SECÇÃO: Editorial

Um Oásis?

Escrevo este editorial quanto estão ainda pendentes os resultados das eleições presidenciais austríacas e do referendo constitucional italiano - embora as projecções já avancem como resultado a vitória do candidato ambientalista na Áustria e a derrota de Matteo Renzi no referendo.

A vitória de um candidato democrata, cosmopolita e civilizado para Presidente da República da Áustria representa simultaneamente a derrota do candidato da extrema-direita, xenófoba e racista, saído do mesmo caldo que fez eleger Hitler na década de 30 do século passado.

Trata-se de um bom sinal para a estabilidade da Europa a que pertencemos, assente nos valores da liberdade, da democracia e dos direitos humanos.

Embora muitas vezes infelizmente pareça assente também em valores menos respeitáveis, refém que se encontra dos interesses da especulação financeira e do grande capital, como tempos mais recentes nos vieram mostrar.

É esta realidade, que se tem traduzido numa maior concentração da riqueza, em benefício de uns poucos, mesmo durante o período da crise financeira e do empobrecimento geral que ainda atravessamos, que constitui o fermento dos movimentos populistas e, na essência, hostis ao modelo de democracia liberal em que felizmente vivemos e que vêm causando justa inquietação entre as democracias europeias.

O referendo britânico - o Brexit - respira o mesmo ar, o que se pode igualmente dizer de alguns Estados membros da União Europeia, em que forças políticas adversas aos valores humanistas e tolerantes que marcam a civilização moderna se encontram no exercício do poder.

A recente eleição presidencial nos Estados Unidos navega nas mesmas águas.

O Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, a propósito das comemorações do primeiro ano da geringonça, veio salientar que, no actual quadro de perturbação geral da Europa, Portugal é, em termos de governabilidade, um oásis de tranquilidade.

Esperemos que assim seja; e que o oásis não seja só uma miragem.

Portugal não é uma ilha.

Por: Henrique Rodrigues