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    Arquivo: Edição de 31-05-2023

    SECÇÃO: Editorial


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    Timor, 21 anos depois

    No dia 20 de maio de 2002, fez agora 21 anos, Timor-Leste (que os portugueses descobriram nos inícios do séc. XVI) tornou-se num dos últimos países do mundo a constituir-se como um estado independente. É verdade que tinha declarado, unilateralmente, a sua independência de Portugal, em novembro de 1975, mas a invasão da Indonésia que se seguiu, no mês de dezembro, trouxe enorme violência ao povo maubere, parte do qual foi morto pelos invasores, outra parte refugiou-se nas montanhas e outros timorenses tiveram de fugir do seu país.

    Depois do Massacre de Santa Cruz (12 de novembro de 1991), que causou mais de 500 vítimas (entre mortos e feridos), cujas imagens chegaram ao exterior, graças à perspicácia do jornalista britânico Max Stahl, a ONU e o mundo tiveram de se mobilizar para acabar com o sofrimento daquele povo esquecido e acorrentado, apesar dos governantes portugueses todos os anos, na Assembleia Geral da ONU, apelarem ao mundo para que aquela agressão permanente terminasse. Depois do Referendo de 1999, a independência era, definitivamente, o futuro.

    Interessante, e um orgulho para nós portugueses, é a opção do povo timorense pelo português como língua oficial, caso único naquela região do mundo, em que o povo colonizado optou pela língua do estado colonizador. É verdade que em 1975, quando a Indonésia invadiu Timor, só 10% da população falava fluentemente português, e 24 anos depois, quando de lá saiu, esse número estava em cerca de 1%. É verdade também que o tétum é a outra língua oficial, mas vai buscar milhares de vocábulos ao português. Atualmente, serão pouco mais de 40% os timorenses que falam fluentemente a nossa língua, de um total de cerca de 1 milhão e 300 mil pessoas.

    Para este esforço de tornar a língua portuguesa entendida por todos os timorenses (para além do tétum há 31 línguas nacionais faladas nos 13 distritos, que correspondem mais ou menos aos 13 concelhos da administração portuguesa) tem contribuído Portugal com o envio de professores para esse país da CPLP. Aí as condições de trabalho são particularmente difíceis. Termino, a propósito, com as palavras de um colega que para lá seguiu este ano letivo: «São 40 horas de trabalho na Escola, sendo que 31 são letivas (…) As condições de trabalho são também muito duras. As salas de aula, com cerca de 30 alunos ou mais (…), não apresentam as condições que nós consideraríamos como as mais básicas para aprender. Como são abertas e não têm vidros, por causa do extremo calor e porque o vidro é caro, todo o barulho exterior - desde crianças, cães a ladrar, carros, motorizadas que passam constantemente, o barulho das outras salas - invade o nosso espaço, fazendo parecer que estamos a dar aula no epicentro da Feira Popular. Os alunos não possuem manuais, mas também não há verbas para tirar fotocópias de resumos. Comprei em Portugal um projetor que trouxe para minimizar esse problema e incutir algum desafio e diferença na metodologia de trabalho, mas as salas são muito claras, não têm cortinas e algumas não têm sequer eletricidade ou, quando têm, não possuem tomadas. A luz falha várias vezes ao dia. O mais pequeno passo irrisório, aqui (como o estar neste momento a arranjar cortinas para escurecer as salas e poder projetar), é uma grande conquista.

    Mas depois há o lado humano, os das crianças e jovens que - mesmo com estas condições ou talvez por as sentirem na pele - são de uma humildade sem igual, que olham os professores com um tremendo respeito (alguns até subserviência) e demonstram uma sede enorme de aprender, mesmo com um sistema de ensino-aprendizagem montado que é expositivo e totalmente ultrapassado, aos nossos olhos e que, infelizmente, ao não dar condições se torna muito desigual».

    Por: Manuel Augusto Dias

     

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