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    Arquivo: Edição de 15-09-2005

    SECÇÃO: Editorial


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    Quem quer casar com a Carochinha que é bonita e engraçadinha?

    Era uma vez uma carochinha muito bonita e engraçadinha que governava uma Câmara Municipal.

    De quatro em quatro anos a carochinha procurava novos parceiros para a substituir na gestão de um património, que sucessivamente passava de geração em geração...

    Vivia-se num país democrático e, entre cravos, rosas e madressilvas, todos se preparavam para corresponder às exigências da carochinha.

    No seu palácio havia uma grande janela rodeada de madressilvas onde a carochinha aparecia para falar ao seu povo. Em época de eleições, ela aparecia bem maquilhada, retocada das mazelas que a governação de quatro anos lhe provocava. Era um espanto, ao longe enganava qualquer um, e comentava-se: Que beleza!, Que aprumo!, Que delicadeza!, Que bondade! Bonita, perfumada, era realmente sedutora…

    Ao passar junto da sua janela preferida ouvia-se:

    – Quem quer casar com uma Câmara nova que é bonita e engraçadinha?...

    E logo aparecia um pretendente.

    – Quero eu, quero eu! Sou democrata, conhecedor do ofício, dou-me bem com empreiteiros e empreendedores, transformo esta terra numa cidade moderna, sem campos, sem árvores, acaba-se com esta passarada toda que só serve para sujar os passeios e gastar água, que tantos problemas nos dá…

    (Este era capaz de servir, bons relacionamentos… mas não, desculpe não serve, depois vinham os ecologistas e era uma maçada.)

    E lá continuava a carochinha:

    – Quem quer casar com uma Câmara que é bonita e engraçadinha?

    – Quero eu, quero eu! Eu também sou um democrata, consigo respostas para tudo, é uma questão de retórica, o que é preciso é ter boa imagem. Tenho uma solução para eliminar a pobreza: divido o Concelho por zonas, juntávamos os pobrezinhos no meio dos montes, ficam mais saudáveis, com melhores ares, sem transportes por perto para fomentar as caminhadas, bem longe dos empregos, que não têm, e dos centros de cultura, porque isso não é para todos…

    (É capaz de resultar, ficamos com uma boa imagem, até podemos dizer que neste concelho não há pobrezinhos!

    Mas não pode ser, já investimos muito nos passeios para os velhinhos, nos espectáculos pimba, nas camisolas e sacos de plástico, lamento!…)

    E lá continuava ela:

    – Quem quer casar com uma Câmara que é bonita e engraçadinha?

    – Quero eu, quero eu! Eu cá tenho uma voz forte, digo mal de tudo, tenho sempre uma resposta na ponta da língua e ninguém me engana, eu já conheço aqui os podres todos, e arranjo resposta para tudo, acabam-se as queixinhas, os maldizeres, é tudo uma questão de negociar uns pelouros inofensivos e ficam todos do nosso lado…

    (Será verdade? Dá jeito, mas as minhas falinhas mansas que tanto trabalho me deram a treinar, para que serviriam?

    Não, ainda não é desta que encontrei com quem casar.)

    – Quem quer casar com uma Câmara tão bonita e engraçadinha?

    – Quero eu, quero eu! Eu sou trabalhador nas horas vagas, defensor duma cidade industrial onde não falte trabalho para ninguém.

    (Essa é boa! Muita indústria, muitos impostos, muito dinheiro.

    Mas quem vinha investir? Esta é mais uma como aquela dos construtores da nova cidade. Lamento, mas tenho cá uns compromissos.)

    E lá continuava ela:

    – Quem quer casar com uma Câmara bonita e engraçadinha?

    – Quero eu, quero eu! Eu também sou democrata, defensor da ecologia. Acabo com os rios sujos, não deixo deitar árvores abaixo, não planto árvores no cimento, não deixo construir em altura, dou um quintal a cada munícipe para ele cultivar ao fim-de-semana e enquanto está desempregado, e assim acabo com o desemprego, não deixo circular automóveis, andamos todos de bicicletas e seremos muito mais felizes.

    (Boa ideia!

    Mas os vendedores de automóveis, o pessoal da construção civil e aquele carro novo que a Câmara tanto precisa… Não, não pode ser.)

    ... E lá continuou à janela.

    – Quem quer casar com uma Câmara tão bonita e engraçadinha?

    E assim continuou, o tempo foi passando e aproximava-se a data do casamento, que já estava marcada.

    (Será que não há solução? Já sei o que vou fazer, prometo casamento a todos, fazemos uma grande festa e empurro-os a todos para dentro do caldeirão. Se forem inteligentes, hábeis e verdadeiros agarram-se às bordas e pode ser que alguns se safem).

    Por: Fernanda Lage

     

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