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    Arquivo: Edição de 28-02-2006

    SECÇÃO: Editorial


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    Escola

    Quando eu era pequena e desenhava escolas, elas tinham sempre uma porta em arco, árvores com pássaros, trepadeiras floridas com joaninhas, meninas e meninos a jogar à bola, a saltar as cordas, a jogar à macaca, e sempre muitas, muitas flores.

    Na rua conheciam-se as professoras, sempre bem identificadas, carteira dum lado, saco com cadernos no outro, e muitas vezes raminhos de flores, flores campestres que os alunos apanhavam no percurso para a escola.

    As escolas têm cada vez menos árvores, os recreios não têm flores nem formigas, as crianças não apanham joaninhas, não levam grilos para a escola, os pássaros não vêm comer as migalhas que caem do pão.

    Hoje as crianças não apanham borboletas, não metem os pés nas poças de água quando chove, não encontram gelo nos tanques de água e nos ribeiros para brincar às vidraças, não têm o prazer de apanhar uma boa chuvada, de correr contra o vento. Também não têm frieiras nos joelhos e nos dedos dos pés, não levam “bolos” de palmatória nas mãos geladas porque deram erros ou não fizeram os trabalhos de casa.

    Não ficam de orelhas de burro virados para a parede, embora muitas vezes fossem mais espertos do que o filho do senhor doutor, que tinha lá em casa quem sabia ler e escrever! Mas tinham uma bola de trapos, um carrinho de rolamentos que fazia inveja ao melhor triciclo lá do sítio.

    Hoje os alunos têm carrinhas para os levar à escola, à natação, a jogar à bola. Não molham os pés, não têm frieiras, mas faltam às aulas porque têm febre, porque lhes dói a garganta, porque têm alergias, porque são obesos, porque estão nervosos, porque lhes dói a barriga, porque têm que fazer dieta, porque têm de ir ao ginásio, porque ficam a dormir, porque a mãe não os acordou, porque o pai não os pode levar à escola.

    Não se sabem orientar, têm medo de tudo, das formigas com as quais brinquei, têm nojo dos caracóis, os mesmos que eu enfeitava com papéis para ficarem mais bonitos e se diferenciar nas corridas que organizávamos.

    Não distinguem uma minhoca duma cobra.

    Mas vivem num mundo extremamente perigoso, violento e perverso sem darem por isso…

    Não brincam com brinquedos de lata que cortam os dedos!, mas brincam com jogos que incitam à violência, que ferem a alma, que deturpam as mentes.

    Não lêem histórias de encantar, porque são treinados para jogos de guerra, onde a vida e a morte perderam todo o sentido.

    Gosto de escolas com vida; alegres, barulhentas, democráticas, onde se formem cidadãos responsáveis, solidários, cultos e sensíveis.

    Segundo a opinião de Juan Delval, professor de Psicologia da Educação, as escolas precisam de promover uma mudança em três pontos fundamentais: nos conteúdos, na forma de organização e na função do professor. Penso que ninguém tem dúvida sobre essas questões e que elas são um pilar para a mudança. Dentro desta perspectiva há um ponto que me parece muito importante e que tem a ver com a organização da própria escola. Segundo o autor, ela tem de estreitar os vínculos com os meios sociais onde está situada. Tem de ser um pólo de desenvolvimento cultural, abrir-se à comunidade, ser aceite por essa comunidade. Há experiências de escolas com espaços desportivos, recreativos e outros, abertos às populações; esse diálogo é fundamental para quebrar barreiras entre a escola e o meio onde está inserida.

    Mas as escolas não são paraísos, ilhas isoladas da sociedade, hoje a escola é local de conflito, de competição, de desigualdade, de vaidades e de medos, e é nesta escola que professores e alunos vão ter que conviver, lutar e investir na construção de uma escola mais solidária, mais democrática, aberta a novas formas de aprender nesta sociedade em mudança.

    “Aprender a aprender” e aprender a lidar com novas estruturas familiares, novas gerações, novas perspectivas de desenvolvimento, maior diversidade cultural, novos ritmos, novos tempos…

    Por: Fernanda Lage

     

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