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    Arquivo: Edição de 30-04-2021

    SECÇÃO: Património


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    O Centenário de “Ermezinde (Monografia)” de Humberto Beça

    2021 assinala o centenário da existência de “Ermezinde (Monografia)” de Humberto Beça, publicada pela Companhia Portugueza Editora, na cidade do Porto, no decorrer do ano de 1921.

    O escritor já mencionado no nosso jornal em janeiro 2011, a propósito do Centenário da República, é o primeiro autor que encontramos ao longo da história a dedicar uma publicação exclusivamente a Ermesinde.

    Humberto Godofredo Ferro de Beça nasceu em Bragança, a 10 de setembro de 1878, e cursou entre 1896 e 1899 o Instituto Industrial e Comercial do Porto e a Escola do Exército, onde frequentou o curso de administração militar.

    Homem multifacetado, foi militar, jornalista, investigador, professor e poeta. Iniciou a sua atividade na carreira militar, tendo sido promovido a aspirante a oficial em 1900. Por vicissitudes, em 1902, teve um desastre de serviço e passou a ocupar cargos administrativos. Em 1909, quando já vivia em Ermesinde, foi promovido a aspirante oficial de administração militar.

    Dedicou-se, da mesma forma, e conforme mencionado, a outras áreas como o jornalismo, onde foi colaborador, diretor e redator de vários periódicos; ao ensino, onde dirigiu a Escola de Comércio e lecionou no Instituto Comercial do Porto e no Colégio de Ermesinde; e foi poeta, tendo publicado vários livros. Faleceu com apenas 45 anos, a 27 de julho de 1924, por motivo que desconhecemos, mas ficaria para sempre associado a Ermesinde onde tem uma Praceta com o seu nome.

    Ao longo da história, as monografias assumem-se como um importante documento onde conseguimos compreender a história local ou regional, os costumes (que poderão já ter desaparecido), os monumentos e práticas mais comuns dos locais. A monografia de Humberto Beça apresenta-se como a única deste género sobre Ermesinde no século XX. Entre os diversos assuntos que aí podemos encontrar, destacam-se os já mencionados anteriormente e alguns dos seus títulos: os Lugares e Ligações; a Origem do nome Ermezinde; o Rio Leça; a População; a Propriedade; a Indústria; o Comércio Local; o Caminho do Ferro; a Linha Americana; a Instrução; a Assistência; o Republicanismo; A Freguesia de Ermezinde; Edifícios mais importantes e Costumes Locais.

    RETRATO DE HUMBERTO BEÇA (1878-1924) - À ESQUERDA; ERMEZINDE. MONOGRAFIA (1921) - À DIREITA
    RETRATO DE HUMBERTO BEÇA (1878-1924) - À ESQUERDA; ERMEZINDE. MONOGRAFIA (1921) - À DIREITA
    Versaremos agora alguns dos elementos que nos são dados a conhecer por Humberto Beça neste guia de quase cem páginas sobre a terra onde vivia. É neste texto que contactamos pela primeira vez com a discussão que se faz até às monografias mais recentes sobre o nome “Ermesinde”. O investigador tentou compreender de onde seria originário o termo “Ermezinde” e lança a probabilidade de provir de D. Ermezenda, anterior detentora do local conhecido como Quinta de Ermesinde, e Humberto Beça considera que o termo se manteve no tempo até à atualidade. A etimologia e denominação da atual cidade teve tamanha importância para o autor que voltaria a publicar sobre o desconhecimento da origem do nome e atribuição a D. Ermezenda na Revista “Ilustração Portugueza”, II Série, de 1919, n.º 685, num artigo de três páginas intitulado de “Portugal Pitoresco – Ermezinde”, onde escreve:

    «O logar propriamente chamado de Ermezinde, fica apenas a uns dois quilometros ao norte de Rio Tinto, onde existiu um convento de beneditinas. Seriam essas propriedades conhecidas pela designação de Terras de D. Ermezenda, do nome da sua proprietaria, e, d’aí, o nome do logar? O livro das lnquisições, de D. Afonso III, fála de um individuo de Ermejenda, que prestou esclarecimentos sobre os baldios do concelho de Valongo, e este facto parece na verdade confirmar a anterior hipotese.»

    Durante a sua narrativa, onde destaca termos bastante caros aos séculos XIX e XX como o carácter pitoresco e tradicional da cidade, descreve-nos episódios como as cheias do Rio Leça que presenciou e documentou no Jornal “Diário de Notícias” em 1909 e 1910. Particular é o relato das cheias a 22 de dezembro de 1909, onde a transcrição da notícia enviada para o jornal nos indica que com a subida repentina das águas do Leça, as famílias na zona da Travagem chegaram a ficar presas dentro de casa com água pelo primeiro andar e a ser salvas por janelas.

    A freguesia de Ermesinde era, em 1921, pautada por quintas e moradias nobres, que contrastam fortemente com a cidade que encontramos atualmente, bastante alterada por construções contemporâneas. As propriedades são descritas por Humberto Beça quase todas pelo nome do seu proprietário, algo que nos dias de hoje se tornaria quase insustentável, dadas as muitas habitações que existem na cidade. Curiosa, ainda, é a descrição dos prédios, descritos como pequenos e todos eles com área de lavoura, algo que quase não subsiste atualmente.

    Motivação para o crescimento de Ermesinde e que já o era no século XX são os caminhos de ferro; a monografia apresenta-nos dados como a chegada de ano para ano de mais mercadorias a Ermesinde e consequentemente um maior número e afluência de pessoas. Criou-se, a partir deste momento, a necessidade de existirem alguns restaurantes e pequenos hotéis perto das linhas de caminhos de ferro, um dos eixos de desenvolvimento da cidade. As linhas férreas do Douro e do Minho foram inauguradas em 1875. Em 1921, a estação de Ermesinde, tinha três gares de passageiros e preparava-se para ter o seu fluxo aumentado estando, no momento em que Humberto Beça escrevia a sua monografia, a ser criada a linha de Leixões.

    A acompanhar a linha de caminhos de ferro podia também ser encontrada a linha americana, esta de muito difícil recordação para as gerações atuais pelo seu completo desaparecimento. A linha americana circulava em Ermesinde com uma frequência de vinte minutos, inaugurada em 1916, ligava a Praça de D. Pedro (atual Praça da Liberdade), no Porto, a Ermesinde, terminando o seu percurso, sensivelmente, a meio do caminho entre a estação de caminhos de ferro e a antiga igreja matriz.

    O republicanismo é também um tema particularmente caro nesta leitura, onde o papel de Amadeu Vilar é destacado e, infelizmente, é salientado, também, o saque de que a Junta de paróquia foi alvo aquando da instauração da república. Neste saque foram roubados os livros com mais de 250 anos sobre a história da cidade, fontes ainda hoje desaparecidas e que tão úteis seriam a qualquer investigação sobre a história local.

    No capítulo dedicado aos edifícios mais importantes da cidade pode ser recordado um Calvário que existiu junto à ponte do caminho de ferro na Travagem, sobre um monte e que, infelizmente, foi demolido para a Junta ceder o terreno a um particular. Calvário este descrito por Humberto Beça como um «local imensamente pitoresco e poético» e que deveria satisfazer a devoção da população.

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

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    Por: Mariana Filipa Lemos

     

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