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    Arquivo: Edição de 30-05-2018

    SECÇÃO: Património


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    Ainda a palavra “Ermesinde” (15)

    Como na última crónica vou tentar descrever mais duas Ermesendas ou Ermesindas, neste caso, não por serem familiares, mas sim por uma delas haver muito pouca informação das mesmas. A única relação que as une é terem alguma é terem sido patronas do mosteiro de Pendorada.

    D. Ermesenda Eanes (1074-1128) do mosteiro de Pendorada1

    LUGAR DE BALTEIRO, PAROQUIA DE SAN ANDRÉS DE CURES, CONCELHO DE BOIRO, NA GALIZA
    LUGAR DE BALTEIRO, PAROQUIA DE SAN ANDRÉS DE CURES, CONCELHO DE BOIRO, NA GALIZA
    Ermesenda Eanes ou Iohannis filha de "… don Balteiro et de sua muliere et de suis filiis Pelagio Baltariz, Petro Baltariz, Ermesenda Iohannis….", Balteiro será com toda a certeza, um nobre, provavelmente, da pequena nobreza, pois não há grandes relatos do mesmo. Balteiro este, que doou algumas terras a Pendorada, chamada tradição "traditio", os seus filhos permanecem nelas com a obrigação de pagar ao mosteiro a quinta parte da produção de cereais e vinho. Esta filha de "don Balteiro" terá sido donatária do mosteiro?

    Quanto ao nome do pai "Balteiro" as suas raízes são germânicas, muito possivelmente de origem goda, de Baltariu2 (nominativo? acusativo?), derivam ainda os topónimos Balteiro3 , Baltar, etc., também frequentes no Norte de Portugal e na Galiza. Pois existem vários lugares na Galiza (Corunha, Ourense) com o nome de Balteiro, como sejam nas paróquias "parroquia" de Cures no "concello" de Boiro; na de Régoa no "concello" de Cedeira; na do Pao no "concello" de Gomesende; na de Santa Comba do Trevoedo no "concello" de Maside; na de Petelos no "concello" de Mos; na de Oleiros no "concello" de Ribeira; na de Figueirido no "concello" de Vilaboa; uma freguesia em Paredes4, e ainda um lugar em Vila Nova de Gaia, assim como o nome Baltar também tem a mesma origem e é frequente na Galiza e no Norte de Portugal.

    BALTAR É UMA FREGUESIA DO CONCELHO DE PAREDES
    BALTAR É UMA FREGUESIA DO CONCELHO DE PAREDES
    D. Ermesinda de Nespereira, (Lousada?) (1136)

    A fundação do mosteiro de Pendurada datará pelo ano 10545 , foi fundado no lugar da Pendorada (antigo concelho de Benviver6), provavelmente pelo monge Velino7 , no contexto da renovação da vida eclesiástica e monástica a partir do concílio de Coyanza8 (1055)9, segundo modelo consignado nas obras de Frutuoso de Braga e de Isidoro de Sevilha.

    MOSTEIRO DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE PENDORADA
    MOSTEIRO DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE PENDORADA
    Fonte TT "…São João de Pendorada he Mosteiro de Frades Bentos, & teve principio na fórma seguinte. Huma legoa de Entre ambos os rios, & sete do Porto pelo Douro acima está hum alto monte chamado Arados…".

    Até por volta do ano de 1080, manteve a estrutura inicial à sua fundação, depois adoptou os costumes cluniacenses e a Regra de São Bento. Tirando a referência que encontramos no livro de José Mattoso, "A Abadia de Pendorada das Origens a 1160"10 , na edição do Círculo de Leitores, na sua página 153, temos:

    1136.10.15 Nespereira. her11. d Ermesenda e filho - VIII 24

    MAPA DO GOOGLE MAPS DE ALPENDORADA
    MAPA DO GOOGLE MAPS DE ALPENDORADA
    Segundo estes elementos, e apesar de ser de uma data muito tardia, em relação aquilo que achamos que poderia ter alguma influência no nome. Mas, após uma procura exaustiva em várias fontes, nada mais conseguimos encontrar acerca destes. Depreendemos que tenham doado, por herança, alguns bens que detinham em Nespereira, pois sabemos que o mosteiro detinha alguns bens nessa região. Nada mais conseguimos saber sobre esta Ermesenda, terá sido "deo vota"12 , padroeira ou donatária de Pendorada. Podemos também deduzir que seria de uma família, ou da pequena nobreza ou apenas de grande proprietário, é tudo o que podemos concluir da sua origem.

    Nota: Estamos a acabar a lista das "Ermesendas" que me propus tentar caracterizar, posteriormente, talvez rebusquemos outras que viveram pelas mesmas datas, e não estavam referenciadas. O nosso objectivo continua a ser sobre o nome Ermesinde, mas ainda não conseguimos estabelecer uma relação directa. Estas, como as anteriores, viveram nas cercanias do Porto (norte do rio Douro), e consequentemente de Ermesinde.

