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    Arquivo: Edição de 31-05-2017

    SECÇÃO: Património


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    Ainda a palavra “Ermesinde” (5)

    Ermesinda Gatonez de Bierzo

    De acordo com o trabalho de al-Bayan al-Mugrib de Ibn Idhari , Gatónseria o irmão do rei Ordonho I, por isso seria filho de Ramiro I e Paterna de Castilla. Para outros historiadores era irmão de D. Munia, o que se apresenta com mais lógica, e seria então cunhado do rei Ordonho I (ver esquema).

    Quando o novo rei Ordonho chega ao trono propõe-se atribuir tenências às diversas regiões fronteiriças com os muçulmanos, aos vários membros da família real. Foi convidado pelo cunhado, Ordonho I, rei das Astúrias, para proceder à reconquista e ao repovoamento desta região do El Bierzo, convertendo-se no Conde de Bierzo. Desde a derrota muçulmana na batalha de Covadonga esta vasta região de Bierzo era uma zona de transição, mais propriamente "terra de ninguém". GatónRamírez de Tricastelo, conde de Bierzo, proprietário da vila de Aneo com a igreja de S. Mamede, a vila de Penalva em Valapia e de Parada com a respectiva igreja de S. Salvador em Bierzo, teria vivido entre os anos de 812 e 878, e contraiu matrimónio com Egilona, também chamada de Egilo, - provavelmente filha do rei Ramiro I das Astúrias (800 - 1 de Fevereiro de 850), com a qual teve quatro filhos:

    "Bermudo Gatónez; Hermesinda Gatónez, sendo sobre esta que iremos tentar desenvolver o mais que podermos; Savarico Gatónez ou Savarico II, bispo de Mondoñedo de 907 até 925-926; e, Patrina Gatónez (m. depois de Junho de 927).

    Este D. Gatón Ramírez, pai da nossa Ermesinda Gatones de Bierzo, (em Esp. Hermesinda Gatónez del Bierzo, tem a sua primeira aparição histórica com o repovoamento de Astorga no ano 854. Em 6 de maio daquele ano, o cartulário de Santa Maria del Otero diz-nos, "Ego ... rex Ordonio em Obeto, ad preencher Astorica ... Facta kartula ... Ordonio rex no Oueto ad posidentem Astorica". E, embora não tenha-mos tido confirmação de quem terá dirigido esta operação, provavelmente terá sido o cunhado do rei, D. Gatón, conde de Bierzo e de Astorga, outro documento datado de 6 de Junho de 878, fala sobre esse sucesso da tomada de Astorga, dizendo: "... quando o rei Ordonho ocupou Astorga, quando o povo de Bierzo com o seu conde Gatón foram povoar Astorga...", portanto, antes de 854 Gatón foi já conde de toda a região de Bierzo e de lá dirigiu toda a acção de tomada pelas gentes das Astúrias sobre a antiga cidade de Astorga.

    "… populus de Bergido cum illorum comite Gaton exierunt pro Astorica populare…"(Floriano, 1951)

    Quanto à sua actividade militar, Gatón é também protagonista de pelo menos uma acção militar contra o emirado de Córdoba. Depois de Toledo expulsar o governador de Calatrava, este solicitou ajuda a Ordonho I, que enviou o conde Gatón, devastando os campos até ao rio Jandula e tinha conseguido derrotar um exército do emir em Andújar (853). À espera da reacção do emir Muhammad.

    Reinando a instabilidade nos califados, Ordonho I, rei das Astúrias força uma batalha com os muçulmanos, que ocorreu pelos anos de 859 e se chamou de Albelda , com o rei mouro Musa ibn Musa, que ganhou, passando a "terra de ninguém" para a região entre Minho e Douro.

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    Então, Ermesinda Gatones ou Hermesinda Gatónez del Bierzo, nasce pelo ano de 842, em Bierzo, região de Espanha,como uma princesa, pois é filha de uma princesa, pois a sua mãe, Egilona é provavelmente filha do rei Ramiro I, e portanto, no seio de uma família da nobreza goda que tinha fugido ante os muçulmanos para o norte da península.

    A princesa Ermesinda, filha primogénita, cresceu num ambiente palaciano da corte, de alguma abundância para a época, o pai era militar e participa na expansão e colonização das terras a sul. A família, dos dois lados, estão ligadas à realeza. Provavelmente, viveriam num palacete acastelado nas Astúrias. Tendo sido educada numa base religiosa e cristã, que foi o seu suporte da fé. Sua mãe não se descuidou de educá-la para acções mais nobres ainda, principalmente fazendo piedade e caridade com o mais necessitados, como ficou demonstrado, posteriormente com os mosteiros que fundou.

    Como era normal na época, as filhas eram totalmente excluídas da sucessão, pelo que quando contraiam matrimónio recebiam um dote, constituído de bens que seriam administrados pelo marido. A linhagem beneficiava apenas componentes do sexo masculino, e a herança só era passada para o primogénito, isso como forma de evitar a divisão dos bens da família. Quando a mulher se casava passava a fazer parte da família do esposo. Nessa nova família, quando viúva, não tinha direito à herança.

    Nesta época os casamentos funcionavam como um pacto entre duas famílias, ou uma aliança, para fortalecimento de ambas, e seu objectivo era simplesmente a procriação. A mulher era ao mesmo tempo doada e recebida, como um ser passivo. Sua principal virtude, dentro e fora do casamento, deveria ser a obediência, submissão. Filha, irmã, esposa: servia somente de referência ao homem que estava servindo.

