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    Arquivo: Edição de 30-04-2022

    SECÇÃO: Património


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    ACONTECEU N'' A VOZ DE ERMESINDE (3)

    Em Abril, Águas Mil – A Cheia do Rio Leça

    “Em abril, águas mil” diz o provérbio popular. Em ano de seca extrema por todo o território português, à qual nem o abril escapa, recuperamos um dos acontecimentos mais marcantes de abril de 1962 – uma das cheias do Rio Leça - por ocasião do seu sexagésimo ano.

    As cheias no Rio Leça foram uma constante, especialmente, nos séculos XVIII e XIX, descritas por Manuel Conceição Pereira e Manuel Dias, como as maiores que aconteceram (DIAS, PEREIRA, 2001, 96). Durante o século XX, o rio continuou a transbordar as suas margens, sendo a mais calamitosa e recordada, a cheia de 1909 (Idem, 97).

    As palavras que nos chegam na edição n.º 52 d’A Voz de Ermesinde foram escritas por Manel de Pidre; é-nos feita a descrição dos estragos, acompanhada de uma gravura, onde conseguimos ter uma maior noção do alcance e força do rio.

    No artigo intitulado de “A Cheia do Rio Leça” tomamos conhecimento de que os Bombeiros Voluntários de Ermesinde se tinham encontrado bastante ocupados durante os últimos dias devido às inundações provocadas pelo Leça. Como o rio galgou as suas margens, a imagem dos densos campos verdes estava transformada numa paisagem amarelada, com águas lodosas e opacas.

    A Cheia do Rio Leça em 1962
    A Cheia do Rio Leça em 1962
    O autor recorre à sua veia poética, para retratar tão fatídica notícia, principalmente, para uma vila onde se praticava agricultura em larga escala. Aliás, ainda hoje se conseguem encontrar vários cultivos e plantações junto às margens do Leça, em zonas como a Bela. Manel de Pidre, diz-nos, então «Ele, o tão cantado e poético Leça, de voz suave e harmoniosa, quase sempre tão calmo e brando, perdeu agora a sua serenidade habitual e, de um momento para o outro, quis mostrar a fúria destruidora e implacável dos grandes cursos de água, levando na corrente caudalosa das suas espumantes águas: pontes, sementeiras, animais, árvores e muros, como a dizer que a sua hora – a hora dos pequenos – alguma vez havia de surgir».

    Estas cheias ocorreram após uma semana em que se viveram chuvas torrenciais, ininterruptas e mau tempo generalizado, o que provocou um grande volume de água, que as margens do Rio Leça não foram capazes de conter.

    Revela-se os prejuízos avultados provocados pela cheia e que a corrente do Leça «numa caminhada dramática e destruidora, tem arrastado tudo o que encontra à sua frente». Contudo, consideramos mais curiosos os relatos sobre o auxílio e alguns dos salvamentos que foram prestados pelos Bombeiros Voluntários de Ermesinde. O primeiro relato que encontramos, é sobre o socorro que foi prestado ao Senhor Joaquim Ferreira Lino, que contactou os bombeiros perto das 4h da manhã de domingo e estes só saíram da sua habitação cerca das 10h30. As águas do Leça irromperam pela casa deste homem paralisando-lhe os motores dos moinhos, situação que foi invertida pelo trabalho dos bombeiros. As águas chegaram, ainda, a outros locais da sua habitação como o armazém, aidos e adega, causando-lhe elevados prejuízos. Manel de Pidre salienta que foi possível salvar alguns dos suínos de que Joaquim Ferreira Lino era proprietário, apesar de estarem bloqueados pelas águas, sendo que uma porca tinha dado recentemente à luz onze crias.

    Segue-se o relato de um outro salvamento, este de uma família que vivia no lugar de Rebordões, Águas Santas. Os Bombeiros Voluntários de Ermesinde foram chamados para socorrer a família do Senhor Justino Lopes, composta pelo próprio, a esposa e quatro filhos. A sua casa encontrava-se cercada de água até à altura das janelas e, segundo o autor, «foi com grande espírito de sacrifício que os briosos bombeiros, com auxílio de espias e com a água pelo pescoço, conseguiram salvar o agregado familiar, bem como os seus haveres».

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    Os estragos do Leça atingiram uma vasta área, de forma indiferenciada. Apesar de não sabermos ao certo em que local se encontrava a primeira habitação, podemos presumir que se situasse na zona da Bela, local onde, até hoje, resistem alguns dos moinhos da freguesia, junto ao rio. O segundo salvamento terá acontecido no lugar de Rebordões, já fora do concelho de Valongo, e o terceiro, na freguesia de Alfena. Sobre este último, terão sido chamados os bombeiros ao lugar de Telheiras, para um resgate no edifício do Senhor Bernardino Marques. Aqui, ocorreu o salvamento de seis crianças que se encontravam recolhidas num compartimento que começou a ficar inundado, descrevendo-nos o autor que a sua vida se encontrava em risco.

    O artigo é concluído com as palavras do primeiro lesado que terá contactado com Manel de Pidre. Segundo Joaquim Ferreira Lino, as marcas da cheia nos seus moinhos seriam quase iguais aos níveis registados pelo Rio Leça, em 1909. O que levou a concluir-se que esta teria sido a maior cheia do rio, desde então, porque a marca de cheia seria bastante superior a outras cheias que haviam vindo a ser registadas.

    Durante o século XX, aconteceram algumas cheias no Rio Leça, a saber, em: 1909, 1959, 1962, 1972, 1995 e 2000, apesar de nenhuma delas se comparar à de 1909, quer em termos do nível das águas, quer na necessidade de vários internamentos hospitalares e mortes (DIAS, PEREIRA, 2001, 97). Também terá sido fatídica a cheia de 1959, apenas um dia depois do Natal, a 26 de dezembro, que terá roubado, em plena quadra festiva, a vida de duas pessoas. O relato é-nos dado a conhecer na monografia de Manuel Dias e de Manuel Conceição Pereira, onde nos descrevem que na Rua Rodrigues de Freitas, foram sacrificadas as vidas de Maria da Conceição Marques Pereira de Ascensão e da sua serviçal, Palmira. As correntes fortes do rio fizeram com que o quintal da habitação cedesse, derrubando a casa; as duas mulheres foram empurradas para a cave, onde ficaram soterradas.

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

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    Bibliografia:

    - A Voz de Ermesinde, abril de 1962, nº 52

    - DIAS, Manuel Augusto; PEREIRA, Manuel Conceição (2001). Ermesinde – Registos Monográficos. Vol. I. Ermesinde: Câmara Municipal de Valongo

    Por: Mariana Filipa Lemos

     

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