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    Arquivo: Edição de 30-09-2006

    SECÇÃO: Cultura


    «A minha Pátria é a Língua Portuguesa»

    Promovido pela associação Rosa Azul, que tem vindo a organizar o ciclo de debates “Os Portugueses no Mundo: Desafios e Oportunidades no Séc. XXI”, decorreu no passado dia 21 de Setembro, no auditório do Centro Cultural de Campo, um colóquio com a participação da escritora Maria Isabel Barreno, uma das famosas Três Marias das “Cartas Portuguesas”. A oradora convidada ilustrou a sua palestra com uma situação que lhe foi muito familiar: o ensino da Língua Portuguesa em França. A autora mostrou-se favorável à influência crescente do Português do Brasil no mundo, dando como exemplo os benefícios da Língua Inglesa que lhe foram trazidos pela presença norte-americana.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    Após breve apresentação do Projecto Rosa Azul por Teresa Rosmaninho, Maria Isabel Barreno iniciou a abordagem do seu tema esclarecendo como é que os filhos dos emigrantes aprendem Português em França.

    Maria Isabel Barreno elucidou que, geralmente, a terceira geração de emigrados já não fala Português, e esclareceu ainda sobre as principais razões da aprendizagem da língua pelos filhos dos emigrantes, geralmente com base numa expectativa de regresso.

    Muitas vezes, a estes filhos de emigrantes radicados há muitos anos em França, resta-lhes, ao conhecerem o Portugal real – a aldeia de onde os pais eram provenientes – apenas uma grande desilusão. Desenquadrados, mal aceites entre a comunidade francesa que não os assimilou totalmente, também não são aceites entre os portugueses, sendo vistos como estrangeiros – dá-se assim o esboroamento da Pátria mítica.

    Conforme explicou a escritora, se não houver regresso, a ligação à Língua Portuguesa perde-se, em definitivo, à 4ª geração.

    De qualquer modo, hoje, a imigração portuguesa em França não é comparável à que foi no seu auge – hoje restam 200 mil quando chegaram a ser 800 milhares.

    A escritora abordou também a questão da dificuldade em definir estratégias adequadas para a defesa da Língua, com base nos próprios atavismos e fragilidades culturais, de que um dos exemplos é a divisão do mundo num redutor “cá dentro” e “lá fora”, sendo este “cá dentro” muitas vezes caricaturado como “atrasado” relativamente a tudo o que for estrangeiro. Isabel Barreno falou-nos de um povo sem muito orgulho no seu próprio presente, que parece ter ficado refém do passado glorioso.

    A escritora concretizou depois alguns disparates das estratégias do Ensino de Português na Europa, como o facto de se escolherem professores da Língua Portuguesa em Portugal, sem dúvida excelentes para ensinar o Português como primeira língua dos alunos, mas não como uma segunda língua, não tendo o conhecimento das realidades culturais dos alunos que iam ensinar, como o facto de se estabelecerem calendários escolares portugueses, completamente alheios realidade concreta dos calendários de outros países para onde esses professores eram enviados (tarde e a más horas) e ainda da evolução internacional das línguas, com o ascenso do Inglês e a natural menos apetência pelo Português como segunda língua de opção em França.

    A “utilidade” do Português surge assim mais, hoje, como oportunidade para alguns universitários que procuram explorar competências que lhes serão úteis, por exemplo, no quadro de uma empresa com um projecto petrolífero em Angola...

    O longo caminho a percorrer para tornar o Português em língua veicular, de comunicação não se pode compadecer com um ensino que se limita a promovê-lo apenas como língua académica e a insistir na promoção de Camões, como se não houvesse outras propostas culturais para além dele.

    A escitora, que referiu quatro ou cinco anedotas da má promoção do Português, referiu, entre outras a péssima localização do Instituto Camões em Paris, ao invés de se apostar numa parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, essa sim muito bem situada em Paris.

    Aceitando a evolução natural das línguas, como organismos vivos e em mutação e, por isso, a sua renovação, Maria Isabel Barreno, no seu discurso, também produziu algumas abordagens mais controversas e, no geral, de cariz produtivista. Favorável ao papel do Brasil na difusão da Língua, e justamente recusando qualificar o seu Português como inferior ou superior, Isabel Barreno defendeu contudo algumas ideias que sustentaram sempre a primazia do grande sobre o pequeno ou do urbano sobre o rural, caindo ela também, numa espécie de novo provincianismo que tanto quis combater.

    O PROJECTO ROSA AZUL

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    O Projecto Rosa Azul, conforme explicou Teresa Rosmaninho, «tem como principal objectivo contribuir para um maior conhecimento da realidade da mulher portuguesa imigrada». Sendo uma associação sem fins lucrativos, a Rosa Azul, foi criada no Porto em 2004, pretendendo promover os Direitos Humanos e, em especial, a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, desenvolver estratégias e programas que favoreçam os cidadãos portugueses ou de ascendência portuguesa e promover o estatuto cultural, contribuir para a melhoria do acesso à educação, à saúde, à justiça, à ciência ao emprego e à qualificação profissional dos cidadãos portugueses ou de ascendência portuguesa, residentes ou não residentes em Portugal, defender, divulgar e promover a língua e cultura portuguesas, incentivar a filantropia e o mecenato, de indivíduos ou organizações, a favor das comunidades portuguesas no mundo, aproximar estas do património humanístico, cultural e linguístico comum e finalmente, desenvolver projectos dirigidos a cidadãos não portugueses legalmente residentes em Portugal.

    Por: LC

     

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