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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-11-2006

    SECÇÃO: Destaque


    Contributo para um Projecto de Educação para Portugal (1)

    “A Voz de Ermesinde” prossegue, neste número, a publicação de contribuições para o Debate Nacional sobre Educação, estando aberta ao envio por parte dos leitores, de reflexões que se enquadrem nesta temática. O texto de Paulo Geraldo publicado (em anexo), não tendo sido enviado com essa intenção, consideramo-lo interessante e pertinente para o destacarmos nestas mesmas páginas.

    (...)

    PROPOSTAS

    PARA O SUCESSO

    DA EDUCAÇÃO EM PORTUGAL

     

    Quando se tomam medidas em educação, deve-se pensar num projecto a longo prazo, e não em medidas imediatas com o objectivo apenas de reduzir a despesa pública! Quando se tomam medidas em Educação não podemos cair na tentação de acentuar medidas, ou dar mais do que já está mal!

    É difícil em duas ou três páginas dizer tudo o que penso sobre a Educação em Portugal, mas peço-lhe que faça uma leitura do “Projecto Caravela” (que anexo) e algumas das minhas propostas para uma Educação de Qualidade, para poder ficar com uma ideia do que penso.

     

    1. APOSTA

    NA FORMAÇÃO

    DOS PROFESSORES

    Hoje, grande parte da formação que é ministrada aos professores, continua ainda a privilegiar apenas o domínio do saber, desprezando em muito a competência, o domínio do “saber fazer”, das capacidades e das atitudes. Muitos professores ainda têm uma formação para serem repetidores de informação. Se por acaso, tiverem uma boa formação, entram num Sistema com currículos baseados no “ conhecimento em espiral” de recurso contínuo à memória de conteúdos abordados ao longo dos vários anos de escolaridade, acabando por se adaptarem a essa realidade.

    Todos os professores, já no sistema, deveriam fazer uma reciclagem na sua formação, que vá de encontro a práticas pedagógicas que vá de encontro ao tal “saber fazer”.

     

    2. MAIOR INVESTIMENTO

    NOS RECURSOS

    MATERIAIS

    E HUMANOS

    Ao nível dos recursos humanos temos mais que suficiente, faltando apenas a tal aposta na formação. Não se pode ter uma máquina (Sistema), sem haver alguém com formação para a manobrar. Se mudarmos o sistema, temos de apostar na mudança na formação.

    A maior parte das escolas têm laboratórios de Ciências e de Físico-Química e/ou de Informática. Porque não criar salas específicas para cada disciplina ou grupo de disciplinas (exemplo: Matemática, Língua Portuguesa, Línguas Estrangeiras)? Ao nível dos recursos materiais é imprescindível dotar as escolas do Ensino Básico (e de preferência as salas específicas referidas), com materiais manipuláveis. Por exemplo, é importantíssimo na Sala de Matemática, haver para cada conteúdo materiais de exploração (“cuisenaires”, ábacos, geoplanos, tangrams, etc, etc….).

    As novas tecnologias também são importantíssimas, e penso que todas as escolas deveriam ter pelo menos um laboratório móvel de computadores portáteis em rede, bem como programas informáticos para serem utilizados em cada disciplina.

     

    3. REDUÇÃO DO NÚMERO

    DE CURSOS DE FORMAÇÃO

    INICIAL DE PROFESSORES

    NAS UNIVERSIDADES

    E ESCOLAS SUPERIORES

    DE EDUCAÇÃO

    É urgente deixar de formar professores para o desemprego, mesmo que isso acarrete o desemprego a um punhado de formadores.