    Bibliografia:

    http://fmg.ac/Projects/MedLands/Galicia.htm#_ftnref759. (2017).

    Barroca, M. J. (s.d.). Fortificações e Povoamento no Norte de Portugal (Séc. IX a XI). Portugalia, Nova Série, Vol. XXV.

    Díez, G. M. (2003). Alfonso VI. Madrid: Ediciones Temas de Hoy.

    Duby, G. (1992). O Ano Mil. Lisboa: Edições 70.

    Duby, G., & Perrot, M. (1990). História das Mulheres - A Idade Média. Porto: Edições Afrontamento.

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    Fletcher, R. A. (1993). A Vida e o Tempo de Diego Xelmírez. Vigo: Editorial Galaxia.

    Gaio, F. (1938). Nobiliário de Famílias de Portugal. Braga.

    Guimarães, J. A. (1995). Gaia e Vila Nova na Idade Média. Porto: Universidade Portucalense.

    Lopes, P. (2005). Viajar na Idade Média. Lisboa: Círculo de Leitores.

    Mattosa, J. (2002). A Abadia de Pendorada das Origens a 1160. Lisboa: Círculo de Leitores.

    Mattoso, J. (1992). História de Portugal (Vol. I). Lisboa: Círculo de Leitores.

    Mattoso, J. (2001). A Nobreza Medieval Portuguesa. Rio de Mouro: Círculo de Leitores.

    Mattoso, J. (2002). O Monaquismo Ibérico e Cluny. Rio de Mouro: Círculo de Leitores.

    Oliveira, P. M. (1967). Ovar na Idade Média. Ovar: Câmara Municipal de Ovar.

    Ónega, J. R. (1981). Los Judíos en el Reino de Galicia. Madrid: Editora Nacional.

    Piel, J., & Mattoso, J. (1980). Portugaliae Monumenta Historica. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.

    Pina, L. d. (1947). O Porto na Conquista de Lisboa. Porto: Câmara Municipal do Porto.

    Simonet, F. J. (2018). Historia de los Mozárabes en España. Madrid: Editorial Almuzara.

    Valdés, E. P. (2000). Los Señores de Galicia. A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza.

    1 Imagem retirada do blog, https://2.bp.blogspot.com/-EX3O6BNYtIA/VFde68wEcYI/AAAAAAAAC4E/Aa_l1kGc2qg/s1600/convento_alpenduradap.jpg, em 25-03-2018.

    2 Representa o genitivo do nome germânico latinizado "Baltariu", um nome com fortes ressonâncias guerreiras, como quase todos os nomes germânicos que povoam a toponímia galego-portuguesa. e o genitivo, Baltari , significa "[propriedade, ou património,] de Baltariu". tem a variante Balter (Pt. e Gz.).

    3 https://apelidosgalicia.org/Balteiro-1058, consultado a 08-04-2018.

    4 https://www.google.pt/search?rlz=1C1GGRV_pt-PTPT751PT751&ei=CJXKWvuhOMnWU9Hwp_ AD&q=baltar&oq=baltar&gs_l=psy-ab.3..35i39k1j0l9.3012.4791.0.5866.6.6.0.0.0.0.176.777.1j5.6.0....0...1c.1.64.psy-ab..0.6.774...0i131k1j0i67k1.0.iMHe2Ruo2A4, consultado em 23-03-2018.

    5 Opinião de José Mattoso, na sua obra A Abadia de Pendorada, Das origens a 1160. Expondo a fundamentação da sua opinião.

    6 Benviver ou Bem-Viver foi um concelho, suprimido em 1852, e que ocupava a zona sul do actual concelho de Marco de Canaveses. A sua sede era na freguesia de Sande. Teve foral em 1514. Era constituído pelas freguesias de Ariz, Avessadas, Favões, Magrelos, Manhuncelos, Paços de Gaiolo, Paredes de Viadores, Penha Longa, Rosem, Sande, São Lourenço do Douro e Matos. Consultado o https://pt.wikipedia.org/wiki/Benviver, consultado em 25-03-2018.

    7 http://digitarq.arquivos.pt/details?id=1458319, consultado em 10-04-2018.

    8 Também de consultar http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1312308920_ARQUIVO_AndreiaCLFrazaoDaSilva_Anpuh_2011.pdf, consultado em 23-03-2018.

    9 https://es.wikipedia.org/wiki/Concilio_de_Coyanza, consultado em 08-04-2018.

    10 Ver bibliografia.

    11 Abreviatura her. - hereditas. Será segundo tradutor do latim, "transmissão de bens ou títulos após a morte".

    12 "Deo Vota" ou "Deo-Vota" o mesmo que "Deodicata", "Deo-devota", "DeoSacrata", "Deo-dedita", pessoas do sexo feminino dedicadas a cristo.

    Por: Carlos Marques

     

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