As rotundas
A Junta de Freguesia de Ermesinde desenvolve, já há alguns anos, pelo Natal, um programa de arranjos nas rotundas da cidade, levados a cabo por instituições locais.
O Centro Social de Ermesinde e a Associação Ermesinde Cidade Aberta têm-se associado a essa actividade.
A cidade de Ermesinde não foge a essa espécie de moda autárquica que é a construção de rotundas, fenómeno frequente em muitas das localidades do nosso País, aposta dos autarcas após a resolução das necessidades básicas das populações, como o saneamento, o abastecimento de água ou os equipamentos de uso colectivo.
Deve ter sido a existência de tantas rotundas em Portugal, acompanhada de grande sinistralidade na condução automóvel em tais espaços, que levou um dos últimos Governos a alterar o Código da Estrada, modificando o modo de condução nas rotundas.
Mas agora o Governo - este Governo que nos pastoreia! - resolveu presumir que os velhos não sabem conduzir às voltas nesses circuitos redondos.
E resolveu ensiná-los à força.
Diversos meios de comunicação social têm-nos dado conta de que o Governo está a preparar um projecto de lei que obriga as pessoas, a partir dos 65 anos, a frequentar acções de formação para poder renovar a carta de condução.
Percebe-se a ideia: são muitos os idosos existentes no nosso País, já pagam - creio que de 2 em 2 anos - as frequentes renovações da carta de condução, em obediência à prodigiosa imaginação dos governos para em cada dia descobrirem novas incidências e novas taxas.
Agora, ao pagamento dessas taxas, o Governo pretende acrescentar aos idosos um novo encargo, que é o da frequência das acções de formação obrigatória.
E, de caminho, lançar uma espécie de desconfiança quanto à capacidade dos velhos de conduzirem os seus automóveis.
Já devem estar em preparação os gabinetes de formação que vão encarregar-se da função; e aposto singelo contra dobrado que por trás desses gabinetes haverá ligações partidáriasdo bloco central.
(Ainda se lembram das acções de formação para técnicos de aeroportos da Região Centro do País - aeroportos que não havia, nem há?)
São muitas as discriminações que hoje têm como alvo os velhos: no acesso aos cuidados de saúde, postos no fim das prioridades de tratamentos mais caros, ou inovadores; no corte das pensões e no empobrecimento - ainda há dias o Ministro Vieira da Silva salientava que, no último ano, a taxa de pobreza no País tinha diminuído 0,5% (o que é uma boa notícia), mas que essa taxa, relativamente aos idosos, se mantinha nos valores de 2010 -; na menor consideração pelo exercício da cidadania pelas pessoas mais velhas, sistematicamente representados pela imprensa a jogar cartas num jardim, a isso reduzindo a respectiva representação social.
Já agora, porquê aos 65 anos, agora que nem é mais essa a idade da reforma?
Porque não aos 67 anos, que é hoje a idade a que os trabalhadores se podem reformar?
Está mal discriminar os velhos; mas, ao menos, apliquem também aqui o factor de sustentabilidade.
Henrique Rodrigues
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