    O futuro esposo pertence a uma família, também refugiada nas Astúrias desde 805, mas com procedência, tardiamente, da Aeminium (Coimbra), e descendentes dos antigos condes de Coimbra, na pessoa de Guterre Hermenegildo conde dos cristãos de Coimbra (n. apr. 775) e de Elvira, e que foram os pais de Hermenegildo Guterres Anzures. Acabou por se relacionar socialmente com a família Gatón, e por consequência, com Hermesinda, acabando por contrair matrimónio em cerca de 860 (Sáez, 1947). Este conde Hermenegildo Gutérrez, que é descendente dos condes de Coimbra, e que participou na reconquista das terras da Galiza, aparecendo já entre 895 e 899, como "Ermenegildus Tudae et Portucale Comes"(Mêrea, 2006), e era já um magnata galego, dux da Galiza. Reconquistando Coimbra aos muçulmanos em 878 (Chronicon Laurbanense), e maiordomo maior do rei Alfonso, o Magno. Deste matrimónio nasceram, entre outros, Elvira Mendes ou Menéndez, que foi esposa de Ordonho? II de Leão, o conde Guterre Mendes ou Menéndez, pai que foi de São Rosendo, e ainda Adosinda Guterres, provavelmente a mãe da rainha Velasquita de Leão.

    Tendo acompanhado o marido em todas estas aventuras pelo território nacional, durante anos sem um local fixo para viver, pois conforme Hermenegildo ia tomando conta das terras ia chamando gentes da Galiza e também moçárabes para as colonizar. A reconquista, das antigas terras dos antepassados de Hermenegildo, eram o seu objectivo, que conseguiu pelo ano de 878. Devido à instabilidade dessas terras, pois a proximidade muçulmana era muito pequena, Hermenegildo terá optado por fixar residência no Porto, da qual também tinha o título de conde. Terá falecido em fins de 911 ou inícios de 912.

    Eram proprietários de vastas terras no centro do país, assim como em Coimbra. Também detinha uma quantidade de terras por todo o termo do Porto, em Amaya, Vila do Conde e Gondomar, etc.

    A esposa, a nossa Ermesinda, ainda lhe sobreviveu cerca de oito anos, tendo falecido no Porto no ano de 920 (Beraldo, 2016).

    Na partilha dos bens pelos seus netos, diz-se: "Ut feceremos inter nos colmellum divisiones de villas ex successione avorum nostrorum Hermegildi et Ermesind" ("Tumbo de Celanova", fls. 166).

    NOTA:

    Esta Ermesinda Gatones, viveu e teve propriedades no termo do Porto, havendo inclusive registo de propriedades em Gondomar, pelo que podia perfeitamente ser proprietária de terras aqui. As datas de registo da sua existência são perfeitamente compatíveis com os registos da antiguidade desta nossa terra. A única divergência que encontro é na formação da palavra, pois a transcrição em latim pelo ano de 944, que existe em documento coevo, desta zona foi transcrita como "Ermosindi" e não "Ermesindi" terra de Ermesinda. Se porventura a origem do nome derivasse de uma pessoa, esta seria a que teria a mais alta probabilidade, pois quanto à época está perfeitamente enquadrada, assim como detém terras por toda a Maia, não esquecendo que, à época, Ermesinde fazia parte da comarca da Maia.

    Bibliografia

    Beraldo, W. (2016). Família (2) Beraldo pp 882.

    Duby, G., & Perrot, M. (1990). História das mulheres: a Idade Média. Porto: Afrantamento.

    Flórez, J. F., & Fuente, M. H. (1999). Collección documental del monasterio de Santa María de Otero (854-1108). León.

    Floriano, A. C. (1951). Diplomática española del período astur (718-910). Oviedo.

    Fuente, M. J. (2009). Reinas medievales en los reinos hispánicos. Madrid: La Esfera de los Libros.

    Lima, A. M. (2010-2011). Povoamento e Organização do Território do Baixo Douro na Época da Monarquia Asturiana. Portugália, Nova Série, pp. 83-114.

    Mattoso, J. (1992). História de Portugal (Vol. I). Lisboa: Círculo de Leitores.

    Mattoso, J. (2001). A Nobreza Medieval Portuguesa. Rio de Mouro: Círculo de Leitores.

    Mattoso, J. (2002). O Monaquismo Ibérico e Cluny. Rio de Mouro: Círculo de Leitores.

    Menéndez Pidal, R. (1982). Historia de España (Vol. Tomo IV). Madrid: Espasa Calpe.

    Mêrea, P. (2006). Estudos de História de Portugal. Lisboa: IN-CM.

    Miranda, A. H. (1963). Al. Bayaán al-Mugrib. Nuevos fragmentos almorávides y almohades. Valencia: Anubar Ediciones.

    Pernoud, R. (1978). O Mito da Idade Média. Lisboa: Europa-América.

    Piel, J., & Mattoso, J. (1980). Portugaliae Monumenta Historica. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.

    Sáez, E. (1947). Los ascendientes de San Rosendo, notas para el estudio de la monarquia astur-leonesa durante los siglos IX y X. Hispania, p. 40.

    Por: Carlos Marques

     

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