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    Arquivo: Edição de 15-10-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    Viena

    Falar de Áustria em geral ou de Viena em particular é falar de poder, de beleza e de cultura. Embora outras cidades sejam forte motivo de atracção como Insbruck, capital do Tirol, que foi também capital da Áustria no tempo do imperador Maximiliano I (1490) e é, hoje, das mais famosas estâncias de Inverno do mundo, ou Salzburgo pátria de Mozart e centro de cultura, Viena ostenta, ainda hoje, as insígnias da família Habsburgo que a dirigiu durante 650 anos, desde 1278, ano em que Rodolfo se torna Duque da Áustria até 1916 quando a Europa se submerge na Primeira Grande Guerra. O último imperador Habsburgo, Carlos I abdica e parte para o exílio na Ilha da Madeira onde morre e está sepultado.

    Fotos NUNO AFONSO
    Fotos NUNO AFONSO
    A Áustria é um mosaico de maravilhosas paisagens desde os Alpes tiroleses até às colinas ondulantes e às vinhas da Burgenland. Culturalmente falando, bastará citar alguns dos nove grandes compositores mundiais que aqui nasceram ou viveram em permanência: Mozart, Mahler, Bruckner, Schubert e Johann Sebastian Strauss... Mas embora os austríacos sejam muito dedicados à música, os seus interesses espirituais abrangem um vasto leque de conhecimentos nas Letras, nas Ciências e nas Artes. Neste país nasceram quinze Prémios Nobel dos mais diversos domínios, o mais recente dos quais foi Friedrich Von Hayek, conselheiro de Margareth Thatcher em 1964, além da escritora Bertha Von Suttner e Karl Lansteiner que, em 1930 ganhou o Prémio de Medicina pela sua descoberta dos grupos sanguíneos, avanço que abriu caminho às transfusões de sangue. Sigmund Freud, por si só, já constituiria motivo de orgulho para o povo austríaco assim como o seu discípulo Alfred Adler. Na literatura distinguiram-se muitos escritores dos quais os mais conhecidos modernamente serão Stefan Zweig e Rainer Maria Rilke

    Passámos dois dias em Viena, tempo reduzido para apreciar e saborear o que a cidade tem para oferecer aos nossos sentidos: monumentos grandiosos, amplas e airosas avenidas, imensos espaços verdes, gastronomia diversificada e uma ementa cultural para todos os gostos e extensiva a todas as classes sociais.

    O turista apressado mas ávido pode gerir o tempo de que dispõe participando em visitas guiadas que o conduzirão pelo Ring, avenida imponente que circunda o centro de Viena e que permite conhecer alguns dos mais famosos lugares desta cidade. Tem ao seu dispor também um metro eficiente ou os belos eléctricos vermelhos e brancos que passam constantemente. Com um pouco mais de vagar, é possível conhecer a cidade caminhando a pé, o que permite captar a ambiência típica da capital da valsa e do lieder. Se quiser assistir a qualquer dos eventos culturais diários que ali se realizam, tem que fazer a respectiva reserva com antecedência. Nos dias que ali permanecemos estavam programados concertos de Mozart e Strauss para os quais não havia já lugares disponíveis segundo informação da nossa guia.

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    O ponto central das visitas guiadas é o Schloss Schonbrunn, a “pequena casa de Verão” da Imperatriz Maria Teresa, como ela própria dizia, de 1441 divisões, mas cujo projecto original era muito mais ambicioso, atendendo à magnificência da soberana e à intenção de rivalizar com Versailles. Só quarenta divisões podem ser apreciadas na “visita alargada”, mas os guias, habitualmente, optam por mostrar apenas vinte e duas no que chamam a “visita imperial”. A sala mais impressionante é a Galeria Grande com quarenta e três metros de comprimento e dez de altura que, desde 1761, tem sido palco de inúmeras cerimónias oficiais, incluindo o Congresso de Viena em 1814/15 que, entre outras decisões favoráveis a Portugal, determinou nos fosse entregue Olivença o que, como é sabido, nunca se verificou, e a Conferência de Viena em 1961 entre John Kennedy e Nikita Krushchev no auge da Guerra Fria.

