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    Arquivo: Edição de 28-02-2007

    SECÇÃO: Cultura


    José Hermano Saraiva esteve no Fórum Cultural de Ermesinde

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    O ilustre historiador José Hermano Saraiva esteve no passado dia 27 de Fevereiro no Fórum Cultural de Ermesinde, numa visita enquadrada na actividade de extensão cultural da Biblioteca Municipal de Valongo, intitulada de “Os Escritores Visitam a Biblioteca”. A recebê-lo esteve uma numerosa assistência, que encheu por completo o espaço cultural ermesindense, composta por alunos e professores de algumas escolas do concelho, bem como por inúmeras personalidades ligadas à vida política, cultural e social valonguense.

    A plateia assistiu com muita atenção e entusiasmo à conferência “Conversas em Valongo”, momento onde José Hermano Saraiva aplicou os seus vastos conhecimentos sobre alguns dos muitos capítulos da História de Portugal. Começou por demonstrar a sua emoção e gosto por estar a realizar esta palestra num lugar que em tempos havia sido uma fábrica de telhas, um espaço que após o encerramento dessa importante unidade fabril deu lugar a um «pardieiro abandonado e que mais tarde seria transformado num espaço onde se faz cultura».

    TEMPO

    DE VIVER

    ÀS NOSSAS

    CUSTAS

    E pegando nesta transformação, por assim dizer, de local onde um dia se fizeram telhas e onde agora se faz cultura, José Hermano Saraiva questionaria a assistência sobre o que será actualmente mais correcto, se fazer “telhas ou cultura”. «Ou seja, o mais importante para um indivíduo será começar por cima, pelas telhas, ou por baixo, pelas raízes culturais? Hoje em dia as “telhas” são as universidades, que são cada vez mais e de onde saem os doutores, os indivíduos com um canudo. E quando recebemos um canudo quer dizer que já temos uma licenciatura, que já temos licença para não trabalhar, para viver à custa dos outros (risos na sala). E durante muito tempo os portugueses viveram assim, à custa do trabalho e das riquezas de outros. Era o tempo dos Descobrimentos, o tempo em que Portugal detinha um grande império composto pela Índia, pelo Brasil, e mais tarde pelas colónias africanas. O tempo em que vivíamos à custa das explorações desses países. Agora isso acabou, temos de viver às nossas custas, e é esse o grande problema que hoje gira à nossa volta, como viver às nossas custas. Existem duas maneiras de o resolver, ou se continuam a criar cada vez mais universidades, e com elas a criar elites, ou então criar e a aproveitar as raízes, e crescer a partir delas. E embora hoje predomine a tese das “telhas”, ou seja, de que as bases começam pelas elites, eu defendo que essas bases se devem começar a construir por baixo, pelas tais raízes, pois só assim os portugueses poderão sair da crise em que se encontram», explicou.

    Referiria também que a esperança voltará a fazer parte do vocabulário dos portugueses quando estes perceberem precisamente isso, que têm de aproveitar as suas raízes, a sua cultura, os seus próprios recursos, aprender a não depender dos outros e a terem capacidade para conduzir o seu próprio destino. Com tudo isto José Hermano Saraiva pretendeu assim destacar o importante papel da cultura no crescimento e formação de um indivíduo, dando em seguida os parabéns ao município de Valongo por possuir um espaço cultural tão nobre quanto aquele onde se encontrava.

    CONVERSANDO

    COM O PÚBLICO

    foto
    Contaria ainda outras “estoiras” que prenderam a atenção do púbico, como por exemplo a de Isabel Castro Pereira, uma fidalga que há muitos séculos atrás transformou uma fábrica de telha de cal branca, situada nas proximidades do Convento do Varatojo (Torres Vedras) numa capela cristã. Mulher essa que ainda hoje muitos desconhecem ser a mesma pessoa que Beliza (nome que contém todas as letras do nome próprio Isabel), a musa que Camões evocou em muitos dos seus poemas.

    Posteriormente o professor/historiador pôs-se à disposição do público para responder a todas as questões a serem colocadas por este último. Bem, nem todas, uma vez que se escusou a falar de Oliveira Salazar, quando o nome deste foi puxado para a conversa por um membro da plateia, dizendo que «se fosse a falar no Salazar estaria a transformar esta alegre sessão num momento político. E política e cultura não se dão bem, são como as sogras e os genros», respondeu diplomaticamente.

    José Hermano Saraiva receberia ainda das mãos do presidente da Câmara Municipal de Valongo, Fernando Melo, uma medalha do concelho de Valongo e um diploma que marcou a abertura oficial do Prémio Clube Amigos da Biblioteca, que daqui em diante irá distinguir todas as personalidades que visitem este espaço. Depois da conferência no Fórum Cultural de Ermesinde o professor/historiador seguiu para a Biblioteca Municipal de Valongo, local onde terminou a sua visita ao nosso concelho.

    Por: Miguel Barros

     

     

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