, “ressuscitou” já à porta do cemitério –, como o da velhota a quem ia comprar aguardente para as esfricções” (era, era!...), como dos fatos que se punham no prego para ir ver jogar o Salgueiros a Matosinhos –, e depois nas pequenas e grandes histórias da cidade do Porto e seus arredores.

    Explica, por exemplo, a estranheza do “desembarque” de D. Pedro no Mindelo – que fica muitos muitos quilómetros a norte do sítio do real desembarque –, já que o local, na praia da Arnosa, Pampelido, hoje chamada de Memória, em honra do acontecimento histórico, era então chamada praia dos Ladrões, local de nome pouco apropriado ao desembarque de um rei...

    E ainda dos liberais, conta a progressão do seu exército até ao centro da cidade, pela rua hoje conhecida como Cedofeita, por entre hidranjas azuis e brancas, que ainda correspondem hoje às cores verdadeiras da cidade.

    Ou do cerco do Porto, quando as mulheres iam abastecer os soldados e uma mulher viu regressar a sua vizinha com a marmita ainda cheia da comida que ia levar ao homem.

    – Então, vizinha?

    – Já não precisa dela!

    Fala dos padroeiros do Porto. Qual S. João?! Primeiro foi S. Vicente, que era de quase todas as cidades, depois S. Pantaleão, a quem aponta como padroeiro dos comerciantes, que fizeram do Porto o que ele hoje é.

    Sempre fizemos comércio. Aprendemos com os árabes a navegar contra o vento. E tornámos maiores uns barquinhos árabes chamados caravos.

    Fala de sinais estranhos inscritos na Sé, dois riscos, que serão uma representação funcional das medidas do palmo e do côvado, e de um signo-saimão, decerto lá deixado por um operário judeu.

    Fala do arroz doce, criado em tempo de penúria, ou das tripas – que foi o que sobrou do aproveitamento das vísceras das vacas que a cidade então ofereceu para abastecer os navios do rei que partiam em direcção a Ceuta...

    No período de perguntas e respostas conta como o povo arranjou dinheiro para fazer a Maternidade Júlio Dinis.

    Tantas histórias. E que paixão esta, assolapada, visceral, pelo Porto...

    Por: LC

     

     

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