    A Sala Chinesa, circular, tem um elevador onde era transportada a comida para os jantares privados que aí tinham lugar e uma escada secreta usada pela imperatriz para se encontrar com o seu amante, o chanceler austríaco. Consta que o marido Francisco de Lorena não era mais fiel do que a esposa. Quem sabe se não teriam um contrato de amor livre “avant la lettre”?

    Também se pode visitar o Salão dos Espelhos onde Mozart, com seis anos de idade, se sentou ao colo da imperatriz e o quarto que pertenceu à mais famosa dos seus dezasseis filhos Maria Antonieta, a infeliz rainha de França guilhotinada pelos revolucionários franceses em 1793. Pudemos ver o quarto e gabinete da imperatriz com a imponente cama de dossel onde descansava e despachava os assuntos de Estado, porque o seu volume corporal a impedia de se manter em pé ou sentada. Os aposentos do imperador Francisco José e da sua bela esposa Isabel (Sissi) revelam o contraste entre o gosto espartano dele e o luxo de que ela gostava de se ver rodeada. Além do palácio, há os magníficos jardins e o imenso parque encimado por um arco triunfal conhecido como Gloriette donde se tem uma esplêndida vista sobre a cidade. Do conjunto fazem parte a Casa das Borboletas, o Jardim Zoológico mais antigo do mundo ainda em funcionamento, O Museu dos Coches com mais de 100 carruagens, cadeiras e carrinhos de bebé desde 1690. Caso se escolha a saída Hietzing, acede-se à estação de comboios privativa do imperador.

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    Ao invés do que se poderia imaginar pela sua categoria, pelas suas dimensões e pela extensão da área do complexo em que está inserido (240.000 m2), não é o Palácio Imperial(Hofburg) o monumento mais visitado de Viena. Essa honra cabe, sem quaisquer reticências, ao Schonbrunn. E, no entanto, aquele dispõe de 2.600 quartos, 19 pátios, 18 alas e 54 escadarias principais e ali vivem ou trabalham mais de 5.000 pessoas incluindo o Presidente austríaco e o seu pessoal. Anexo ao palácio encontra-se uma enorme jardim com denso arvoredo chamado “Jardim do Povo” ao qual toda a gente tem acesso. Igualmente dignos de visita são a Igreja de S. Estêvão, o Museu Sigmund Freud e a Escola Espanhola de Equitação, assim chamada porque era de Espanha que importavam os garanhões Lippizaner, fundada em 1735 e que só a partir de 1918 oferece espectáculos ao público, de resto sempre esgotados. Os cavaleiros mantêm o traje tradicional de casacos castanhos e chapéu de dois bicos e podem ver-se na praça contígua.

    A gastronomia austríaca é muito rica e diversificada e não se resume ao famoso gulash também típico da Hungria mas preparado de forma diferente. No entanto, o que torna Viena inconfundível é a sua doçaria. A visita a uma das inúmeras pastelarias vienenses é quase obrigatório e posso garantir aos leitores que é um prazer requintado para a vista e para o paladar, mas constituirá verdadeira tortura para aqueles aos quais a saúde não permite saborear tais delícias. Confesso que pequei, embora me tenha limitado à prova de um apfelstrudel (folhado de maçã e passas polvilhado de açúcar). Minha esposa acompanhou-me enquanto o nosso filho degustava um sachertorte (bolo com uma camada de compota de pêssego por baixo de uma cobertura de chocolate). Também os vinhos constituem motivo de deleite sendo a Áustria um dos grandes produtores do néctar na Europa. Dos mais conhecidos é o Blaufrankish, um vinho seco e muito saboroso bem como o St. Laurent, um excelente moscatel.

    Nestas crónicas difícil é seleccionar o mais importante entre tudo o que nos impressionou. Infelizmente há um limite que não devemos ultrapassar. Peço desculpa ao possível leitor, mas por aqui me fico.

    Por: Nuno Afonso

     

     

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