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    Arquivo: Edição de 30-07-2007

    SECÇÃO: Destaque


    XIV FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO

    Zeca Afonso visitou a Feira

    A noite do dia 11 de Julho foi-lhe inteiramente dedicada. Primeiro com Paulo Esperança, dirigente da Associação José Afonso (AJA) - Norte, que falou da associação e dos 20 anos de caminho com José Afonso (desde a sua morte); depois, com José António Gomes – comunicação sobre a sua obra poética e sobre a impossibilidade de separar o autor do indivíduo que foi José Afonso; seguidamente, com Manuel Pereira Cardoso, num testemunho vivencial sobre o cantor, dos seus tempos de Grenoble, e finalmente,no palco do Parque, ao ar livre, com a intervenção do grupo musical AJA Força, composto precisamente em honra da sua obra (e da sua vida), grupo este também muito mais que um simples grupo musical, envolvido nas coisas à imagem do Zeca.

    O Zeca visitou mesmo a Feira.

    Foto URSULA ZANGGER
    Foto URSULA ZANGGER
    Paulo Esperança começou por falar no que representam estes 20 anos para a AJA, abordando depois, brevemente, a obra do cantor, e referenciando aspectos de muito interesse e, por vezes, menos evidentes, na obra do Zeca.

    Um desses aspectos que referiu foi o seu trajecto do fado de Coimbra, que revolucionou, introduzindo-lhe uma segunda viola, até à balada, como lhe chamou após essa revolução.

    Lembrou o papel imenso não só como autor, mas também como divulgador (150 poemas musicados de autores portugueses, galegos e africanos), a influência decisiva nos cantores da sua geração.

    «Falar do Zeca é também falar de outros cantores – Cília, José Mário Branco, Tino Flores, Adriano, Vitorino...».

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    Paulo Esperança falou mesmo de um triângulo mágico Portugal/África/Galiza na obra de José Afonso.

    Tanto antes como depois do 25 de Abril cantou sempre temas fracturantes, fiel até ao fim à ideia da «cidade sem muros nem ameias/com gente igual por dentro/gente igual por fora».

    José António Gomes, que abordou mais especificamente a obra poética do Zeca começou por comentar que «os tempos não vão de feição para que a sua vida e a sua obra sejam respeitadas, hoje voltamos a ter censura (...). Não é hoje possível nas rádios de maior audiência ouvir Adriano, Fanhais, Cília, e quase nunca José Mário Branco ou Fausto, Brigada Victor Jara ou Manuel Freire, o único que se salva é o Sérgio Godinho, que foi trabalhando com músicos mais jovens (...), ou o Carlos Paredes como música de fundo. Do Zeca Afonso não passam sobretudo os discos pós-25 de Abril».

    J. A. Gomes definiu esta expressão musical do Zeca como canção popular urbana, de compromisso, enraizada nas tradições culturais portuguesas.

    Apontou depois que, em Zeca Afonso se reuniam estes três dons: uma poesia sui generis, a voz de timbre único e o talento inato para a melodia de alguém que «pouco ou nada de música sabia». O trilho do Zeca, no seu encontro com a tradição musical portuguesa, só é ultrapassado pelos desbravadores que foram Fernando Lopes Graça e Michel Giacometti.

    Na obra de José Afonso este ridicularizou o salazarismo, a rede bombista, a recuperação capitalista após o 25 de Novembro, apontou ainda J. António Gomes.

    Foto URSULA ZANGGER
    Foto URSULA ZANGGER
    E referindo um aspecto já antes ao de leve tocado, lembrou que o Zeca não musicou apenas a sua poesia, ele cantou Airas Nunes, Camões, Lope de Vega, António Nobre, Reinaldo Ferreira, Jorge de Sena, António Quadros, Ary dos Santos, Fernando Pessoa (este último como em “O Comboio Descendente”, «que tão bem retrata a sociedade portuguesa, em que uns riem por ver os outros, outros riem sem ser por nada (isto para não chorarmos)».

    Vereador da Câmara de Baião à data da morte do cantor, Manuel Pereira Cardoso recordou um episódio da sua vida, em que num prédio de Grenoble, se cruzou numa noite de convívio e cantoria com o Zeca, em 1973.

    Pereira Cardoso terminou asseverando que a obra do Zeca «não pode constituir património de nenhum grupo ou nenhum partido», sublinhando assim a sua importância e universalidade.

    Findas as palestras, foi o tempo de ouvir “Verdes são os Campos da Cor do Limão” como expressamente anunciado, e outras obras do Zeca ali recriadas pelo AJA Força.

    Por: LC

     

     

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