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    Arquivo: Edição de 15-06-2005

    SECÇÃO: Editorial


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    “O erro perde importância desde que se aprenda com ele”

    A propósito do rio Douro, Eugénio de Andrade lembrava o provérbio chinês que escolhi para tema deste editorial e acrescentava: «No nosso país, os erros têm sido tantos que parece não haver aprendizagem possível. E, contudo, é preciso aprender, se queremos que o passado que nos foi legado tenha ainda algum futuro».

    Falava do rio, da natureza que ele tanto amava, tanto como as palavras: «São como um cristal /as palavras, /Algumas, um punhal, /um incêndio: /Outras, orvalho apenas».

    Quase sempre a morte deixa-nos sem palavras. E quando esse alguém merece o nosso respeito, amizade ou estima não há como recorrer à poesia dos outros, e neste caso à do próprio.

    Pintura de Emerenciano
    Pintura de Emerenciano
    «O meu país sabe a amoras bravas/ no Verão.

    Ninguém ignora que não é grande, /nem inteligente, nem elegante o meu país, /mas tem esta voz doce /de quem acorda cedo para cantar nas silvas».

    Mas neste país tão pequeno, nestas vésperas de Verão, quando as silvas florescem e as rosas se desfazem, eis que partiram… Eugénio de Andrade, Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves.

    Desapareceram de repente três nomes que ficarão na nossa história, por razões tão diversas, mas não deixa de ser uma triste coincidência.

    De Eugénio de Andrade fica-nos a sua obra que será lida e relida por amigos, intelectuais e o povo anónimo. Os poetas têm destas coisas, são de todos e eternos…

    A sensibilidade e delicadeza com que tratava as palavras continuarão sempre presentes e não deixará de nos emocionar sempre que as recordarmos.

    Quanto a Álvaro Cunhal, concorde-se ou não com a sua ideologia, ele é uma figura incontornável da luta antifascista, homem de uma dedicação total às causas em que acreditava, de uma simplicidade, cultura e sedução difíceis de igualar. Uma vida inteira dedicada à causa pública.

    Perante o seu fascínio era impossível ignorá-lo, era um desafio para qualquer jornalista, impenetrável, coerente até ao fim.

    O país precisa de homens verticais, com convicções, de gente com cultura, inteligente, sábia, com sensibilidade, de escritores poetas e pintores…

    E volto ao tema com que comecei. Será que alguns erraram?

    É altura de aprofundar esses erros, de os analisar com seriedade, de construir algo de novo com a força, a coragem, o saber e a sensibilidade dos que partiram.

    Quantas vezes ao analisar a vida dos outros construímos a nossa, introduzindo com sabedoria, respeito e humildade pequenos nadas que mudam o mundo.

    Por: Fernanda Lage

     

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