     

    4. ESTABILIDADE

    DO CORPO DOCENTE

    Quando se fala de estabilidade, podemos abordar o termo em diferentes âmbitos. Numa escola é importantíssimo a manutenção de um quadro docente estável para que o Projecto Educativo tenha sucesso. Penso que a medida de serem obrigados a permanecer numa Escola 4 (1º e 2º Ciclo) ou 3 anos (3º Ciclo e Secundário) é já uma medida nesse sentido. Em primeiro lugar, para a medida ser eficaz é importante abrirem-se mais lugares nos quadros de escola. Em segundo lugar, para essa medida ser justa para todos os professores, os concursos a Quadros de Escola, deveriam ser apenas de 4 em 4 ou de 3 em 3 anos, conforme o Ciclo. Não se pode aceitar que alguém que seja obrigado a ficar numa escola durante 3 ou 4 anos, se veja ultrapassado por outra pessoa, no ano seguinte, com classificação profissional inferior, e fique colocado numa escola próximo da sua residência.

    A verdade é que quando um professor concorre para uma determinada escola, ninguém o obrigou a fazê-lo. Contudo, muitos professores, se não arriscassem a ficar fora da sua área residencial, longe da sua família, longe dos seus filhos, correriam o risco de ficar desempregados sem dinheiro para sustentar os seus ou sem mais uns dias de serviço para melhorar a sua classificação para o concurso de professores. No meu caso, arrisquei a Ilha da Madeira. Em oito anos fiquei sempre com a minha mulher (professora do mesmo grupo) na mesma Escola. Desde contratados a professores do quadro, a Secretaria Regional de Educação nos últimos anos tem feito um esforço para que isto aconteça. Não nos obrigaram a ficar 4 anos, não aboliram o destacamento pela lei dos cônjuges, no entanto primam pela estabilidade quer para as escolas quer para a família e bem estar dos docentes. Penso que a este nível, quer os Açores quer o Continente, poderiam em matéria de estabilidade aprender um pouco com o exemplo da Madeira.

    Um professor, como qualquer outro profissional, só consegue ser bom no que faz se se sentir bem de saúde. Saúde, segundo a O.M.S. é “um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou de enfermidade”.

    A verdade é que, infelizmente, um Ministério que deveria fazer tudo para que um dos intervenientes do processo de ensino-aprendizagem, o professor, fosse um bom profissional, tem nos últimos tempos, tentado passar para a opinião pública uma imagem que não corresponde, em nada, à maioria dos professores que todos os dias dão o seu melhor e remam contra a maré de um Sistema em decadência, por culpa dos sucessivos governos que nunca tiveram um projecto a longo prazo, um rumo para a Educação em Portugal.

     

    5. POLÍTICA EDUCATIVA

    A LONGO PRAZO/

    /RETOMA DA POLÍTICA

    EDUCATIVA BASEADA

    NA PEDAGOGIA

    POR COMPETÊNCIAS

    Não existe uma convergência nas políticas educativas, dos sucessivos governos. Portugal tem tido alguns sucessos em termos políticos, quando tem um projecto que é levado com empenho até ao fim, mesmo com transição de governos. Foi o exemplo da Expo ´98 e o Euro 2004. Se tivemos êxito nestes projectos, porque falha o Projecto de Educação? Porque cada Governo que surge, lembra-se de iniciar um novo projecto (tipo penso rápido), esquecendo o que já foi feito. Dá--se mais umas pinceladas de preto num quadro que já é muito negro. Temos de pensar num rumo…a longo prazo.

    Ainda com o Governo de Guterres e com a Secretária de Estado, Ana Benavente, houve a tentativa de mudar algo na essência, com a substituição da Pedagogia por Objectivos, pela Pedagogia por Competências e a criação do Projecto Curricular de Turma. Foi boa a intenção, mas a formação dos professores não acompanhou o rumo traçado. Continua-se a dar aulas como há 100 anos atrás! O sistema mantém-se! Um Sistema que é exclusivamente avaliado com exames nacionais e que põe em causa a Pedagogia por Competências! Depois de ouvir a sua opinião sobre os exames, não percebo como é possível a continuidade dos mesmos???

    Por: Rui Manuel Ávila Rosa *

    * Professor do 4º Grupo – 2º Ciclo, na Fajã da Ovelha, Ilha da Madeira.

    (continua na próxima edição)

     

     

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