Só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja...
"Dizem que a seca está aí, mas ainda corre água na minha torneira!
Deve ser mais uma treta para entreter o pessoal que anda triste porque o seu clube de futebol anda a perder.
Então não temos o Alqueva, o maior espelho de água da Europa?
Tantos rios, tantas barragens?!"
Continuamos a tratar água para regar cimento, asfalto, campos de golfe...
Da água tratada 50% perde-se nas canalizações…
Quando chove a água corre a grande velocidade para o mar.
Os solos estão cada vez mais impermeabilizados, são construções, são quilómetros e quilómetros de asfalto, são rios e riachos canalizados que atravessam o subsolo das nossas cidades. Diminuíram as zonas verdes, os campos de cultivo, os lameiros.
A vegetação junto aos rios desapareceu, as juntas de freguesia fornecem manilhas de cimento para as levadas dos rios, e quando chove a velocidade da água e os caudais dos rios aumentam e estes sobem rapidamente arrastando tudo que encontram à sua frente: casas construídas nos sítios errados, culturas, animais e tantas vezes seres humanos.
As cheias deixaram de ser uma bênção de Deus para as terras e transformaram--se em verdadeiras tragédias.
As desgraçadas das árvores são plantadas nuns pequenos buracos onde permanecem raquíticas, encarceradas, coitadas …
Os rios estão poluídos e as barragens também.
As águas paradas estão contaminadas e nem para regar os campos servem.
"Quem vier atrás que feche a porta, há sempre alguém que vai inventar uma solução, se calhar vão inventar uma forma de fazer água do nada!
Pois claro, para que servem a ciência e as novas tecnologias?"
Mas a realidade é bem diferente, os recursos não são infinitos na natureza e a água potável também não. O tratamento das águas custa dinheiro e não é assim tão fácil como parece. Além demais o tratamento das águas levanta questões como quem o deve fazer, quem vai ganhar dinheiro com um elemento imprescindível à vida humana, a quem pertence a água?
Todos sabemos que a água não é um recurso inesgotável e a sua escassez cria graves problemas à vida no nosso planeta.
A gestão da água é um dos problemas fundamentais no mundo, e também no nosso país, é preciso saber quanta temos, quem a polui, como se protege.
Mas em Portugal o crime compensa e a poluição das águas não é excepção.
Acho bem que se façam campanhas de poupança da água, mas atenção!, o problema não está só do lado do consumidor, está muito mais do lado do poluidor.
No entanto a forma como é consumida também é muito diferenciada.
Tenho que pagar o tratamento da água da minha vizinha, que tem a mania das limpezas, não gosta de vassouras, e rega, rega, pátios, varandas, entradas das garagens, passeios, a rua, com a água que é tratada para o consumo humano?
Como pode a minha amiga Guidinha convencer os empregados do café que quando pede meio copo de água, é na verdade meio copo que ela bebe, embora os empregados insistam em trazer-lhe um copo cheio?
Por:
Fernanda Lage
|