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    Arquivo: Edição de 30-09-2006

    SECÇÃO: Opinião


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    MATAI-VOS UNS AOS OUTROS

    As guerras económicas

    No grande mercado mundial as guerras já não visam a conquista seguida da ocupação de grandes territórios e submissão dos povos para a constituição de grandes Impérios de domínio político-económico como ainda era o desígnio das potências em conflito na II Guerra Mundial. Agora, são guerras económicas que têm por fim, a conquista de mercados e a abertura de fronteiras ao grande capital transnacional e suas multinacionais. Os grandes objectivos são a especulação, a rentabilidade e o lucro e, nessa perspectiva, o domínio territorial não é rentável, para além de ser condenado, após a descolonização, pela comunidade internacional. Concluiu-se, à luz da nova Economia, que a administração territorial de grandes impérios, só acarreta despesas e problemas e já não é necessária, bastando agora o domínio económico, impondo o neoliberalismo e a economia de mercado. Isto é que passou a ser relevante.

    Para implementar esta nova forma de colonialismo que dispensa o domínio ou a onerosa e condenável administração colonial do passado, altera-se o conceito de democracia, adoptando novos parâmetros em que a adopção de conceitos neoliberais e da economia de mercado são imperativos. Desta forma, “democratizar” tem o fim perverso de ocidentalizar, americanizar, globalizar, abrindo as portas aos interesses dos grandes grupos financeiros que, para ajudar, submetem. É impor, nem que seja à força, a sociedade consumista que o Ocidente adoptou como símbolo de modernidade e bem--estar. Os bem-comportados que a aceitem, serão felizes. Os mal comportados que a rejeitem, tê-la-ão à força de tiros de canhão, mísseis “Cruzeiro” e “Tomahawk”.

    O Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) actuam como grandes exércitos financeiros ao serviço do grande capital transnacional, que submetem as nações que se deixam prender nos seus tentáculos, criando-lhes dependências pela via de financiamento e ajuda económica necessária ao desenvolvimento que anseiam para atingir o modelo-padrão de sociedade aliciante baseada no consumismo. Estes países, na sua maioria, ficam dependentes do sistema e aos mais recalcitrantes, bastará a ameaça de corte de financiamento ou dum embargo económico.

    DISSUASÃO ARMADA EM CASOS EXTERMOS

    O exército armado com armas sofisticadas de longo alcance, poderosíssimas e até de destruição maciça, é apenas um elemento de dissuasão, coacção e punição, uma espécie de guarda-costas e só actua em casos extremos de punição de rebeldes ao sistema que não adoptem os novos conceitos democráticos ou que, não dependendo dos exércitos financeiros, estejam imunes às suas ameaças. Isto é em casos que não possam ser resolvidos por embargos ou pela dependência financeira. Estas intervenções armadas punitivas e coercivas não visam a ocupação de território mas substituir, caso se torne necessário, regimes rebeldes não “democráticos” por outros “democráticos” que se submetam ao sistema económico. São as novas regras e conceitos a que vimos assistindo a partir da Guerra do Golfo onde não houve ocupação do país derrotado nem mudança de governo mas foi completada agora com a Guerra do Iraque. Foi precisamente logo após a queda da URSS e o início do processo de Globalização Económica.

    Temos o exemplo da guerra da Jugoslávia, quando a Rússia foi impedida de prestar auxílio a Milosevic, porque estava dependente dos exércitos financeiros (BM e FMI) para resolver os seus graves problemas económicos. Os jugoslavos, rebeldes ao sistema, ainda com uns resquícios de socialismo, tiveram de ser punidos com bombardeamentos intensos, pois atacaram os muçulmanos albaneses e a sua UçK que controla 80% da entrada da heroina na Europa, prejudicando assim o rendoso negócio da droga. Depois de manobrados pela tenebrosa CIA, cederam à sua chantagem, vendendo o seu presidente eleito por um punhado de dólares (200 milhões) de que tanto necessitavam para colmatar os efeitos dos bombardeamentos americanos da NATO. Milosevic, acusado de genocídio, estava a ser julgado, com dificuldade, pelo novo TPI, quando faleceu, na prisão, de morte suspeita, tendo sido substituído, no cargo que ocupava, por um envergonhado Kostunica que se submeteu à nova ordem económica mundial. Má estreia para um tribunal já polémico que não pode julgar americanos e que pouco mais vale do que os tribunais dos taliban.

    Na Venezuela, passou-se um caso idêntico, com a CIA a usar os mesmos processos subversivos na movimentação de massas para derrubar o governo de Hugo Chavez, acusado de pretender instaurar um regime comunista de tipo cubano que poderia prejudicar os interesses americanos no seu petróleo. O programa, no Chile de Allende, foi o mesmo, só que terminou de forma mais trágica, com o assassínio do presidente socialista eleito.

    O governo do Paquistão, também dependente dos exércitos financeiros, prestou grande auxílio aos americanos na guerra contra Al Qaeda e os taliban do Afeganistão, cedendo-lhe bases e a utilização do território em troca de ajuda financeira, mesmo contra a vontade de sua população fanática pela causa do Islão e de Bin Laden. Os governos da grande maioria dos países islâmicos, não alinham em guerras santas que os fundamentalistas apregoam, porque estão dependentes da ajuda financeira e dos petrodólares que o Ocidente lhes paga pelo petróleo e também da rentabilidade dos seus investimentos no Ocidente. Os grupos terroristas ou jiahdistas, como a Al Qaeda, visam substituir estes governos ocidentalizados por governos ou teocracias islâmicas, caso vençam a guerra em curso.

    ESTRATÉGIAS DE DOMESTICAÇÃO

    A Argentina atravessou uma grave crise económica, há cerca de dois anos, provocada, de forma velada, pelos exércitos financeiros, com a finalidade de a tornar mais dependente do Sistema, como dizia El País: «Las multinacionales se llevan las ganancias fuera, al exterior (...) el G-7 pidió una más estrecha colaboración com el FMI com el fin que se puedan desbloquear las ayudas y el país suramericano pueda salir de la severa crisis en que se encuentra».

    Agora temos a II Guerra do Iraque mas esta mais lenta e à revelia da ONU, que já provocou e continua a provocar milhares de vítimas. A finalidade é a mesma: substituir governantes rebeldes por outros que se integrem no Sistema e não prejudiquem os interesses americanos e do Ocidente em geral numa região de grande riqueza petrolífera. Se a I Guerra do Golfo ficou cara pela compra dos votos do Conselho de Segurança da ONU para aprovação da Resolução 678 que deu luz verde à ofensiva, esta é uma guerra que está a sair ainda muito mais cara, porque não foram previstas acções terroristas tão intensas de grupos suicidas islâmicos. E, para o fim em vista, nem seria necessária, pois, tal como o Paquistão, tratava-se dum regime laico, aberto aos interesses ocidentais se estes fossem negociados.

    Assim o domínio dos grandes grupos financeiros transnacionais vai alargando o seu poder, submetendo os povos ao Sistema, destruindo a diversidade das nações e a identidade dos povos, seus costumes, usos e crenças. Já não lhes basta o domínio duma parte do globo agora, com o grande avanço das comunicações, querem o mundo todo aos seus pés. All the World!

    Por: Reinaldo Beça

     

     

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