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    Arquivo: Edição de 20-10-2021

    SECÇÃO: História


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    ACONTECEU HÁ UM SÉCULO (29)

    A Noite Sangrenta

    A década de 1920 foi particularmente difícil para Portugal que viu as condições económicas, sociais e políticas agravarem-se. Desde a participação de Portugal, na Primeira Grande Guerra, ao lado dos Aliados, na Europa, após janeiro de 1917, e com o surgimento da pneumónica (1918), a situação agravou-se significativamente no nosso país, sendo clara manifestação disso a desordem social com greves gerais, assaltos a armazéns e lojas, onde existiam produtos de primeira necessidade. A carestia de vida também se fez sentir de forma muito acutilante, com a carência alimentar a provocar situações de fome e de miséria num largo estrato populacional, sobretudo nas maiores cidades. Além da pneumónica registaram-se outros surtos epidémicos, nomeadamente a varíola, febre tifoide, tifo e disenteria, que estiveram na origem de muitas mortes. Mas também houve mortes, e muitas, por causa da violência política.

    Bombas, greves, manifestações, intentonas revolucionárias, crimes provocados por clara e exclusiva motivação política foram o pão nosso de cada dia na cronologia política da década de 1920 como já o haviam sido no final da década anterior, nomeadamente com o assassínio de Sidónio Pais ou a Monarquia do Norte.

    Mas um dos dias mais trágicos da Lisboa republicana foi, sem dúvida, o dia 19 de outubro de 1921, a chamada “Noite Sangrenta” quando foram assassinadas várias figuras de grande destaque político como foi o caso do Presidente do Ministério, António Granjo, que nesse dia havia pedido a demissão, e dos republicanos históricos e revolucionários do 5 de Outubro, Machado Santos, considerado o “Pai da República” e José Carlos da Maia. Seriam ainda assassinados o Secretário do Ministro da Marinha, Freitas da Silva e o sidonista, Botelho de Vasconcelos. Entre as razões para tão trágico acontecimento terão contribuído a demissão do Governo de Liberato Pinto e a condenação deste a um ano de prisão.

    Liberato Pinto era o Chefe de Estado Maior da GNR e em 29 de novembro de 1920 tornou-se, também, o Presidente do Conselho de Ministros, cargo que chegou a acumular com outros ministérios. O seu governo terminou a 2 de março de 1921. O envolvimento político da Guarda Nacional Republicana foi recorrente em toda a Primeira República. O seu afastamento político e a sua condenação levaram ao envolvimento de elementos da sua força policial na Noite Sangrenta que aterrorizou Lisboa e o país, em outubro de 1921, faz agora um século.

    “Diario de Lisboa” de 19 de outubro de 1921
    “Diario de Lisboa” de 19 de outubro de 1921
    A “Ilustração Portuguesa” do dia 29 de outubro de 1921 traz a foto das três personalidades republicanas mais importantes assassinadas no dia 19 de outubro de 1921 e a reportagem dos seus funerais em texto sentido e emocionado.

    Transcrevo apenas o início: «O numero de hoje da “Ilustração Portuguesa”, é um numero revolucionario, um numero que não teve tempo de se arranjar, de se vestir, um numero sem côr, um numero sem “rouge”, um numero alvoraçado que atira fotografias, como argumentos, que esquece o “baton”, que esquece a frivolidade, que se esquece de ser “magazine”, para chorar, para chorar bem alto, sem receio de que venham proibir-lhe as lagrimas, a morte desses tres portugueses de lei, esses tres homens que cometeram o nefando crime de pôr as suas vidas ao serviço da Patria. Todos eles morreram pobres, morreram abandonados, abandonados do seu proprio ideal, esse ideal que, pelo seu esforço heroico, chegou a ser uma realidade em Cinco de Outubro, mas que, pouco a pouco, se afastou, se diluiu, maltratado pelos homens, apagando-se, apagando-se cada vez mais, até desaparecer completamente na noite de 19 de Outubro, a noite mais tragica da Republica, a noite em que este povo começou a desconfiar de si proprio, a noite em que a duvida surgiu, a noite em que cada um de nós levou a mão ao peito – a vêr se o coração ainda lá estava…

    Perdemos tudo: os herois, os santos, as certezas e os sonhos. Só nos falta agora perder o povo, este bom povo de Portugal que meia duzia de feras pretende caluniar, atribuindo-lhe instintos que ele não tem, abalando-lhe o seu prestigio de povo amoravel, de povo alegre e feliz, povo que canta e dança todo o ano, um povo que é a cigarra dos povos…

    Porque foram mortos Antonio Granjo, Machado Santos e Carlos da Maia? Porque eram honestos, porque eram bons, porque tiveram a ingenuidade de supôr que a sua terra lhes agradeceria tudo quanto fizeram por ela...».

    A história deste trágico dia ainda está envolvida por um nevoeiro de incertezas. Na página da Internet do Parlamento [Noite Sangrenta (outubro 1921) (parlamento.pt)] diz-se que «(…) um grupo de civis e militares, liderado pelo cabo marinheiro Abel Olímpio, conhecido por O Dente de Ouro, conduz os acontecimentos da designada Noite Sangrenta. / Uma camioneta – a “camioneta-fantasma”” – percorre Lisboa em busca de diversas figuras do regime republicano, que, forçadas a entrar no veículo, são posteriormente executadas. Na Noite Sangrenta são assassinados, entre outros, o Primeiro-Ministro António Granjo, e dois protagonistas da Revolução de 5 de Outubro de 1910, Machado Santos e Carlos da Maia».

    Já no final conclui: «Em 1923, os responsáveis diretos pelos assassinatos seriam julgados e condenados a penas de prisão e de degredo, não se tendo, no entanto, averiguado completamente as causas que permitiram o sucedido na Noite Sangrenta, nem as suas ligações com os responsáveis pela revolta do dia 19 de outubro de 1921».

    Não se descobriram verdadeiramente todos os cúmplices de Abel Olímpio que terá sido a figura que, efetivamente, liderou os fatídicos acontecimentos. Sabe-se que o primeiro-ministro era António Granjo, do Partido Liberal (pedira a demissão nesse dia), que António José de Almeida, do Partido Evolucionista, era o Presidente da República, que ambos se afastavam do Partido Democrático de Afonso Costa, que, pela primeira vez, desde o início da República se encontrava afastado do poder.

    (...)

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    Por: Manuel Augusto Dias

     

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