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    Arquivo: Edição de 15-06-2007

    SECÇÃO: Arte Nona


    VINHETAS JOSÉ CARLOS FERNANDES
    VINHETAS JOSÉ CARLOS FERNANDES

    Parece alguém a chamar...

    Agora que o tempo se apresenta outonal, chuvoso e trágico, mas em que, feito trocista, o calendário promete as delícias da época estival, pareceu-nos interessante lembrar “Alguém Desarruma Estas Rosas e Outras Estórias”, de José Carlos Fernandes, a pretexto do seu “Mar d’Outubro”, uma das estórias aí incluídas.

    A feliz colectânea, surgida sob chancela da editora pedranocharco, com data do já longínquo Setembro de 1997, reúne várias obras publicadas ou produzidas entre os anos de 1991 e 1993. A maioria delas aparecida em fanzines (“Bedelho”, “Comtrastes”, “Quadrado”) ou nos catálogos de algumas mostras da altura.

    José Carlos Fernandes é um caso muito singular na Banda Desenhada portuguesa. A sua capacidade enquanto narrador de estórias raríssimas vezes encontrou entre nós alguma emulação. Mas junte-se a isso, por via das dúvidas, o grafismo que coloca ao serviço dessa narração.

    O sentido de estética gráfica do autor é bem ilustrado nesta edição, pelo recurso a pequenos desenhos, a meio caminho da estilização iconográfica e que, na prancha de capa de cada obra e num posfácio à edição, onde se explica a sua origem, se materializam em apelativos ícones.

    Esta sinopse final da obra vale por mil discursos sobre a construção das narrativas de José Carlos Fernandes, e mostra como nesta edição, elas se encontram unidas por um laço que as irmana num tronco comum.

    Esse laço é a Literatura, ou melhor, é a Arte, ou a sua recriação a partir de novos e renovados silêncios e diálogos.

    Em José Carlos Fernandes vislumbra-se essa tensão poética resultante da pertença a um mundo que é de todos (como de “todas as partes” são os ambientes escolhidos para situar as sua estórias, mesmo para além das heranças cenográficas óbvias das referências que as atravessam).

    Entre essas referências estão presentes a Música, o Cinema, a Literatura, a Banda Desenhada ou a Pintura –, de Pink Floyd, Georges Meliès, Gabriel Garcia Marquez, Ray Bradbury, Albert Camus, Rainer Maria Rilke, Roy Liechtenstein, Charles Schultz, Peter Bruegel ou Billie Holiday, para só citar alguns.

    Em “Mar d’Outubro”, a estória que nos trouxe até aqui, adaptada de Ray Bradbury, um casal vive, no augúrio do pesadelo dela em o perder, um dia de praia, que acaba com o triunfo temido dos piores presságios.

    «Tive um pesadelo horrível», diz ela, e é ela que parece detestável no decurso da estória, até que no trágico desfecho, a reconhecemos afinal angustiada e amorosa...

    A mestria na forma de contar não é apenas de Bradbury, com as últimas vinhetas a soltarem o desespero e o texto a afogar-se como ele se afogou, inelutavelmente...

    Por: LC

     

     

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